Capicua: "O mais normal do mundo é os artistas terem opiniões políticas"

Foi com os <em>graffiti</em> que entrou no mundo do <em>hip </em><em>hop</em> no Porto, aos 15 anos. Mas o que escrevia nas paredes já fazia adivinhar que a sua mensagem passaria mais pelas palavras do que pelos desenhos. «Escrevia mensagens feministas», recorda. Música, <em>rapper</em>, MC, letrista, ativista, pensadora, cronista, horticultora nas horas vagas - Capicua é tudo isto e é o alter ego de Ana Matos Fernandes, uma mulher que diz sempre o que pensa. E se surpreende com a surpresa dos outros quando assume posições publicamente. "Não percebo como há pessoas que acham que os músicos não têm direito a ter uma opinião política", afirma quem sempre foi "mais Mafalda do que Susaninha".
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O rap deu-lhe o veículo para canalizar a vocação da escrita e o megafone ideal para espalhar preocupações políticas e sociais. O rap que Capicua faz sempre foi engajado, feminista e, ocasionalmente, competitivo, pelo prazer de uma boa punchline. Soa a beats dos anos 1990, década em que descobriu as ruas do Porto à boleia do hip hop da cidade e de uma lata de spray. Entretanto amadureceu, atravessou o Douro e levou a sua música a outras tribos. A mais recente é a das crianças, à qual chega com Mão Verde. Como acontece com os mais pequenos, é na diversão que está a razão para continuar a fazer o que faz. Uma entrevista feita em dois momentos, em duas cidades: Lisboa e o Porto.

Este novo livro-disco infantil Mão Verde avivou-lhe a memória do tempo em que fazia graffiti? Deu-lhe vontade de desenhar também?
Gosto muito de desenhar e de ilustração. Nos meus discos todos, o artwork, normalmente, é composto por ilustração e nos meus concertos há um ilustrador que desenha ao vivo. Mas tenho noção de que os meus desenhos não têm qualidade suficiente para saírem do caderno. Gosto da colaboração com ilustradores porque é um continuar do imaginário que está nas músicas.

Costuma acompanhar esse processo de perto?
Sim, sim. Sou um bocado control freak. Acompanho todos os processos de perto, às vezes até demasiado. Não digo que interfira de forma a condicionar demasiado o trabalho dos outros, até porque quando convido alguma pessoa é porque confio nela. Tenho alguma dificuldade em delegar, mas que tem mais que ver com o facto de este ser um trabalho autoral. Fazer e escrever música tem muito que ver com intimidade e identidade. As colaborações são boas, porque trazem coisas novas, mas é muito importante que não estejam distantes de nós e cumpram ou completem a nossa visão.

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