O exato dia em que Sophia perfaria 100 anos - 6 de novembro - terá no Teatro de São Carlos uma récita (única) da ópera Orfeo ed Euridice, de Christoph W. Gluck, em versão de concerto. Um mito grego, no ambiente da Grécia Clássica, para a poeta desde sempre fascinada pela Grécia Antiga..Foi por este mito que, por volta de 1600, a ópera começou, em Florença. Século e meio mais tarde, quando Gluck (1714-88) e o círculo de literatos no qual se movimentava em Viena, encabeçado por Ranieri de' Calzabigi, quiseram fazer renascer a ópera enquanto género dramático, foi por Orfeu e Eurídice que (re)começaram: a ópera estrear-se-ia em outubro de 1762 em Viena (versão italiana)..Ela própria licenciada em Filologia Clássica, Sophia tratou/evocou o mito em pelo menos nove poemas, sendo Eurídice protagonista em seis deles. A ligação Sophia-Orfeu-Gluck já fora explorada em 2014 pela Companhia Nacional de Bailado no espetáculo Orfeu e Eurídice, com coreografia de Olga Roriz e direção musical de Massimo Mazzeo, à frente do Divino Sospiro..No São Carlos, ouviremos a destacada mezzo croata Renata Pokupic cantar o herói e a soprano Eduarda Melo interpretar Eurídice. A direção musical caberá a Jane Glover (n. 1949). Especialista em ópera barroca e do período clássico, Glover foi apenas a terceira mulher (após Sarah Caldwell em 1976 e Simone Young em 1996) a dirigir uma ópera na centenária Metropolitan Opera House de Nova Iorque - no caso, A Flauta Mágica, de Mozart, em 2013. Temos assim um quadro 100% feminino, a "honrar" uma autora - Sophia - para a qual a condição feminina foi um tema central na obra e na intervenção..Abertura com Verdi.Mas a abertura da temporada lírica faz-se a partir de 10 de outubro com um dos mais famosos títulos verdianos: La Forza del Destino. História de amores contrariados ambientada na Espanha e na Itália do século XVIII, esta ópera estreou-se em São Petersburgo em 1862. No São Carlos, teremos uma produção vinda de Bona e de Cardiff, com Antonio Pirolli na direção e encenação de David Pountney, um dos maiores nomes da atualidade nesta área. Haverá cinco récitas em Lisboa e uma no Coliseu do Porto, a 26 de outubro, prosseguindo assim a colaboração entre as duas instituições iniciada há duas temporadas e que tenta colmatar o persistente facto de a cidade do Porto não dispor ainda de uma temporada regular própria de ópera..O regresso de Joly Braga Santos.Após 32 anos de ausência, volta a ouvir-se a Trilogia das Barcas de Joly Braga Santos (1924-88). Esta ópera em dois atos estreou-se na Fundação Gulbenkian em maio de 1970 e seria dada no São Carlos em 1979 e em 1988 (última vez que foi ouvida). Como se depreende do título, a história gira à volta das três peças de Gil Vicente que lidam com as "barcas" (do inferno, do purgatório e da glória)..Para este regresso, o São Carlos anuncia uma nova produção, com um elenco reunindo vários dos melhores cantores portugueses atuais, e o propósito de gravar a ópera para futura edição discográfica, em colaboração com o CESEM - Centro de Estudos de Sociologia e Estética da Música da Universidade Nova e do MPMP - Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa. Récitas a 3 e 5 de abril..Wagner e italianos.Nos restantes títulos, começamos por referir a recuperação da Bohème de Puccini, que neste ano foi "apagada" por via da greve dos trabalhadores do Opart (junho). Vê-la-emos enfim em maio, com direção de Andrea Sanguineti (n. 1983), maestro genovês que tem feito o essencial da sua carreira no espaço austro-germânico. Já a encenação mantém-se a produção globetrotter do francês Arnaud Bernard..Antes, em março, CCB (12 e 15) e Coliseu do Porto (21) acolhem uma versão "concerto encenado" (vinda da Opera North de Leeds) de A Valquíria, de Richard Wagner. O quarteto protagonista, com Ruxandra Donose, Ricarda Merbeth, Thomas Johannes Mayer e Christopher Ventris, deixa antever duas grandes noites wagnerianas! Britânicas são a direção e a encenação, a cargo, respetivamente, de Graeme Jenkins e de Peter Mumford..A abrir 2020, a Maria Stuarda, de Donizetti, numa produção vinda da Ópera de Roma e que terá nos principais papéis Alessandra Volpe, Ekaterina Bakanova e Leonardo Cortellazzi. Encenação de Andrea De Rosa..A temporada fecha com a boa disposição rossiniana, com Le Comte Ory, ópera que se estreou em Paris, em 1828. A nova produção que veremos em São Carlos a partir de 5 de junho (cinco récitas no total) é também motivo para o regresso após longa ausência do maestro Giuliano Carella ao teatro. A encenação é do britânico James Bonas..Concertos sinfónicos.A temporada do teatro abre a 22 de setembro, no CCB, com Joana Carneiro a dirigir a Sinfónica Portuguesa, e com a destacada violinista Esther Yoo como solista (toca o Concerto de Samuel Barber)..Seguem-se mais dez concertos, divididos entre CCB e São Carlos, de que se destaca um miniciclo dedicado a Gustav Mahler, com as sinfonias 9 e 4 (esta com o soprano Ana Quintans na sua estreia mahleriana) e A Canção da Terra, respetivamente em novembro (sinfonias) e maio. Referência ainda para O Messias de Händel pelo Natal e para o já habitual Concerto de Ano Novo no Teatro Joaquim Benite, em Almada.