Candidatos de partido ligado à IURD lideram sondagens no Rio e São Paulo

O PRB, braço político da igreja de Edir Macedo, pode conquistar as duas maiores prefeituras do país nas eleições municipais marcadas para outubro. De onde vem tanta força? E qual a importância da religião na política brasileira?
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Os candidatos do Partido Republicano Brasileiro (PRB), força política ligada à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), lideram a corrida nas eleições municipais do próximo mês de outubro nas duas maiores cidades do Brasil. A pouco mais de 15 dias das votações, Celso Russomanno e Marcelo Crivella estão com larga vantagem nas sondagens dos principais institutos de pesquisas e tornar-se-iam prefeitos de São Paulo e do Rio de Janeiro em qualquer cenário na segunda volta.

A situação, além de levantar uma questão política - como é que a 10.ª força no Congresso Nacional e 14.ª no ranking de prefeituras bate os principais partidos do país nos dois maiores centros? - levanta uma dúvida mais abrangente - está a República do Brasil, laica por definição, cada vez mais tomada por crenças religiosas?

"A influência da religião na política brasileira verifica-se principalmente nas eleições mais locais, para vereadores ou para deputados estaduais", começa por dizer ao DN Paulo Baía, professor de sociologia da Universidade do Rio de Janeiro. "Mas está a tornar-se numa situação eventualmente perigosa porque, no Rio de Janeiro e em São Paulo a campanha tem tido um forte viés religioso e é a própria república laica do Brasil que é colocada em xeque dessa forma".

"Não vou discutir religião", afirma invariavelmente Celso Russomanno, 60 anos, apresentador de programas de defesa do consumidor na televisão e católico, quando confrontado com questões ligadas à IURD. Marcelo Crivella, 58 anos, bispo, cantor gospel e sobrinho do líder espiritual da IURD Edir Macedo, tem o mesmo tipo de reação perante a imprensa: "O povo quer falar de outras coisas, não de guerra religiosa".

Questões de fé

Mas é inevitável abordar questões de fé, quando o PRB, fundado em 2005, é controlado por políticos da IURD, 19 dos seus 23 parlamentares são evangélicos, e entre as causas porque se bate estão tópicos como a cura gay ou a proibição de uso do nome social por transexuais. "O PRB não é oficialmente da IURD mas a Universal é o seu eixo", diz Paulo Baía. A imprensa brasileira tem o cuidado de não vincular o partido à igreja mas refere-se ao PRB como "a força ligada à Universal".

Porque há membros da IURD noutros partidos e nem todos os militantes do PRB, como o católico Russomanno, são seguidores do credo neo-pentecostal fundado pelo Bispo Edir. Aliás, o número de candidatos pastores no Brasil, espalhados por dezenas de forças, aumentou 25% das municipais de 2012 para as do próximo mês de outubro: eram 2643 então, são 3316 agora, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Há também 15 concorrentes sob o nome de "pastorzinho" ou "pastorzão" e 39 que utilizam referência a outro pastor, como por exemplo "Raquel do Pastor João".

Foram ainda contabilizados 2186 candidatos "irmão" e 841 "irmã". "Padres" são 194. Se somarmos os "pais de santo", as "mães de santo", os "freis" e os "bispos" chegamos a um número próximo de 7000 candidatos com referências religiosas.

Por ser o mais assumidamente religioso dos partidos, mesmo negando-o quando convém, o PRB surfa a onda crente do Brasil - maior país católico e espírita do mundo e segundo maior evangélico - melhor do que a concorrência. Além disso, tem quadros especializados no tráfico político de Brasília: apoiou Lula da Silva e Dilma Rousseff, presidentes do Partido dos Trabalhadores (PT), mas agora está do lado do governo de Michel Temer, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), com direito a ministro - Marcos Pereira, líder nacional do PRB, dirige a pasta do Comércio, Indústria e Serviços.

"Outro fato novo é que nos últimos anos a igreja evangélica cresceu em relação à católica e os seus fiéis são muito determinados", diz Baía. Estima-se que em 2040, o Brasil tenha mais evangélicos do que católicos. De 2000 para 2010, os católicos perderam 1,7 milhões de fiéis e nos últimos 50 anos o seu peso relativo caiu de 93% para 64%. Em três dos 26 estados, incluindo o do Rio de Janeiro, o catolicismo é já inferior a 50%.

Do ponto de vista político há fatores circunstanciais: em crise, o PT não deve conseguir reeleger Fernando Haddad em São Paulo e não apresenta candidato próprio no Rio; o PMDB fez aposta de risco numa dissidente petista, Marta Suplicy, num lado, e em Pedro Paulo, acusado de agredir a mulher, no outro; o dividido diretório paulista do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) hesita em abraçar o nome de João Dória e a sua secção carioca não encontrou nome competitivo. A IURD está, portanto, a um passo do poder nas duas metrópoles.

em São Paulo

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