Cem anos de digressões de teatro entre Portugal e América Latina

"Estas viagens, que demoravam muitos dias, muitas vezes em condições difíceis, transformaram o oceano Atlântico numa espécie de grande palco"
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A exposição "Um palco sobre o Atlântico", a inaugurar na quinta-feira, na Casa da América Latina, em Lisboa, traça cerca de um século de digressões de companhias portuguesas de teatro à América do Sul, tornando o oceano Atlântico "numa espécie de grande palco".

"Durante quase um século, entre 1860 a 1950, a vida teatral portuguesa assistiu a um permanente vai e vem entre Portugal e o Brasil, que envolveu, praticamente, todos os nossos maiores atores e as mais importantes companhias portuguesas de teatro", realçou à Lusa José Carlos Alvarez, diretor do Museu Nacional de Teatro e da Dança, que comissaria a mostra.

Além do Brasil, realçou Alvarez, algumas companhias atuaram também nos palcos da Argentina e do Uruguai. Esta exposição documental e iconográfica pretende "evocar esta história tão singular, que caracterizou a vida cultural e teatral portuguesa e que consolidou, talvez como nunca antes, as relações culturais e artísticas entre Portugal e o Brasil", disse.

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"Estas viagens de ida e volta, que demoravam muitos dias e que eram feitas sempre de barco e, muitas vezes, em condições difíceis, transformaram o oceano Atlântico, do ponto de vista simbólico, numa espécie de grande palco", salientou o responsável.

A presença teatral portuguesa, "tanto nos palcos do Brasil, como nos da Argentina ou do Uruguai, foi, durante todos aqueles anos, uma quase constante, o que levou a que uma parte, às vezes bem significativa, das suas carreiras artísticas e das próprias vidas, se passasse dentro dos grandes transatlânticos, que nesses anos cruzavam aquele imenso oceano".

"Se, por mera hipótese académica, um dos grandes barcos tivesse um grave acidente, coisa que, felizmente, nunca veio a acontecer, Portugal arriscava-se a perder, de uma só vez, uma parte substancial dos seus criadores teatrais", referiu José Alvarez.

A título de exemplo, Alvarez recorda Emília das Neves (1820-1883), a maior atriz portuguesa do século XIX, a propósito de uma das suas digressões ao Brasil, em 1866, que foi alvo de grande admiração do escritor brasileiro Machado de Assis, então na pele de crítico teatral.

O responsável recorda ainda Palmira Bastos (1875-1967), que se "deslocou inúmeras vezes ao Brasil, entre o final do século XIX e toda a primeira metade do século XX", atingiu nesse país "uma popularidade sem paralelo e onde lhe prestam inúmeras homenagens".

A exposição, patente até 1 de abril, inclui fotografias, recortes de jornais e outros documentos como programas de espetáculos e textos com anotações de teatro.

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