A retórica militar encontrou respaldo nas palavras de aviso Boris Johnson. Sir Patrick Sanders, novo chefe do Exército, não tem dúvidas: "Somos a geração que deve preparar o Exército para lutar na Europa, mais uma vez"..O vaticínio de Sanders vai mais longe porque, justifica, agora "existe agora um imperativo ardente de forjar um exército capaz de lutar ao lado dos nossos aliados e derrotar a Rússia em batalha"..Numa altura em que o governo britânico se preparava para reduzir o exército regular para 72.500 militares até 2025 [os planos são de março do ano passado], o novo líder que se apresenta como "o primeiro chefe do Estado-Maior desde 1941 a assumir o comando do Exército sob a sombra de uma guerra terrestre na Europa envolvendo uma potência continental" não poupa nas pretensões: "A invasão da Ucrânia pela Rússia destaca o nosso objetivo principal de proteger o Reino Unido, de estarmos prontos para lutar e vencer guerras em terra"..As palavras de Patrick Sanders sustentadas nas previsões de Boris Johnson - "se [Putin] for bem sucedido não parará até desmembrar a Ucrânia (...) O Reino Unido e os nossos amigos devem responder para garantir que a Ucrânia tenha resistência estratégica para sobreviver e eventualmente prevalecer" - já recolhem apoios junto de antigos chefes militares..Adrian Bradshaw, ex-chefe das forças especiais britânicas, alinha na mesma lógica de que o "Reino Unido "se deve preparar para a guerra" elogiando a postura no novo chefe do Estado-Maior do Exército: "Ele está absolutamente certo"..Vladimir Putin, argumenta, Bradshaw já mostrou que "está preparado para correr o risco de se entregar a uma guerra aberta na Europa" logo "devemos garantir que ele não encontre um caminho, uma oportunidade para lançar algo contra a NATO"..E usando um velho adágio - "se quer paz, prepare-se para a guerra" - explica que só uma "preparação adequada" pode construir uma "dissuasão sólida" para impedir que "a guerra aconteça"..No The Times, Boris Johnson tinha deixado a porta aberta à "preparação" quando disse recear que a guerra fosse a única forma de travar o presidente russo: "Temo que precisemos nos preparar para uma longa guerra, já que Putin recorre a uma campanha de desgaste, tentando esmagar a Ucrânia por pura brutalidade"..Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, acusou esta segunda-feira a Rússia de praticar "um verdadeiro crime de guerra" ao bloquear as exportações de cereais ucranianos.."É inimaginável que milhões de toneladas de trigo continuem bloqueadas na Ucrânia quando o resto da população mundial sofre de fome", afirmou Borrell à margem do Conselho de Negócios Estrangeiros, no Luxemburgo..João Gomes Cravinho, ministro português dos Negócios Estrangeiros, alertou para a necessidade de travar a "narrativa falsa" da Rússia que poderá, admite, estar a ganhar "alguma tração" em África.."A Rússia está a utilizar a fome em outras partes do mundo como forma de aumentar a sua pressão, é um instrumento de guerra contra a Ucrânia. E está, em simultâneo, a tentar desenvolver uma narrativa que associa, erroneamente, sanções ocidentais ao impacto sobre a segurança alimentar mundial", avisou..Gomes Cravinho garante que "há várias linhas de ação que estão atualmente a ser desenvolvidas", sendo que "as negociações para o desbloqueio marítimo estão a ser lideradas pelas Nações Unidas, que estão em diálogo com a Rússia e com a Turquia para ver se é possível retirar cereais através do porto de Odessa", até porque, defendeu, "o desbloqueamento dos portos é um problema que deve ter solução diplomática, e não militar".."Por terra, há um plano de ação por parte da União Europeia, que tem a desvantagem naturalmente de tratar de volumes mais pequenos, pois é mais difícil escoar por terra, por comboio, mas é o possível nesta fase", afirmou..Segundo o governo de Kiev, o bloqueio russo impediu a chegada aos mercados internacionais de sete milhões de toneladas de trigo, 14 milhões de toneladas de milho, três milhões de toneladas de óleo de girassol e três milhões de toneladas de farinha de girassol..O aumento recorde dos preços dos cereais no mercado mundial poderá, segundo diversos organismos, causar uma crise alimentar global e uma inflação crescente sendo o continente africano, previsivelmente, o mais afetado.."África é refém daqueles que começaram a guerra contra o nosso Estado", disse Zelensky, num discurso por videoconferência dirigido aos membros da União Africana.."Esta guerra pode parecer muito distante para si [referência ao chefe de Estado senegalês e atual presidente da União Africana] e seus países, mas os preços dos alimentos que estão a subir catastroficamente já trouxeram a guerra às casas de milhões de famílias africanas. O nível injusto dos preços dos alimentos, provocado pela guerra russa, está a ser dolorosamente sentido em todos os continentes. Infelizmente, isso pode ser um problema específico para África", afirmou Volodymyr Zelensky..Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), seis países da África Ocidental importam pelo menos 30% de seu trigo da Rússia ou Ucrânia (Burkina Faso e Togo) e até mais de 50% (Senegal, Libéria, Benim e Mauritânia).