Caso Selminho, habitação e mobilidade marcam debate autárquico

Autarca e recandidato Rui Moreira (Independente), Tiago Ribeiro (PS), Vladimiro Feliz (PSD), Ilda Figueiredo (CDU), Sérgio Aires (Bloco de Esquerda), Bebiana Cunha (PAN) e António Fonseca (Chega) debatem Porto
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Caso Selminho, habitação e mobilidade. Foram estes os temas dominantes do debate autárquico entre o recandidato Rui Moreira (Independente), Tiago Ribeiro (PS), Vladimiro Feliz (PSD), Ilda Figueiredo (CDU), Sérgio Aires (Bloco de Esquerda), Bebiana Cunha (PAN) e António Fonseca (Chega) esta sexta-feira na SIC e na SIC Notícias.

Curiosamente, o Caso Selminho uniu os candidatos numa ideia: à política o que é da política e à justiça o que é da justiça.

"Defendo separação de poderes e presunção de inocência. Questões judiciais devem ser tratados em sede própria e não devem ser trazidos para aqui", afirmou Tiago Ribeiro.

"Sempre disse que não traria o Caso Selminho para a esfera pública, mas estou a ser questionado. Rui Moreira defendeu-se na Câmara do Porto e isso torna o caso político", prosseguiu Vladimiro Feliz, que nos últimos meses pediu a demissão de Rui Moreira, que por seu lado voltou a frisar que a sua família ficou a perder e não a ganhar, lamentando a lentidão da decisão judicial.

"Caso Selminho foi suscitado pela CDU porque considerámos incorreta a forma como Rui Moreira agiu num caso que envolvia a sua família. Entregámos o caso ao Ministério Público e a justiça para decidirem. Estamos a aguardar a decisão do julgamento, não somos nós que vamos julgar o que cabe ao tribunal julgar", sublinhou Ilda Figueiredo.

"Achamos que a posição que foi tomada não preservou o interesse público, Rui Moreira agiu mal. A decisão está entregue à justiça e não vai servir de arma de arremesso na campanha eleitoral. Eu não me teria candidatado", considerou Sérgio Aires.

"Posição do PAN é que a decisão pertence ao poder judicial, mas este caso trouxe nuvem negra sobre a gestão municipal", observou Bebiana Cunha.

Já António Fonseca passou ao lado do caso e revelou porque rompeu a ligação com Rui Moreira: "Já fui apoiado pelo PSD e pelo PS. Houve um caso concreto que me levou a desligar de Rui Moreira, que foi o desligar das juntas de freguesia por parte de Rui Moreira."

O Porto perdeu população nos últimos dez anos. Rui Moreira considerou que isso aconteceu devido muitas variantes e que essa perda tem sido estancada nos anos mais recentes, mas a oposição considera que a principal causa é a falta de habitação a preços acessíveis.

"As famílias mudam-se para as cidades por questões familiares, emprego ou para procurar boas escolas. Há muitas variantes. 13% da população do Porto vive em habitação social, é de longe a melhor autarquia do país nesse aspeto. Queremos entregar mais três mil casas, segundo as carências que existem. Estado não tem tido disponibilidade para distribuir dinheiro, mas agora vai haver recursos. Temos feitos investimentos que nem o Governo acompanha", começou por argumentar o autarca.

Já Tiago Ribeiro criticou a "grande inação da Câmara Municipal do Porto". "A minha prioridade número 1, número e número 3 é a habitação para a classe média. O que vemos no Porto são preços incomportáveis. Entre 2016 e 2021 os preços aumentaram 105% no Porto. São aumentos superiores à restante Área Metropolitana do Porto e a Lisboa. Quero criar programa de arrendamento acessível. Freguesia onde o preço mais subiu foi em Cedofeita, que é onde há mais alojamento local e onde se perdeu mais habitação", defendeu o socialista.

"A lei Cristas, do arrendamento urbano, foi usada no Porto de forma brutal e correu com as pessoas de todas as maneiras. É necessário regular o turismo e o alojamento local, mas sobretudo construir e recuperar 3000 habitações e preparar mais 3000", esgrimiu Ilda Figueiredo.

"Não temos 13% de habitação pública na cidade, temos 9%. Não conseguimos fixar população porque as pessoas não conseguem ter casa no Porto, estamos a expulsar pessoas. Ou queremos transformar Porto numa Disneyland ou atuar de maneira completamente diferente. Queremos 5000 habitações públicas. Não somos contra o turismo, queremos é um turismo saudável", reforçou Sérgio Aires, que quer ver o Bloco de Esquerda a eleger um vereador para "reforçar a democracia na Câmara Municipal" e nem quer ouvir falar em maioria absoluta de Rui Moreira.

Bebiana Cunha lamentou que Rui Moreira se foi "afastando cada vez mais do programa que trouxe em 2013", enquanto Vladimiro Feliz apontou a outras soluções: "Temos de ser mais competitivos na educação. Comprometo-me a abrir mais uma creche em cada freguesia da cidade." Por seu lado, António Fonseca criticou a falta de oposição ao edil portuense durante os quatro anos de mandato.

Relativamente à mobilidade, a Via de Cintura Interna (VCI) esteve no centro do debate. Rui Moreira disse que uma solução para aliviar o trânsito na via é retirar algumas portagens à circular externa, algo que não aconteceu devido a um recuo de Matosinhos, e rejeitou a ideia de introduzir portagens na VCI.

"A VCI não é da Câmara Municipal do Porto. Foi feito um estudo e chegou-se à conclusão que algumas portagens em autoestradas do Norte, nomeadamente a da circular externa, contribuíram para intensificar o trânsito na VCI. Solução não é portajar a VCI. Nunca falei nisso", frisou o autarca.

Já Tiago Ribeiro pediu que Rui Moreira reinvidique a gestão da Via de Cintura Interna para o Porto. "A VCI também tem de ter intervenção do município", acrescentou Vladimiro Feliz.

Os candidatos apelaram ainda à melhoria da rede de transportes no centro da cidade. "Precisamos de fazer uma aposta muito grande para retirar os veículos da cidade. Precisamos de linhas eficientes de transporte público. Alargamento do metro na cidade não resolve tudo. Temos de ter um conceito de intermodalidade", defendeu Bebiana Cunha, que quer que os munícipes sejam ouvidos nas decisões e apelou a uma gestão mais transparente.

"Transportes públicos gratuitos iriam diminuir a poluição. Porque é que a linha do metro que está a ser feita agora até à Boavista não passa por Lordelo e Massarelos até à Foz? Linha de Leixões deve continuar a funcionar", frisou Ilda Figueiredo, que quer que as "pessoas cheguem a espaços culturais e desportivos em dez minutos".

Já António Fonseca quer fazer um teste: "Queremos transportes gratuitos com intervalos curtos a toda a população durante um período experimental de seis meses para perceber qual seria a adesão."

Sérgio Aires salientou que é necessário "pensar na qualidade do ar". "Queremos que esta cidade tenha menos automóveis. Reduzir velocidade no centro da cidade para 30 km/h é uma prioridade, mas é necessária alguma pedagogia", opinou. "É importante que o Porto tenha um plano de ação climática", aditou Tiago Ribeiro.

"Temos 275 medidas, algumas delas para a mobilidade. Os pinos não existiam com Rui Rio e estacionamentos pioraram com Rui Moreira. A VCI também tem de ter intervenção do município. Porto não pode acabar com carros por decreto, quero uma rede que satisfaça as minhas expectativas para abdicar do carro", rematou Vladimiro Feliz, que se comprometeu a "a devolver 2,5% do IRS aos portuenses".

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