É impossível não se fazer um paralelismo entre Buba Espinho e um outro seu conterrâneo famoso, também ele nascido e crescido no cante e que, tal como o jovem cantor alentejano, teve um dia de deixar Beja, em busca do sonho de fazer da música vida. Falamos de António Zambujo, que não por acaso canta em dueto com Buba o tema Roubei-te Um Beijo, escolhido para primeiro single do primeiro álbum homónimo, editado na sexta-feira nas plataformas online - o lançamento físico, tal como o concerto de apresentação, ficou adiado devido à pandemia do covid-19, muito embora o cantor tenha feito questão de o mostrar ao público, num concerto transmito pela internet no passado sábado. .A exemplo do seu "padrinho musical" (palavras do próprio), Buba nasceu no cante e teve no fado a sua porta de entrada para a cidade grande e, tal como Zambujo, também a sua música não se esgota num nem noutro destes estilos musicais, muito pelo contrário, antes os amplifica para lá das suas fronteiras naturais, como aliás de imediato se percebe neste auspicioso álbum de estreia. As comparações entre ambos, porém, ficam-se por aqui - e ainda bem, é caso para dizer -, pois, apesar de se tratar de um disco de estreia, Buba Espinho já não é propriamente um novato nestas andanças.."Já tinha gravado com outros projetos, mas este é um disco muito mais especial, porque é apenas meu. Trabalhei muito nele, levou muito tempo a preparar, especialmente na parte da escolha do repertório, mas, acredito, é um álbum que demonstra exatamente quem sou como artista, ao misturar o cante e o fado tradicional com algumas canções inéditas", afirma em entrevista telefónica ao DN..Além de António Zambujo (que é também o autor de dois temas), Buba Espinho conta ainda com as colaborações de Tiago Nacarato, de Diogo Brito e Faro em Zefa, e de Raquel Tavares em O Verão o Alentejo e os Homens, a faixa que encerra o disco. Bernardo nasceu há 24 anos em Beja, onde desde pequeno foi introduzido no cante por intermédio do pai, Luís Espinho, antigo membro do grupo Green Windows e acérrimo defensor da cultura musical alentejana. "Tudo o que faço é baseado no cante, pois foi nele que nasci para a música, sublinha Buba, cuja alcunha vem desses tempos em que acompanhava o pai pelas tertúlias musicais da sua cidade natal.."Tal como muitas outras pessoas da minha geração, foi com o meu pai que aprendi a respeitar o cante. Os mais velhos fizeram um trabalho exemplar nessa passagem de testemunho", sustenta. E foi naturalmente no cante que, ainda adolescente, começou uma já longa carreira musical, apesar da jovem idade. Fez parte de grupos como Adiafa, A Moda Mãe, Os Bubedanas, Mestre Cante e Há Lobos sem Ser na Serra. Não lhe faltava portanto experiência quando, no final de uma daquelas "noitadas no Alentejo a cantar até às tantas", o amigo Zambujo o desafiou para tentar a sorte em Lisboa, "a arriscar fazer mais" do que fazia na altura. "Deu-me conselhos muito importantes, tal como o Rui Veloso, que também é muito amigo do meu pai", assegura..Foi também com Zambujo que pela primeira vez entrou numa casa de fados, na Bela, Vinhos e Petiscos, em Alfama, onde teve uma verdadeira epifania. "Foi um choque, no bom sentido. Quando as luzes se apagaram e ouvi cantar o fado, senti que estava a viver um momento mágico", recorda. A paixão foi de tal forma que começou logo a estudar repertório e, com apenas 19 anos, mudou-se para Lisboa. "Adaptei-me muito bem. Não vim para a universidade, como a maioria dos meus amigos, e portanto tive tempo para conhecer a cidade", diz com humor. Mas nem por isso deixou de estudar, até porque o meio do fado "é algo fechado" e Buba queria estar preparado para conseguir passar no exame.."Informei-me e aprendi muito antes de tentar sequer entrar nele. Ia para as casas de fado com um bloco de notas", lembra. O teste foi passado com total distinção em 2016, quando se sagrou vencedor da Grande Noite do Fado de Santa Maria Maior, com o tema Enigma, também presente no disco, que o eleva ao estatuto de grande promessa do fado. "Ajudou o facto de já ter alguma experiência de palco", justifica, com humildade..Começa a ser presença assídua em algumas das mais icónicas casas de fado lisboetas, como a Faia, a Casa de Linhares, o Clube de Fado ou a Adega Machado. Começou também a participar, como convidado, em espetáculos de gente como Celina da Piedade, Ana Moura, Júlio Resende, Rui Veloso ou António Zambujo..Mas também em nome próprio, como quando atuou no Festival NOS Alive, na Casa da Música, no Porto, ou no CCB, em Lisboa. Já só lhe faltava mesmo o tal disco em nome próprio, algo que Buba sabia ser quase impossível de concretizar caso se tivesse mantido confinado ao cante. "A grande diferença entre o cante e o fado é um ser um estilo coletivo enquanto o outro é individual. Nunca pensei fazer carreira a solo com o cante nem podia. Portanto, o fado surge quase por necessidade, mas também por gosto, claro", esclarece. Não se julgue, no entanto, que Buba renegou as origens ao mudar-se para a capital, muito pelo contrário. "No dia em que largar o cante deixo de ser eu. É essa herança do cante que me dá uma identidade muito própria no fado, porque a minha voz nunca perde o Alentejo", assume..Tal como o público e os proprietários das casas de fado onde atua tão bem sabem, sendo até costume no final das atuações, quando o ambiente fica mais informal, pedirem-lhe para cantar umas modas tradicionais alentejanas. E Buba faz-lhes sempre a vontade: "Pego na guitarra e lá vai disto."
