"Carris vai receber cem autocarros até ao final deste ano"

Entrevista a Tiago Farias, presidente do Conselho de Administração da Carris
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Mais autocarros, elétricos e funcionários. Um ano depois de a gestão da Carris passar para a Câmara Municipal de Lisboa, a empresa anuncia novos investimentos e garante que vai reforçar as linhas de bairro. Estas apostas não vão comprometer a sustentabilidade da empresa de transportes, garante o presidente do conselho de administração, Tiago Farias, em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo e à TSF.

O que mudou nestes 12 meses?

Já mudou muito e contamos vir a mudar bastante mais nos próximos três anos. A empresa, que passou para o município em 1 de fevereiro de 2017, tinha vivido um período de cinco anos de grande desinvestimento: houve uma redução muito apreciável da frota - foram cortados cerca de cem autocarros; perdeu mais de 600 colaboradores - a grande maioria motoristas e guarda-freios, mas também quadros técnicos; e houve um aumento muito acentuado do tarifário. Isto levou a uma redução muito grande do serviço. Perdeu-se 25% das linhas e houve uma transferência de passageiros que utilizavam transporte público na cidade de Lisboa para o transporte individual. Em 2017, lançámos os concursos para a compra de mais de 200 autocarros, numa frota de 600.

Os 200 autocarros serão para adicionar à frota ou para substituir veículos antigos?

Nesta fase, a maioria será para substituir veículos antigos - desde 2010 não havia qualquer compra de autocarros. Grande parte da nova frota que estamos a comprar é a gás natural, por causa de problemas ambientais. Também estamos a prepararmo-nos para, ainda este trimestre, lançar um concurso para a compra de veículos totalmente elétricos. Em 2017, entraram mais de 120 colaboradores, dos quais cem são motoristas e guarda-freios.

A comissão de utentes afirmou que não há "mudanças visíveis" na Carris. As alterações ainda não tiveram reflexo prático?

Já tiveram e são alterações pequenas, progressivas, e que se notam todos os meses. Na linha 28, por exemplo, reforçámos com autocarros a oferta de elétricos. Houve uma tentativa, com sucesso, de repor aquilo que estava em falha e reforçámos a nossa rede.

A Carris é gerida sem o peso da dívida. Em 2016, a dívida ultrapassava os 600 milhões de euros. Não ter de se preocupar com o serviço da dívida não é um desincentivo à gestão da empresa?

É o contrário. É uma preocupação acrescida, de garantir que a nova gestão, ao abrigo do contrato de concessão com o município, não nos leve a que haja de novo dívida acumulada.

A empresa já está a endividar-se para fazer face aos investimentos dos próximos anos. A compra de autocarros implica financiamento.

Implica, sim, mas esse financiamento é de curto/médio prazo e que, em casos pontuais, será necessário para renovação de frota e de elétricos. Isto será compensado com outros anos, em que, fruto de maiores amortizações nas nossas contas, poderemos recuperar esse investimento.

O Banco Europeu de Investimento (BEI) vai ter uma linha dedicada ao financiamento da mobilidade elétrica nos transportes públicos. A Carris vai aproveitar?

Pretendemos, de forma progressiva, ter a nossa frota com zero emissões. A mobilidade elétrica é incontornável. Ainda este trimestre vamos lançar o concurso para comprar 15 autocarros standard (52 lugares) 100% elétricos e queremos revitalizar os elétricos.

Quando é que os cem novos autocarros e os 15 autocarros elétricos vão começar a circular?

A compra de autocarros é feita de forma a que as suas entregas sejam faseadas. Prevemos que comecem a chegar autocarros no segundo semestre e que, até ao fim deste ano, a Carris receba cem autocarros novos, alguns articulados, a gás natural, standard e outros mais pequenos (linhas de bairro). Os autocarros elétricos devem chegar no primeiro trimestre de 2019.

Qual a percentagem de viagens sem bilhete detetadas pela fiscalização?

A fraude detetada no terreno ronda os 5% mas, muitas vezes, não traduz a realidade.

Tem havido reforço da fiscalização?

Vamos aumentar em 50% as equipas que estão no terreno, numa ótica pedagógica e de fiscalização. Este reforço vai ter início no final do mês de fevereiro.

A Carris perdeu mais de 600 pessoas no período da troika. Agora, está de novo a recrutar e conta que em 2021 volte aos números de 2011. Não é um caminho perigoso, que pode trazer dificuldades financeiras à Carris no futuro?

Não é perigoso; é um desafio. A Carris tem de voltar a ser capaz de oferecer à cidade de Lisboa o que merece e aquilo de que necessita. Teremos de ter cuidado na forma de construir o projeto para que a sua sustentabilidade não seja posta em risco.

É possível ter um serviço de transporte público que responda às necessidades da cidade e tenha resultados positivos? Concorda que os sistemas de transporte público são, por natureza, deficitários?

Tenho de concordar, porque não conheço nenhum sistema de transporte público no mundo ocidental que faça serviço público e consiga cobrir todos os seus custos com receitas operacionais dos bilhetes. Se o contrato de concessão for bem feito, em princípio não há um desequilíbrio das contas, porque as receitas serão a soma da receita dos bilhetes com a compensação pela obrigação de serviço público.

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