Carpintarias de São Lázaro, centro criativo em construção
O lugar pode ser desolador. Cinzento, cor de betão, nenhum conforto e obras por concluir. Mas vai abrir assim mesmo, explica Alda Galsterer, curadora e membro da direção da Associação Cultural Carpintarias de São Lázaro, que em 2014 venceu o concurso público internacional da Câmara Municipal de Lisboa para ficar com este espaço, colado ao Martim Moniz, em Lisboa.
As Carpintarias de São Lázaro deviam ter aberto as portas no final do ano passado, mas atrasos nas obras fizeram derrapar a inauguração para hoje, às 17.00. O aspeto de obra tem agora aspeto de cenário, com tudo pronto a receber a instalação de Los Carpinteros, no âmbito da programação de Lisboa Capital Ibero-Americana da Cultura. Parecia impossível há uma semana.
"Tudo é possível", garantia Verónica de Mello, curadora da exposição. E não podiam adiar. "Os artistas são muito requisitados e só estavam disponíveis agora", explica Verónica de Mello. "É a primeira vez que expõem numa carpintaria", conta a curadora, arquiteta antes de criar a Rede Arte Agency e o ProjectoMap (uma base de dados de artistas contemporâneos) em parceria com Alda Galsterer.
A consultora de arte traz à conversa a referência obrigatória da personagem bíblica que foi ressuscitada por Jesus, dado simbólico a reter num lugar que volta à vida após anos de abandono. Verónica de Mello toma a palavra para explicar que era já, em meados do século XX, uma carpintaria comunitária onde as pessoas iam fazer os seus trabalhos. Porque a outra coisa a saber sobre o que se vai passar no número 72 da rua de São Lázaro é que as Carpintarias são plural, como plural é o que se pretende que aqui se passe.
"É um centro de criação e pensamento contemporâneos", detalha Alda Galsterer ao DN, mostrando o espaço, num exercício de imaginação. Com espaço para teatro, dança, música, arte contemporânea, debates. Palcos, camarins, salas de ensaio e estúdios são mero exercício de imaginação para já. Mas estão previstos e contratualizados com a Câmara Municipal de Lisboa.
"Vamos ter um terraço com vista sobre a Graça", acrescenta. Por aí há de aparecer um local para a gastronomia, "enquanto disciplina de criação artística", como explica Fernando Belo, outro membro da direção das Carpintarias, tomando as rédeas da visita. O projeto de reabilitação é de Ricardo Areias.
As Carpintarias têm pouco mais de 1600 metros quadrados, repartidos por três pisos. "Este é um espaço de criação e acolhimento, com uma lógica de parcerias, dentro de uma linha de programação", precisa a mesma fonte. "Queremos acolher o debate e a discussão e, em terceiro lugar, fazer intervenção social, o que tem de ver com a multiculturalidade da zona", completa.
Alda Galsterer, historiadora de arte, conta que os agentes envolvidos na associação - recreativa e cultural, segundo os estatutos - nasceu de propósito para se candidatar à gestão deste lugar. Vêm de áreas tão diferentes como "a hotelaria, o turismo, as artes plásticas, o teatro, a música". A Carpintarias de São Lázaro, vive de fundos privados, garante Alda Galsterer ao DN. "Sai das nossas contas bancárias", afirma. Da direção fazem ainda parte Marcos Barbosa, Jaime Domingues e Manuel Fúria.
"Somos um centro de inclusão e de não exclusão", diz Alda Galsterer. O objetivo também é ver nascer um centro cultural, num lugar, a colina de Santana - entre o Campo Mártires da Pátria e o Martim Moniz - que "não tem um centro de arte contemporânea".
Verónica de Mello explica que querem ter exposições "que permitam vários níveis de leitura, para um público alargado". E, no caso das artes plásticas, que sejam sempre de entrada gratuita, como acontecerá com a instalação concebida por Los Carpinteros, patente até 1 de maio. Depois da dupla cubana, as Carpintarias acolhem outro artista oriundo da América Latina, o chileno Alfredo Jaar, também no âmbito de Lisboa Capital Ibero-Americana da Cultura. Ficará de 20 de maio até 10 de setembro. E, nessa altura, haverá mais uma inauguração.