Campeonato dos porta-aviões: América 10, resto do mundo 5

Com o envio do <em>Charles de Gaulle</em> para o golfo Pérsico a fim de atacar o Estado Islâmico a França exibe a sua força. Além dos Estados Unidos, são raros os países donos de porta-aviões
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A partir de uma posição 200 quilómetros a norte do Bahrein, o Charles de Gaulle ataca há vários dias o Estado Islâmico, com os aviões Rafale e Super Étendard a bombardear os jihadistas no Iraque e na Síria. Uma exibição de força da França, um dos países da trintena que integra a coligação internacional, que recorda que só grandes potências se podem dar ao luxo de construir um porta-aviões e mantê-lo operacional. Afinal, uma fortaleza flutuante como o Charles de Gaulle, que partiu a 13 de janeiro de Toulon e a uma velocidade média de 27 nós (50 km/hora) chegou em finais de fevereiro ao golfo Pérsico, exige uma tripulação de quase dois mil homens e a proteção de uma frota, incluindo um submarino nuclear de ataque.

Mas se é uma exibição de poder, que importância militar tem de facto hoje um navio destes? "Um porta-aviões é uma base aérea móvel, que pode circular pelos mares a elevada velocidade sem os constrangimentos políticos das bases situadas no solo de países terceiros. Se for de propulsão atómica, só precisa de receber víveres, de vez em quando, de navios logísticos que a intervalos regulares se aproximam; tem uma grande sustentação logística. Os seus aviões de ataque, reabastecidos em voo, têm um raio de ação muito grande. Podem transportar diverso tipo de armamento e graduar a ação de acordo com a decisão política", explica ao DN Alexandre da Fonseca, vice-almirante reformado.

Terá sido até um francês, Clément Ader, um dos primeiros a falar do potencial militar dos porta-aviões, num livro publicado em 1909. Os primeiros projetos avançaram pouco depois nos Estados Unidos, mas seria a Grã-Bretanha a pioneira ao lançar o Argus já no final da Primeira Guerra Mundial. Tratava-se de um paquete que a marinha real adaptou mas, tendo o armistício chegado logo, acabaria por ter de esperar pela Segunda Guerra Mundial para entrar em ação. Nesse conflito, os porta-aviões tiveram por fim oportunidade para se destacar, com japoneses e americanos a usá-los na sua disputa pelo Pacífico.

Se o valor militar é inquestionável, poucos são os países que podem aspirar a ter um na armada. Os custos são incomportáveis para a maioria. "Só os EUA têm grandes porta-aviões com um grupo aéreo completo. A França tem um pequeno porta-aviões moderno e o Reino Unido tem em construção dois porta-aviões médios. O Brasil, a Argentina e a Índia têm unidades muito antiquadas. Um grupo aéreo compreende aviões de ataque, aviões de caça, aviões anti-submarinos, aviões radar (comando & controlo), aviões de transporte logístico e helicópteros anti-submarinos e de transporte. Um pequeno porta--aviões como o francês tem de prescindir de parte destes meios e utiliza os aviões radar da USNavy. De assinalar que ter um único porta--aviões é muito limitativo, pois o navio tem ciclos de manutenção e de vez em quando está inoperativo. Se ocorrer uma crise nessa altura, não há porta-aviões...", acrescenta Alexandre da Fonseca, que é também diretor da Revista de Marinha.

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