Caetano Veloso e Cícero abrem o Festival de Cascais

Um auditório cheio para ouvir Caetano Veloso e Antonio Cícero debaterem a identidade cultural. Não chegaram a uma conclusão, mas o público gostou.
Publicado a
Atualizado a

O comentário de uma espetadora feita no final da sessão levantou a grande questão: "Não ouvi qualquer resposta ao tema que me trouxe aqui." A sessão era o encontro entre o Caetano Veloso, o cantor, e Antonio Cícero, o filósofo, no palco do auditório da Casa das Histórias de Paula Rego, que abria o Festival Internacional de Cultura de Cascais (FIC). E o tema, A identidade cultural é uma utopia?, que Inês Pedrosa, a moderadora, tentou recolocar sobre a mesa por várias vezes.

Cícero queria deixar claro que "a identidade (do Brasil) é a não identidade" e, comparando com Fernando Pessoa, "que tinha várias personalidades", fez o paralelo das várias comunidades que vivem no seu país para explicar o atual estado de integração da sociedade.

Caetano adiantou que esse assunto "era uma coisa muito complicada" para ficar resolvida em pouco tempo e avisou que queria era falar de José Bonifácio, o grande apoiante da independência do Brasil. Mas antes de conseguir o que queria ainda referiu a influência de Agostinho da Silva durante o tempo em que esteve na Universidade da Baía. Após várias rondas, lá teve tempo para elogiar a "amálgama" de raças e classes que o ministro todo o poderoso, que virou o século XVIII para o XIX por terras da Europa, desejava para um Brasil liberto da colonização.

Como não podia deixar de ser, a atualidade política brasileira também teve debate. E nessa parte ambos concordaram que a situação é complexa e ninguém sabe aonde irá parar. Cícero elogiou a crescente influência do poder judicial, enquanto Caetano parecia recusar-se a falar sobre o que vê na política brasileira, aproveitando para criticar antes a quantidade de chumbo que há na água da sua terra natal. Mas não resistiu e recordou os tempos da ditadura militar, quando Lula e Henrique Cardoso contestavam o regime e ninguém acreditava na democracia.

A pergunta pode ter ficado sem resposta, mas ninguém saiu do auditório sem bater várias vezes palmas e ouvir aquilo que cabe em hora e meia de debate.

Uma programação exaustiva

A sessão com Caetano e Cícero foi o ponto de partida para a segunda edição do FIC. Até dia 18 vão estar em Cascais um conjunto de autores e políticos que analisam a situação nacional e internacional sob vários ângulos. Hoje, pelas, 17.00, o tema é Estamos condenados a viver em crise, painel em que a jornalista Graça Franco vai moderar os economistas Ricardo Paes Mamede, Robert Skidelsky eTeodora Cardoso. Duas horas depois, Maria Flor Pedroso confronta o filósofo espanhol Daniel Innerarity e Marisa Matias sobre os tempos de indignação.

Amanhã, acontece a evocação dos atentados do 11 de Setembro, num debate onde estarão Ana Gomes, Nuno Rogeiro e Paulo Tunhas.

A partir de segunda, a Literatura toma um lugar preponderante. A primeira sessão tem como tema A literatura pode transformar o mundo?, onde os autores Ana Margarida de Carvalho, Maria Manuel Viana, Mathias Enard e Nuno Camarneiro respondem a Luís Ricardo Duarte. Na terça-feira, a sessão tem em conta as guerras na História e a presença de autores internacionais é forte: Andrew Roberts e David Priestland, com Irene Pimentel e João Pereira Coutinho, moderados por Maria João Costa.

Quem gosta dos géneros de memórias e biografias não pode perder a noite de quinta-feira, pois Andrew Morton - biógrafo da Lady Di -, Fernando Dacosta, Helena Sacadura Cabral e Rita Ferro vão ser questionados por José Fialho Gouveia sobre um género literário em que são especialistas.

O regresso da Literatura às sessões acontece sexta-feira, pelas 19.00, com o questionamento sobre o que é realidade e ficção nos romances históricos. Os autores deste género, Deana Barroqueiro, Domingos Amaral, João Morgado e Maria João Lopo de Carvalho explicam a tarefa à jornalista cultural Ana Daniela Soares. Às 22.00, o tema é Poetas que escrevem romances - ou vice-versa e Luís Caetano debate com Francisco José Viegas, Manuel Alegre, Maria Teresa Horta e Nuno Júdice.

O último fim de semana volta à Literatura e o assunto é, no sábado, revolução de mentalidades para Guilherme d"Oliveira Martins, Lídia Jorge e Pedro Mexia, com José Carlos Vasconcelos. No domingo, Isabel Pires de Lima liga Eça e Brontë a Paula Rego. Às 19.00, o último debate é com Afonso Reis Cabral, Gonçalo M. Tavares, José Miguel Wisnik, Luísa Costa Gomes, Patrícia Reis e Rui Zink, moderados por Inês Fonseca Santos.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt