Celebrar Doisneau com carinho familiar
Ter um avô do tamanho do mundo e filmar as suas memórias. Memórias que são imagens que marcaram a História da fotografia. Clementine Deroudille, a neta de Robert Doisneau, o fotógrafo francês celebrizado com a famosa fotografia do beijo, lançou a si própria esse desafio. O filme chama-se Robert Doisneau- O Rebelde do Maravilhoso e é exibido hoje no Ideal ao abrigo do ciclo da Casa da Imprensa sobre fotógrafos, estando prevista a sua edição em DVD já na próxima quinta-feira.
"Há aqui um lado muito pessoal, o meu, na forma de contar a história de Robert Doisneau. Foi preciso muito tempo e uma certa distância para conseguir filmar isto! E tive a maturidade suficiente para tratar o tema do meu avô como se fosse um outro tema qualquer. Quando fui ver os arquivos, por muita subjetividade que carregava, não deixei de descobrir coisas. O trabalho que fiz de pesquisa de arquivos foi enorme, nem dá para imaginar", conta-nos esta mulher que vive do jornalismo e da organização de exposições.
Robert Doisneau- O Rebelde do Maravilhoso tem uma condescendência explícita com as formas e os formatos do documentário televisivo mas é ao mesmo tempo uma biografia no lugar da descendentes. Temos imagens inéditas, fotografias nunca dantes mostradas e muitas entrevistas aos seus cúmplices, com particular destaque aos momentos com a atriz Sabine Azéma e as filhas do fotógrafo.
Clementine diz-nos muito sorridente que teria sido um ato de egoísmo extremo não ter partilhado as memórias do avô: " para mim, é mesmo um caso de partilha. Ele passou toda a vida a partilhar. Este homem amava a fotografia para poder partilhar com os demais a sua felicidade. Não estou a dizer com isso que era sempre uma pessoa feliz, mas tentou essencialmente partilhar a felicidade de estar vivo. Fiz este filme para transmitir isso mesmo".
Em França, Robert Doisneau- O Rebelde do Maravilhoso é intercalado também pela animação de Emmanuel Gibert, descrito pela realizadora como um Robert Doisneau dos desenhos animados. Esses pequenos momentos de animação sublinham um tom "inocente" de todo o projeto, que em França nunca chegou às salas comerciais. Para a realizadora estreante, esta imersão na arte do avô foi também um regresso às suas origens de estudiosa da arte fotográfica, embora nunca tenha querido ser fotógrafa: "a minha relação com a fotografia é meramente de distância. Amo olhar para uma fotografia e adoro colecionar".
Depois de todo este procura pelo trabalho do avô, ficou também a conhecer melhor o ser humano: "percebi ainda melhor que o meu avô era um homem magnífico, genial! A minha surpresa foi perceber até que ponto era um sedutor. Descobri ainda a sua faceta de homem fiel. Foi fiel a tudo e a todos!". Doisneau, imortalizado pela fotografia Le Baiser de l'hôtel de Ville, onde captou um beijo de um casal em frente à câmara municipal de Paris, foi considerado um dos grandes pioneiros do fotojornalismo, embora também seja visto como um pai da fotografia humanista.
"O que é de doidos é que todos o consideram um grandes fotógrafos do século XX mas até hoje nunca foi alvo de uma grande exposição aqui em França num museu nacional. Dá para acreditar?", deixa no ar a realizadora.
Exibição: hoje no Cinema Ideal, 15h45 e 19h15.
Quinta-feira em DVD.