Carlos Moedas "muito contente por passar testemunho" a Elisa Ferreira. Mas PCP está insatisfeito
Em declarações à agência Lusa, o atual comissário com a pasta da Investigação, Ciência e Inovação afirmou ter ficado particularmente agradado por o primeiro-ministro, António Costa, ter escolhido Elisa Ferreira, que "foi sempre uma mulher de criar pontes e conseguir consensos", aspeto importante nas funções que desempenhará nos próximos cinco anos no executivo comunitário liderado pela alemã Ursula von der Leyen.
Lembrando que sempre contou com o "apoio incondicional" de Elisa Ferreira desde que se cruzaram pela primeira vez no Parlamento Europeu, em 2014, numa altura em que ainda era comissário nomeado para a 'Comissão Juncker' - designado pelo governo PSD/CDS-PP -, Carlos Moedas salientou o facto de a antiga eurodeputada socialista ser "respeitada em Bruxelas por todos, à esquerda e à direita", o que, apontou, "é um ativo importante" para o cargo que vai exercer, no qual terá de "fazer essas pontes entre a esquerda e a direita".
"Portanto, é uma escolha que a mim me deixa muito descansado e, por outro lado, também muito contente por passar o testemunho a alguém como a Elisa Ferreira. Acho que é uma boa escolha, e portanto fico muito contente com esta passagem de testemunho", resumiu.
Sobre a pasta que poderá ser atribuída à comissária de Portugal no futuro executivo, que deverá entrar em funções em 1 de novembro, Carlos Moedas não se quis alongar, dado não querer entrar numa área que é da competência da nova presidente do executivo comunitário, Ursula von der Leyen, mas não deixou de destacar a "experiência extraordinária" de Elisa Ferreira "em tudo o que é área financeira e económica", tanto na assembleia europeia como, posteriormente, no Banco de Portugal.
Considerando por isso que Elisa Ferreira está "muito bem talhada" para assumir uma pasta de natureza económica e financeira, "que se encaixa na perfeição" no seu perfil, Carlos Moedas notou, todavia, que a antiga deputada europeia "também pode fazer muitas outras pastas", até porque o cargo de comissário é essencialmente político.
Saudando também o facto de Elisa Ferreira se tornar a primeira mulher portuguesa nomeada para o colégio da Comissão Europeia, por ser "muito importante uma maior paridade" entre homens e mulheres, o atual comissário sublinhou todavia que, mais do que o género, interessa efetivamente "a competência", e insistiu que as qualidades da sua sucessora não deixam dúvidas.
As reações à escolha de Elisa Ferreira para suceder a Carlos Moedas vão chegando, com o cabeça de lista do PSD às eleições europeias a ser um dos primeiros a saudar a escolha da ex-ministra socialista como comissária europeia. Paulo Rangel considera-a uma pessoa experiente e competente.
"Saúdo a escolha de Elisa Ferreira para comissária. Experiente, competente e com rede europeia. Também por ser a primeira mulher portuguesa", disse, numa mensagem na rede social Twitter.
Nem o líder do partido não ficou de fora das felicitações. Rui Rio elogiou a escolha de Elisa Ferreira para o cargo. Diz que "é uma boa escolha como poderia ter sido uma boa escolha muitas outras personalidades portuguesas". Acrescenta que a comissária, que irá integrar o executivo liderado pela alemã Ursula von der Leyen, tem "conhecimento suficiente para desempenhar bem o lugar" e "em diversas pastas". "Esperemos que lhe seja atribuída uma pasta importante para Portugal", sublinhou esta terça-feira, em declarações aos jornalistas, na sede do Porto do PSD, onde apresentou propostas para reformar o sistema político.
Também Maria da Graça Carvalho, deputada do Parlamento Europeu, se mostrou contente com a escolha de António Costa. Na sua conta de Twitter, parabenizou e felicitou Elisa Ferreira, que considera ter um "profundo conhecimento dos assuntos e do modo de funcionar das instituições europeias". Competências que farão de si "uma excelente Comissária", escreve.
