Casas comunitárias atenuam pobreza e solidão dos idosos

O concelho de Vila Flor, no Nordeste Transmontano, conseguiu minorar o problema da solidão dos idosos com a construção de casas comunitárias nas aldeias e garantir algo que muitos nunca conseguiram alcançar com uma vida dura de trabalho.
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Uma habitação com conforto foi uma realidade que alguns dos inquilinos só experimentaram depois dos 70 anos nestas casas comunitárias, símbolo do Projeto de Luta Contra a Pobreza "Vila Flor Solidária".

O projeto terminou há 13 anos, mas ficaram cinco casas comunitárias, uma na sede de concelho e quatro em outras tantas aldeias, que são na verdade vários lares dentro de um edifício, erguidos a partir da reconstrução de antigos palheiros e habitações em ruínas.

Em quase todas permanecem ainda os primeiros inquilinos, como é o caso de Isabel Roio, hoje com 89 anos, e que só aos 76, "depois de uma vida escrava", soube o que era uma verdadeira casa.

Viveu sempre em Seixo de Manhoses "numa barraquinha", com "tudo a cair", onde "entrava o frio por todos os buracos".

Agora "pode chover, pode fazer vento, pode fazer o que quiser" que não sente nada na habitação em que vive há 13 anos, na Casa Comunitária de Seixo de Manhoses.

A idade já lhe dificulta os movimentos, mas antes se quer aqui "do que no lar".

"Faço o que quero, vou para onde quero. Morro mais depressa se me metem num lar", contou à Lusa, no pátio exterior comum aos restantes vizinhos.

Maria Augusta, 67 anos, vive por cima com uma filha e duas netas e, depois de o marido morrer, não conseguia pagar a renda da casa antiga. Agora paga "vinte euros e pouco por mês" e realça "a grande ajuda" que tem sido este projeto.

Se não fosse a Casa Comunitária de Vila Flor, João Pereira "não tinha onde viver". Foi um dos estreantes e continua a pagar uma renda de cinco euros por um espaço que lhe permitiu também dar a mão e abrigo ao irmão António, de 62 anos, desempregado.

"Se não fosse isto, já talvez tivesse morrido", desabafou João, que está feliz com a casa, mas angustiado com a "falta de saúde".

A Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor (SCMVF) é responsável por três destas casas, as de Vila Flor, Vilas Boas e Vale Frechoso. As outras duas, em Seixo de Manhoses e Santa Comba da Vilariça, foram entregues às juntas de freguesia.

As Casas Comunitárias são também uma resposta social para a principal entidade de solidariedade social do concelho, como disse à Lusa Mónica Fernandes, da SCMVF.

Foram concebidas a pensar, sobretudo, nos idosos, mas sempre acolheram também outras famílias, como jovens casais com fracos rendimentos ou situações de emergência social.

Hermínia Morais é técnica da ação social da Câmara de Vila Flor e acompanha, desde a primeira hora, o projeto que quis criar uma resposta diferente dos habituais bairros sociais, preocupado com o fortalecimento das relações de vizinhança e proximidade entre as pessoas.

Para o presidente da Câmara, Artur Pimentel, estas casas "preenchem uma lacuna que continua a existir em todos os concelhos do interior e no mundo rural, que é a solidão, é o isolamento de muita gente., sobretudo pessoas de mais idade".

O autarca não deixa de recordar, no entanto "a relutância que houve, na altura, por parte dos responsáveis nacionais do Projeto de Luta Contra a Pobreza" em relação a este modelo, em que forma investidos metade dos cerca de 500 mil euros destinados ao concelho transmontano.

"Não fomos muito compreendidos em relação a estas ações em que, gastando-se pouco dinheiro, ficaram para o futuro. O tempo veio-me dar razão e eu não sei o que é que ficou de todos esses projetos de luta contra a pobreza espalhados pelo país, sei aquilo que ficou de bom, efetivamente, aqui no concelho de Vila Flor" disse.

Bom para o presidente da junta de freguesia de Seixo de Manhoses, Constantino Olmo, era replicar estas casas, agora a pensar mais "nos casais jovens que não têm casa nem trabalho e estão muito carenciados".

A freguesia ainda é das maiores da região, com cerca de 500 habitantes, mas não tem emprego e a poucas jeiras na agricultura resumem-se a "15 dias de azeitona".

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