Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática já está a funcionar em Lisboa
O Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS) está a funcionar desde agosto em Lisboa, ao fim de quatro anos de um processo de transferência e instalação que custou 1,5 milhões de euros, foi anunciado esta sexta-feira.
O CNANS estava instalado provisoriamente no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa e ocupa agora o armazém de uma antiga fábrica de tabaco em Xabregas, zona oriental de Lisboa, convertido em laboratório e espaço de acomodação de milhares de peças de arqueologia náutica e subaquática.
Numa visita desta sexta-feira às instalações do CNANS, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, reconheceu que a transferência deste centro de investigação, anunciada em 2017, foi "um processo longo, em várias etapas, que está agora concluído".
Em declarações aos jornalistas, Graça Fonseca explicou que a instalação do CNANS custou 1,5 milhões de euros, provenientes do orçamento do Direção-Geral do Património Cultural (DGPC). Sobre a demora na reabertura, a ministra invocou os constrangimentos da pandemia da covid-19.
A instalação definitiva do CNANS em Xabregas contou ainda com 995 mil euros, por via do mecanismo financeiro EEA Grants, que a ministra descreveu como "um reforço importante de capacitação e de formação de recursos humanos, de novos equipamentos adquiridos".
A equipa do CNANS passa de quatro para 10 técnicos superiores com contratos de trabalho, disse Graça Fonseca, respondendo a uma das reivindicações do setor, que alertou por diversas vezes para a escassez de arqueólogos contratados para este centro.
"Estamos no processo de recrutamento de mais pessoas para trabalhar aqui. Há vários processos em curso de emprego científico, de contratos de trabalho", disse.
Na visita aos novos espaços, o coordenador do CNANS, o conservador José António Gonçalves, explicou aos jornalistas que houve uma mudança de paradigma deste centro de investigação, afeto à DGPC, decorrente também da alteração da lei-quadro dos museus.
Mais do que incorporar peças no seu acervo, a premissa do CNANS é tratar, em laboratório, bens arqueológicos náuticos e subaquáticos, permitir a sua inventariação e estudo e depois devolvê-los aos locais de proveniência, em projetos museográficos.
"Atualmente, o edifício é 80% dedicado ao laboratório e cerca 20% aos serviços de administração. O objetivo é ir devolvendo as peças aos locais de origem, desde que haja museus com condições e com projetos que os queiram acolher nas suas exposições", afirmou o coordenador.
José António Gonçalves justificou ainda: "E há uma questão legal, que é estranha. Só os museus é que devem ter reservas. Faz parte da lei-quadro dos museus. Legalmente não podemos ter reserva, onde se incorporam as peças. Não estamos a incorporar".
No enorme armazém onde está agora o CNANS é possível ver dezenas de caixas, embalagens, estantes, tanques de várias dimensões, onde estão submersas peças arqueológicas, e diverso equipamento laboratorial e de conservação para tratar tudo o que chega ao centro.
O acervo do CNANS, criado em 1997 e que conta com cerca de 20 mil entradas de inventário, tem peças arqueológicas de pequena e grande dimensão, como fragmentos de cerâmica, espadas, canhões, destroços de embarcações.
É no CNANS que também estão submersas em água, peças recentemente classificadas como tesouro nacional, nomeadamente seis pirogas, recolhidas numa intervenção arqueológica subaquática realizada no rio Lima, em Viana do Castelo, e 10 canhões encontrados na Ponta do Altar, na embocadura do rio Arade, em Portimão.
Segundo o coordenador, as peças mais recentes que entraram no CNANS provêm de escavações arqueológicas feitas em Lisboa, por causa da construção da sede da EDP, e de destroços de uma embarcação, possivelmente um navio holandês do século XVII, encontrados este ano na lagoa de Melides (Grândola).
Além dos corredores com tanques e estantes, no CNANS estão também novos equipamentos como uma câmara de secagem, dentro de um contentor, uma liofilizadora e câmaras refrigeradoras, para conter a deteriorização dos achados.
Embora o CNANS esteja já a funcionar, está prevista uma inauguração formal, ainda este ano, com uma exposição temporária, aberta ao público, com duas pirogas já alvo de tratamento.
"Cada peça que estamos a tratar, uma vez finalizado o tratamento, e antes de encaminhar para o museu onde ficará exposta, ela ficará aqui exposta temporariamente para mostrarmos o trabalho que fazemos aqui. A ideia é abrir a casa a pessoas de fora", disse José António Gonçalves.