Centenário com o Papa mas sem canonização
A data é redonda: 100 anos das aparições de Fátima. Uma celebração que vai contar com um peregrino especial: o Papa Francisco, que há mais de um ano vem referindo a sua vontade de visitar o Santuário por ocasião das celebrações do centenário. Esta chegou a ser a data apontada para a beatificação da irmã Lúcia ou a canonização de Francisco e Jacinta (beatos desde 2000), mas os processos formais ainda não estarão concluídos e só o Papa poderia declarar beata ou santos os pastorinhos, sem exigência de cumprir o processo oficial, e até ao momento não houve qualquer sinal de que Francisco o faça na sua viagem.
O Papa virá a 12 e 13 de maio, diretamente para Fátima, onde, apesar de presidir às celebrações, quer participar como peregrino. Aliás, foi assim que a viagem foi anunciada pelo próprio Vaticano, a 17 de dezembro: "Por ocasião do centenário das Aparições da Santa Virgem Maria na Cova da Iria, e aceitando o convite do Presidente da República e dos bispos portugueses, sua Santidade o Papa Francisco viajará em peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima de 12 a 13 de maior de 2017." Apesar dos convites para visitar Lisboa e fazer desta uma visita de Estado, Francisco vai manter a sua primeira visita a Portugal no âmbito da peregrinação. Como tem vindo a referir há cerca de um ano e meio.
Também por isso, o teólogo e biblista Fernando Ventura não acredita que Bergoglio anuncie a canonização ou a beatificação dos pastorinhos durante as celebrações. "Ele poderá sempre fazê-lo porque é o Papa, mas falar disso agora seria especular." Certo é que para já "não parece estar nada previsto e não é um acontecimento fundamental para as celebrações do centenário", acrescenta o frei. Segundo Fernando Ventura, o processo "foi falado para 2017 só por cá, porque no Vaticano não se ouviu falar de datas. Acredito que o processo formal ainda não está concluído".
Assim, Fátima vai receber em maio o Papa na data religiosa que marca os 100 anos da primeira aparição da santa aos três pastorinhos, em 1917. O programa completo da visita será divulgado apenas em março, dois meses antes.
Uma visita que será acompanhada por toda a Igreja portuguesa. O patriarca, D. Manuel Clemente, que tinha convidado Francisco a visitar Portugal, explica que o Papa apenas quis ir a Fátima "para evidenciar o carácter espiritual e mariano da sua e nossa peregrinação nessa altura". "O Papa gosta de nós, como gosta de todos, mas desta vez é só a Fátima que deseja ir, como felizmente virá. Iremos nós lá também com ele", garante o cardeal-patriarca.
Até porque Fátima, reconhece D. Manuel Clemente, "é o símbolo religioso mais forte de Portugal", na linha de uma "prevalência mariana da religiosidade portuguesa" que "vem de longe". E que teve o seu expoente máximo com as aparições de Fátima, em 1917. Desde então, "Fátima atraiu-nos crescentemente, não anulando outros santuários mas polarizando grandes e pequenas peregrinações, de pessoas e grupos, de vidas e esperanças", aponta o patriarca de Lisboa.
"Em Portugal, como noutras partes do mundo cristão, levamos muito a sério a indicação de Cristo, quando na Cruz e indicando Maria, sua mãe, disse ao discípulo que nos representava a todos: "Eis aí a tua mãe!"" Uma devoção que leva milhares de pessoas todos os anos em maio a Fátima, que no próximo ano estará completamente lotada.
A expectativa é tanta que já não há oferta hoteleira disponível na cidade e na região para acolher quem quer participar nas celebrações do Santuário. Nesses dois dias, as atenções vão concentrar-se no Santuário, ainda para mais com um peregrino tão especial como Francisco, que "irá presidir às celebrações dos dias 12 e 13 na medida em que vem a Fátima justamente para a primeira Peregrinação Internacional Aniversária do ano do Centenário e que assinala a primeira aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos", explica o gabinete de comunicação do Santuário de Fátima.