A eurodeputada do Bloco de Esquerda (BE), Marisa Matias, disse esperar que Elisa Ferreira, enquanto comissária europeia, seja uma voz forte contra a política de destruição dos serviços públicos e do mercado de trabalho.
"Espero que Elisa Ferreira seja uma voz forte contra a política europeia de destruição dos serviços públicos e desregulação do mercado de trabalho que tem vigorado na Europa. Obviamente, sei que será uma tarefa difícil sobretudo tendo em conta aquele que foi o apoio explicito do PS à presidente da Comissão Úrsula von der Leyen e que tem uma política diferente", declarou Marisa Matias à agência Lusa.
A eurodeputada bloquista recordou que trabalhou com Elisa Ferreira alguns anos no Parlamento Europeu, na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários. "Nós convergimos muitas vezes na crítica à política económica monetária europeia, convergimos muitas vezes na crítica à austeridade, com exceção do pacote da governação económica em que não estivemos do mesmo lado. (...) Sinceramente, espero que Elisa Ferreira possa ser essa voz forte que precisamos", disse.
A nova comissária europeia parece ter convencido todos, quer à esquerda que à direita. Quase todos. Contrariamente à maioria, o Partido Comunista Português (PCP) não se mostrou satisfeito com a escolha de Elisa Ferreira para o cargo.
Em entrevista à TSF, o eurodeputado João Ferreira frisa que é preciso não esquecer as políticas que a comissária segue, que se têm demonstrado prejudiciais para o país.
"Ao longo destes últimos anos em que Elisa Ferreira esteve no Parlamento Europeu, aquilo que sempre se verificou foi uma convergência com os setores da social-democracia e com a direita europeia", criticou.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou pessoalmente Elisa Ferreira pela sua indicação pelo Governo português para integrar a Comissão Europeia.
"O Presidente da República felicitou pessoalmente a Professora Doutora Elisa Ferreira, pela sua designação pelo Governo português como Membro da Comissão Europeia para o mandato 2019-2024", lê-se numa mensagem divulgada na página da internet do Palácio de Belém.
O antigo presidente da Comissão Europeia Durão Barroso desejou os "maiores sucessos" à comissária portuguesa indigitada, Elisa Ferreira, destacando a sua "considerável experiência" e "sincera convicção europeia".
"Confirmou-se, tal como eu previra há algumas semanas, a nomeação de uma mulher, o que é natural pois Portugal é, dos doze primeiros Estados-membros da União Europeia, o único que ainda não teve uma comissária", salientou José Manuel Durão Barroso, em resposta escrita a perguntas formuladas por alunos da Universidade de Verão do PSD, que decorre até domingo em Castelo de Vide (Portalegre).
O eurodeputado do PAN, Francisco Guerreiro, considerou hoje que a escolha de Elisa Ferreira para comissária europeia é uma "nomeação importante" pela experiência que a antiga ministra tem e pela sua "sensibilidade em questões ambientais".
"Vemos que é uma nomeação interessante por todo o trabalho que tem sido desenvolvido, não só a nível nacional como internacional", disse o eurodeputado à agência Lusa, assinalando o percurso e a "experiência governativa" de Elisa Ferreira, que foi ministra e mais recentemente vice-governadora do Banco de Portugal.
Na ótica do PAN, a escolha do primeiro-ministro, António Costa, é "bastante relevante", devido à "sua sensibilidade em questões ambientais", uma vez que "teve responsabilidades institucionais na área".
""Pelo trajeto que ela tem feito parece-nos uma pessoa bastante moderada e com uma sensibilidade acrescida na área ambiental, que será muito relevante para nós, PAN e Verdes Europeus, para trabalhar", acrescentou o eurodeputado.
O ex-ministro das Finanças Miguel Cadilhe não se mostrou surpreendido com a escolha e considera mesmo que "muito dificilmente Portugal poderá estar tão bem representado na Comissão Europeia" do que com Elisa Ferreira.
Em declarações ao jornal Público, o antigo governante lembra que a comissária "tem uma experiência e uma passagem pela Europa longa e profunda e, além disso, é uma pessoa que, tendo capacidades várias, se dedica muito aos dossiers que lhe são entregues e sempre com sentido de responsabilidade e efetividade".