É impossível não se fazer um paralelismo entre Buba Espinho e um outro seu conterrâneo famoso, também ele nascido e crescido no cante e que, tal como o jovem cantor alentejano, teve um dia de deixar Beja, em busca do sonho de fazer da música vida. Falamos de António Zambujo, que não por acaso canta em dueto com Buba o tema Roubei-te Um Beijo, escolhido para primeiro single do primeiro álbum homónimo, editado na sexta-feira nas plataformas online - o lançamento físico, tal como o concerto de apresentação, ficou adiado devido à pandemia do covid-19, muito embora o cantor tenha feito questão de o mostrar ao público, num concerto transmito pela internet no passado sábado. .A exemplo do seu "padrinho musical" (palavras do próprio), Buba nasceu no cante e teve no fado a sua porta de entrada para a cidade grande e, tal como Zambujo, também a sua música não se esgota num nem noutro destes estilos musicais, muito pelo contrário, antes os amplifica para lá das suas fronteiras naturais, como aliás de imediato se percebe neste auspicioso álbum de estreia. As comparações entre ambos, porém, ficam-se por aqui - e ainda bem, é caso para dizer -, pois, apesar de se tratar de um disco de estreia, Buba Espinho já não é propriamente um novato nestas andanças.."Já tinha gravado com outros projetos, mas este é um disco muito mais especial, porque é apenas meu. Trabalhei muito nele, levou muito tempo a preparar, especialmente na parte da escolha do repertório, mas, acredito, é um álbum que demonstra exatamente quem sou como artista, ao misturar o cante e o fado tradicional com algumas canções inéditas", afirma em entrevista telefónica ao DN..Além de António Zambujo (que é também o autor de dois temas), Buba Espinho conta ainda com as colaborações de Tiago Nacarato, de Diogo Brito e Faro em Zefa, e de Raquel Tavares em O Verão o Alentejo e os Homens, a faixa que encerra o disco. Bernardo nasceu há 24 anos em Beja, onde desde pequeno foi introduzido no cante por intermédio do pai, Luís Espinho, antigo membro do grupo Green Windows e acérrimo defensor da cultura musical alentejana. "Tudo o que faço é baseado no cante, pois foi nele que nasci para a música, sublinha Buba, cuja alcunha vem desses tempos em que acompanhava o pai pelas tertúlias musicais da sua cidade natal.."Tal como muitas outras pessoas da minha geração, foi com o meu pai que aprendi a respeitar o cante. Os mais velhos fizeram um trabalho exemplar nessa passagem de testemunho", sustenta. E foi naturalmente no cante que, ainda adolescente, começou uma já longa carreira musical, apesar da jovem idade. Fez parte de grupos como Adiafa, A Moda Mãe, Os Bubedanas, Mestre Cante e Há Lobos sem Ser na Serra. Não lhe faltava portanto experiência quando, no final de uma daquelas "noitadas no Alentejo a cantar até às tantas", o amigo Zambujo o desafiou para tentar a sorte em Lisboa, "a arriscar fazer mais" do que fazia na altura. "Deu-me conselhos muito importantes, tal como o Rui Veloso, que também é muito amigo do meu pai", assegura..Foi também com Zambujo que pela primeira vez entrou numa casa de fados, na Bela, Vinhos e Petiscos, em Alfama, onde teve uma verdadeira epifania. "Foi um choque, no bom sentido. Quando as luzes se apagaram e ouvi cantar o fado, senti que estava a viver um momento mágico", recorda. A paixão foi de tal forma que começou logo a estudar repertório e, com apenas 19 anos, mudou-se para Lisboa. "Adaptei-me muito bem. Não vim para a universidade, como a maioria dos meus amigos, e portanto tive tempo para conhecer a cidade", diz com humor. Mas nem por isso deixou de estudar, até porque o meio do fado "é algo fechado" e Buba queria estar preparado para conseguir passar no exame.."Informei-me e aprendi muito antes de tentar sequer entrar nele. Ia para as casas de fado com um bloco de notas", lembra. O teste foi passado com total distinção em 2016, quando se sagrou vencedor da Grande Noite do Fado de Santa Maria Maior, com o tema Enigma, também presente no disco, que o eleva ao estatuto de grande promessa do fado. "Ajudou o facto de já ter alguma experiência de palco", justifica, com humildade..Começa a ser presença assídua em algumas das mais icónicas casas de fado lisboetas, como a Faia, a Casa de Linhares, o Clube de Fado ou a Adega Machado. Começou também a participar, como convidado, em espetáculos de gente como Celina da Piedade, Ana Moura, Júlio Resende, Rui Veloso ou António Zambujo..Mas também em nome próprio, como quando atuou no Festival NOS Alive, na Casa da Música, no Porto, ou no CCB, em Lisboa. Já só lhe faltava mesmo o tal disco em nome próprio, algo que Buba sabia ser quase impossível de concretizar caso se tivesse mantido confinado ao cante. "A grande diferença entre o cante e o fado é um ser um estilo coletivo enquanto o outro é individual. Nunca pensei fazer carreira a solo com o cante nem podia. Portanto, o fado surge quase por necessidade, mas também por gosto, claro", esclarece. Não se julgue, no entanto, que Buba renegou as origens ao mudar-se para a capital, muito pelo contrário. "No dia em que largar o cante deixo de ser eu. É essa herança do cante que me dá uma identidade muito própria no fado, porque a minha voz nunca perde o Alentejo", assume..Tal como o público e os proprietários das casas de fado onde atua tão bem sabem, sendo até costume no final das atuações, quando o ambiente fica mais informal, pedirem-lhe para cantar umas modas tradicionais alentejanas. E Buba faz-lhes sempre a vontade: "Pego na guitarra e lá vai disto."