Carlos Leitão. Fadista vai estrear-se na Av. Liberdade a ouvir cantar a sua marcha

Foi apanhado de surpresa o compositor que venceu o concurso da Grande Marcha deste ano, dedicado ao Parque Mayer. Agora, vai assistir pela primeira vez ao desfile e garante não saber o turbilhão de emoções que vai sentir nessa noite de Santo António.
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O "Menino Parque Mayer" é o título da composição que ganhou o concurso deste ano da Grande Marcha de Lisboa e que todos os marchantes terão de cantar na Avenida da Liberdade na noite de Santo António. Foi uma vitória que apanhou Carlos Leitão, autor da letra e da música, de surpresa. "Acima de tudo senti-me muito feliz porque foi apenas a segunda vez que concorri e, de facto, não estava a contar com nada em especial. Concorri sem grandes aspirações e quando soube a notícia, principalmente por não estar à espera de grandes resultados, fiquei naturalmente muito satisfeito", conta Carlos Leitão ao DN.

A letra e a música de "Menino Parque Mayer" saíram-lhe naturalmente, muito graças ao facto de, nos seus 23 anos de carreira, ser o principal autor das músicas de interpreta, começando sempre pela letra. Ainda para mais, esta já era a segunda vez que concorria à Grande Marcha de Lisboa. "A primeira vez que concorri, desafiado pela minha mulher, foi em plena pandemia e o tema da altura era o centenário de Amália. A marcha não ganhou, mas eu gostei tanto dela que achei que seria um desperdício não a dar a alguém para ser cantada. E lembrei-me da Katia Guerreiro, que é uma querida amiga, ela não só agradeceu como ficou super entusiasmada e fez-me a gentileza de cantar a marcha "Amália nome de Lisboa" em todo o lado. Portanto, foi quase ou mesmo equiparado à vitória."

O Parque Mayer, que em 2022 celebrou o seu centenário, serviu de mote para o concurso da Grande Marcha de Lisboa deste ano, um tema que diz bastante a Carlos Leitão enquanto fadista. "Para uma pessoa que esteja, como eu, umbilicalmente ligado ao fado, o Parque Mayer é quase um irmão mais novo, pois o fado existe há mais tempo. E dentro da ondulação de altos e baixos do Parque Mayer há uma coisa que me parece evidente ao longo dos tempos, é que continua a ser, nos dias de hoje, uma marca muito vincada na cidade de Lisboa, e daí eu dizer na letra que é um filho de Lisboa, usando um bocado a imagem de que é um filho de Lisboa que está a dormir e que acorda de noite para dar mais luz e brilho à cidade", explica.

Em termos pessoais, a sua ligação passa por relações de amizade com pessoas que trabalham ou já trabalharam no Parque Mayer, nomeadamente a fadista e atriz Filipa Cardoso, uma das pessoas que sempre lhe disse que o iria converter ao Parque Mayer e às marchas.

Nascido no Chiado há 43 anos, Carlos Leitão diz que não tem nenhuma marcha do coração, mesmo trabalhando há 13 anos em Alfama, no Clube do Fado. Também nunca assistiu ao vivo ao desfile das marchas na Avenida da Liberdade, jejum que vai acabar este ano. "É uma experiência completamente nova, tenho a certeza que me vou sentir muito orgulhoso, mas não faço ideia do turbilhão de emoções vou sentir."

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A figura da Grande Marcha de Lisboa, música que é cantada pelos marchantes de todos os bairros no desfile na Avenida da Liberdade na noite de Santo António, surgiu em 1935. "Lá Vai Lisboa", com música de Raul Ferrão e letra de Norberto de Araújo, foi a primeira, sendo que os seus autores foram convidados a emprestar a sua arte nas edições seguintes (1940, 1947, 1950 e 1952). Esta colaboração com a Grande Marcha de Lisboa acabou por ser interrompida pela morte de ambos - Norberto de Araújo em novembro de 1952 e de Raul Ferrão em abril do ano seguinte.

Na história da Grande Marcha de Lisboa existem outros nomes que se destacam, como João Dâmaso Simões Queimado, autor da música em 1967 e de 1990 a 1992, quase sempre com as letras de Manuela de Moura e Sá Teles Santos; Eurico Augusto Cebolo, que escreveu a letra e a música da vencedora em 1999, 2000, 2002, 2006 e 2007; ou ainda Gimba, que se estreou nas vitórias em 2005 (em parceria com Luís Miguel Viterbo) e repetiu a proeza em 2013 e 2015. De notar ainda que, em 2001, os vencedores foram Bernardo Sassetti (melodia) e João Monge (letra).

A Grande Marcha do ano passado, intitulada "Amália é Lisboa", teve como autores José Reza e Joaquim Isqueiro, dupla que já tinha conquistado a edição de 2009.

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