Sobre a pasta que Elisa Ferreira deverá representar, Miguel Cadilhe garante que "está em condições de assumir diversas pastas, nomeadamente a da Economia e Finanças".
Já o economista Alberto Castro não aponta a pasta da Economia e Finanças como uma possibilidade, "dado o handicap que resulta de Portugal já ter a presidência do Eurogrupo".
Também em entrevista ao jornal Público, Alberto Castro diz que a comissária escolhida leva uma "grande vantagem relativamente a Pedro Marques" pelo facto de "ter uma carreira reconhecida no que respeita aos assuntos europeus".
A antiga governante "construiu uma carreira centrada em questões europeias, desde o seu doutoramento, mas também enquanto esteve na comissão de coordenação e, mais tarde, com o seu notável trajeto no Parlamento Europeu".
António Costa escolheu a ex-ministra Elisa Ferreira para comissária europeia e já o comunicou à nova presidente da comissão."O primeiro-ministro comunicou à presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o nome de Elisa Ferreira para integrar o colégio de Comissários da próxima Comissão Europeia", afirmou à Lusa fonte oficial do gabinete de António Costa. Segundo a mesma fonte, oportunamente a presidente eleita da Comissão Europeia comunicará a pasta atribuída à futura comissária portuguesa.
Elisa Ferreira foi ministra dos governos chefiados por António Guterres, primeiro do Ambiente, entre 1995 e 1999, e depois do Planeamento, entre 1999 e 2002, e ocupa, desde setembro de 2017, o cargo de vice-governadora do Banco de Portugal.
O eurodeputado do CDS Nuno Melo desejou "boa sorte" à futura comissária europeia Elisa Ferreira, mas considerou que a prudência recomenda esperar pela pasta atribuída a Portugal e pelo exercício do seu mandato.
"Em primeiro lugar, queria dar os parabéns a Elisa Ferreira e desejar-lhe sorte no mandato para o qual foi nomeada", afirmou Nuno Melo, em declarações à Lusa, salientando já ter trabalhado com a vice-governadora do Banco de Portugal no Parlamento Europeu num relatório sobre resolução bancária.
Garantindo a sua colaboração em tudo o que seja do interesse de Portugal e da União Europeia, Nuno Melo sublinhou, contudo, que "o cargo de comissário não depende de um nome apenas, depende fundamentalmente da pasta atribuída e das competências da pessoa escolhida para essa pasta".
A esse propósito, o eurodeputado do CDS defendeu que "a última escolha socialista para a Comissão Europeia foi simplesmente um desastre", referindo-se a Jaime Silva, que entre 2001 e 2002 acumulou as funções de conselheiro principal na Representação Permanente de Portugal na Comissão Europeia e de porta-voz do Comité Especial da Agricultura do Conselho Europeu da Agricultura.
"A prudência recomenda esperar pela pasta que seja atribuída a Elisa Ferreira e pelo resultado do exercício desse mandato em relação ao qual, insisto, colaborarei em nome de Portugal e da União Europeia, mas também lançarei as críticas que entenda adequadas se existirem medidas que não estejam de acordo com aquilo que o CDS defende", assegurou.
Questionado sobre o que poderá ser uma pasta adequada à futura comissária portuguesa, Nuno Melo apontou as relacionadas com a economia, atividade bancária ou fundos comunitários, salientando que há outras, como a do mar, que poderiam ser muito relevantes para Portugal, mas que não "são da competência de Elisa Ferreira".
O presidente da AEP -- Associação Empresarial de Portugal, Luís Miguel Ribeiro, aplaude a escolha feita pelo primeiro-ministro, António Costa, de indicar Elisa Ferreira para próxima comissária europeia.
"Estamos perante uma individualidade com um percurso de inegável prestígio, tendo ocupado cargos públicos de relevo e funções em instituições privadas", destaca o presidente da AEP destaca, sobre Elisa Ferreira, citado em comunicado.
Luís Miguel Ribeiro lembra, por exemplo, que a ex-ministra nos dois governos de António Guterres foi vice-presidente executiva da associação a que preside.