Buraco na vedação chega a Belém

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Em democracia, o povo confia às suas Forças Armadas a guarda e o uso das armas mais poderosas do país. O poder de destruição destas armas leva a conceder às Forças Armadas regimes especiais de carreiras, disciplina, justiça, organização e controlo interno. Ainda assim, em Tancos, o Exército falhou objetivamente na guarda das armas.

Detetada a falha, o comandante da unidade dos paióis devia ter pedido a sua exoneração ao comandante do Exército (CEME), que o devia exonerar de imediato, nomear interinamente o segundo comandante e mandar ao Presidente da República o seu pedido de exoneração. Ambos deviam ir logo para casa e aguardado as notificações para prestar declarações nos inquéritos; só assim estes correm sem interferência dos responsáveis.

Os oficiais na hierarquia entre o CEME e o comandante da unidade dos paióis saberiam o que fazer. É isto que deveres militares e responsabilidades obrigam; as culpas apuram-se nos processos disciplinares e judiciais. E os órgãos de soberania acima do CEME ficariam condicionados. Em vez disso, o CEME "entregou" cinco oficiais (nenhum oficial-general) ao fogo mediático, como se ele estivesse acima do problema.

Quantos militares, com um microfone à frente, não se queixam de falta de recursos? Mas com mais autonomia do que os demais burocratas públicos para definir prioridades, os militares não podem queixar-se de falta de recursos: após o assalto aumentou-se a segurança com os mesmos recursos. Protegem-se paióis há séculos sem vídeo. E enquanto os oficiais tiverem mordomias (como carros pessoais e condutores) não podem dizer que não há recursos para as missões básicas.

Em cima disto, o CEME queixou-se do assalto aos paióis ser ingrato para ele; face a uma falha do Estado, olha para si próprio; e os órgãos de soberania mantêm-no em funções. Estão todos no pântano que criaram.

Capitão de mar e guerra (na reforma)

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