Bússola estratégica da UE ganha forma em Queluz

Português Gomes Cravinho foi anfitrião de uma reunião informal de ministros onde se falou bastante da Rússia como ameaça.
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Com a Administração Biden os Estados Unidos olham para a Europa como o seu melhor amigo", afirmou ontem o ministro da Defesa português, em resposta aos jornalistas sobre se a União Europeia sentia já a diferença de uns Estados Unidos liderados por Joe Biden, que a 20 de janeiro tomou posse, substituindo na Casa Branca Donald Trump. João Gomes Cravinho falava no final de um dia de trabalho com vários outros ministros da Defesa que decorreu no Palácio de Queluz e que teve como grande tema a chamada Bússola Estratégica, o ambicioso documento de segurança e defesa que os 27 estão a preparar. Das suas palavras saiu também a reforçada evidência de que neste o momento a Rússia surge como a principal ameaça.

Com forte presença de ministros e vice-ministros da Defesa, apesar de algumas ausências por causa da pandemia, a reunião foi mais um passo para que a Bússola Estratégica esteja finalizada em março de 2022, quando a França estiver a assumir a presidência da UE. "O documento começa a cristalizar, a ganhar forma", acrescentou o governante português, sublinhando que a sua enorme importância resulta de "a UE ter a ambição e a necessidade de ser um ator geopolítico".

Entre os ministros que estiveram em Queluz destacaram-se, por gerirem os dois maiores orçamentos militares dos 27, a francesa Florence Parly e a alemã Annegret Kramp-Karrenbauer, também conhecida por AKK, em tempos vista como potencial sucessora de Angela Merkel como chanceler. AKK, apesar de a Alemanha fazer parte do trio, juntamente com Portugal e a Eslovénia (na presidência da UE no segundo semestre deste ano), acabou por não participar na conferência de imprensa final, deixando Gomes Cravinho só com Matei Tonin. O esloveno teve palavras ainda mais duras do que o português em relação à atual ameaça russa, refletindo um sentimento partilhado pelos membros da UE que em tempos estiveram de alguma forma no campo comunista, como a ex-república jugoslava.

Destacando que a Bússola Estratégica passará por parcerias várias, a começar pela NATO e os Estados Unidos mas também, enfatizou o ministro português, pelo Reino Unido, até ao ano passado membro da UE, Gomes Cravinho respondeu também à perceção que os 27 têm da China, identificada pelos americanos como um rival: "A relação com a China não é unidimensional, a China não é a União Soviética. Existem aspetos como o combate às alterações climáticas em que a cooperação pode existir, mas noutros aspetos a relação será mais concorrencial". De qualquer modo, a relação da UE com os Estados Unidos terá em conta a relação dos Estados Unidos com a China, declarou o anfitrião deste workshop enquadrado na presidência portuguesa da UE.

Com a saída do Reino Unido, o famoso Brexit votado num referendo em 2016, a UE perdeu em termos de defesa o membro com o terceiro orçamento de defesa mais elevado e também um dos dois membros com arsenal nuclear. Mesmo assim, França, Alemanha e Itália (representada em Queluz pelo ministro Lorenzo Guerini) estão entre a dúzia de países que a nível mundial mais investem em defesa.

leonidio.ferreira@dn.pt

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