Está desde ontem disponível uma nova edição remasterizada do álbum Busto, de Amália Rodrigues. Chega como um disco triplo com muitos extras, gravações de estúdio, ensaios, e uma entrevista e um DVD com a gravação de um programa de televisão na RTP datada de 1961. Coordenado por Frederico Santiago, esta nova edição tem como base o original de 1962, e segue a linha estipulada da reedição integral que está a ser feita pelo coordenador nos últimos anos.."Obviamente, como uma obra integral tem tudo, a certa altura tinha de vir o Busto, e tal como noutras edições já publicadas juntou-se todo o material que Amália gravou nas sessões de gravações, e ainda gravações inéditas e outras que tinham sido editadas mas que já não estão disponíveis." Frederico Santiago recorda que este é o primeiro disco que inaugura a ligação "pouco provável" com o compositor luso-francês Alain Oulman. A pesquisa que o coordenador tem feito da obra de Amália é uma constante e isso impossibilita-o de indicar o espaço temporal que demorou a reunir este "novo" trabalho. "Ao mesmo tempo que o estive a fazer estou a fazer outros e numa investigação constante de uma coisa surgem por vezes outras.".Mesmo a publicação das reedições de Amália, inicialmente pensada para ser feita cronologicamente, foi baralhada pela quantidade e a diversidade de canções e gravações que Amália fez. "Existiu uma lógica cronológica das gravações, mas devido à facilidade, ou não, de conseguir material, andamos para frente e para trás." Sobre o Busto, Frederico reforça a sua importância, nacional e internacional. "Muitos portugueses não têm a noção da importância que foi o casamento entre a poesia erudita e a música popular. Amália foi pioneira nisso mesmo internacionalmente. Nunca ouvimos uma Ella Fitzgerald ou o Sinatra cantar um soneto de Shakespeare. A Amália conseguia cantar poesia erudita sem perder o lado popular.".Na opinião de Frederico Santiago, a ligação de Amália com a poesia erudita tem como ponto de partida "a maneira como ela fazia música". "Amália fazia coisas que um cantor popular não faz, ataca piano, cresce, faz ecos em algumas palavras e fez coisas que só os bons cantores eruditos fazem. Por isso agradou sempre a vários universos, desde a quem tem um gosto de música mais popular aos públicos mais habituados à música erudita e com cuidado sobre o som. Daí ter cantado em locais que até então eram impensáveis para um cantor ligeiro, como o Festival de Edimburgo, na Escócia, entre outros.".Frederico indica ainda que foi, sobretudo, nesse nível que se aclamou Amália Rodrigues internacionalmente. "Era o seu o lado musical que chegava à maioria das pessoas que não percebia o português ou o espanhol. Ela cantava muito. O ter feito tantas coisas e tão diversas - até uma incursão pela pop nos anos 1970 - é um traço da sua universalidade. E foi isso que fez, e faz , o público estrangeiro render-se a ela. Nessa altura não havia World Music, ninguém ia atrás do fado, ninguém tinha curiosidade pela música rara"..Para o futuro, Frederico Santiago garante que há ainda muitas coisas por descobrir de Amália. "Há discos que não chegaram a ser editados, um inédito aqui ou ali e tudo o que ela fez ao vivo e que existe nas rádios e televisões do mundo, porque quando ela estava no auge pouco atuava em Portugal." A terminar, deixa um facto para as novas gerações de ouvintes: "Como tudo o que Amália inventou se tornou padrão não se limite Amália à sua modernidade." O Busto é parte dessa (re)descoberta..filipe.gil@dn.pt
Está desde ontem disponível uma nova edição remasterizada do álbum Busto, de Amália Rodrigues. Chega como um disco triplo com muitos extras, gravações de estúdio, ensaios, e uma entrevista e um DVD com a gravação de um programa de televisão na RTP datada de 1961. Coordenado por Frederico Santiago, esta nova edição tem como base o original de 1962, e segue a linha estipulada da reedição integral que está a ser feita pelo coordenador nos últimos anos.."Obviamente, como uma obra integral tem tudo, a certa altura tinha de vir o Busto, e tal como noutras edições já publicadas juntou-se todo o material que Amália gravou nas sessões de gravações, e ainda gravações inéditas e outras que tinham sido editadas mas que já não estão disponíveis." Frederico Santiago recorda que este é o primeiro disco que inaugura a ligação "pouco provável" com o compositor luso-francês Alain Oulman. A pesquisa que o coordenador tem feito da obra de Amália é uma constante e isso impossibilita-o de indicar o espaço temporal que demorou a reunir este "novo" trabalho. "Ao mesmo tempo que o estive a fazer estou a fazer outros e numa investigação constante de uma coisa surgem por vezes outras.".Mesmo a publicação das reedições de Amália, inicialmente pensada para ser feita cronologicamente, foi baralhada pela quantidade e a diversidade de canções e gravações que Amália fez. "Existiu uma lógica cronológica das gravações, mas devido à facilidade, ou não, de conseguir material, andamos para frente e para trás." Sobre o Busto, Frederico reforça a sua importância, nacional e internacional. "Muitos portugueses não têm a noção da importância que foi o casamento entre a poesia erudita e a música popular. Amália foi pioneira nisso mesmo internacionalmente. Nunca ouvimos uma Ella Fitzgerald ou o Sinatra cantar um soneto de Shakespeare. A Amália conseguia cantar poesia erudita sem perder o lado popular.".Na opinião de Frederico Santiago, a ligação de Amália com a poesia erudita tem como ponto de partida "a maneira como ela fazia música". "Amália fazia coisas que um cantor popular não faz, ataca piano, cresce, faz ecos em algumas palavras e fez coisas que só os bons cantores eruditos fazem. Por isso agradou sempre a vários universos, desde a quem tem um gosto de música mais popular aos públicos mais habituados à música erudita e com cuidado sobre o som. Daí ter cantado em locais que até então eram impensáveis para um cantor ligeiro, como o Festival de Edimburgo, na Escócia, entre outros.".Frederico indica ainda que foi, sobretudo, nesse nível que se aclamou Amália Rodrigues internacionalmente. "Era o seu o lado musical que chegava à maioria das pessoas que não percebia o português ou o espanhol. Ela cantava muito. O ter feito tantas coisas e tão diversas - até uma incursão pela pop nos anos 1970 - é um traço da sua universalidade. E foi isso que fez, e faz , o público estrangeiro render-se a ela. Nessa altura não havia World Music, ninguém ia atrás do fado, ninguém tinha curiosidade pela música rara"..Para o futuro, Frederico Santiago garante que há ainda muitas coisas por descobrir de Amália. "Há discos que não chegaram a ser editados, um inédito aqui ou ali e tudo o que ela fez ao vivo e que existe nas rádios e televisões do mundo, porque quando ela estava no auge pouco atuava em Portugal." A terminar, deixa um facto para as novas gerações de ouvintes: "Como tudo o que Amália inventou se tornou padrão não se limite Amália à sua modernidade." O Busto é parte dessa (re)descoberta..filipe.gil@dn.pt