BRICS+, Brasil menos
Já está mais do que contada a origem dos BRIC, um acrónimo criado em 2001 por Jim O"Neill para destacar Brasil, Rússia, Índia e China, quatro potências emergentes que então começavam a dar cartas na economia mundial. Mais tarde, os líderes dos quatro países aproveitaram a ideia do economista britânico do Goldman Sachs e oficializaram o grupo, até com direito a uma cimeira anual. Os BRIC, sobretudo pela pujança económica da China, pareciam destinados a ser uma voz nas relações internacionais, mesmo que os interesses dos membros nem sempre fossem coincidentes e em alguns casos até divergentes (a rivalidade entre China e Índia é óbvia). Ser membro dos BRIC dava estatuto e, sem dúvida, o Brasil ganhou protagonismo internacional ao ser reconhecido como potência emergente, mesmo que a sua economia nunca se mostrasse tão dinâmica como as da China e da Índia, tirando 2010, último ano do primeiro período de Lula da Silva como presidente, em que o PIB cresceu 7,5%.
A entrada da África do Sul no grupo, com este a passar a BRICS, foi justificada pela oportunidade de juntar um país africano ao grupo, mas, de certa forma, foi o primeiro enfraquecimento do conceito de potência por trás da sigla. Por muito rica que seja no contexto de África, a África do Sul não faz sequer parte das 20 maiores economias, enquanto os membros originais estão todos no top-ten, menos a Rússia, que, porém, surge logo a seguir.
A recente cimeira dos BRICS realizada exatamente na África do Sul decidiu-se por um alargamento que só parece beneficiar a China na sua busca de criar um bloco concorrente do G7, dominado pelos Estados Unidos e seus aliados. Estes novos BRICS+, que deverão ser formalizados em 2024, até podem reclamar ter uma vasto peso demográfico e económico, mas a soma de Argentina, Etiópia, Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irão, que traz sobretudo o Médio Oriente para o grupo (mas também as tensões que o afetam), faz o todo perder coesão e diminui a influência de cada membro, nomeadamente os originais. Lula da Silva, agora de novo presidente, bem pode dizer que a organização sai reforçada, mas a verdade é que o Brasil não ganha nada com esta passagem a 11 membros. O próprio O"Neill é dessa opinião.
O Brasil, que nos BRIC era equiparado à China como potência emergente, agora vai estar em plano de igualdade com os Emirados Árabes Unidos, conhecidos pela inteligente utilização dos recursos petrolíferos para se afirmar globalmente, mas que não deixa de ser um país com território e população comparáveis aos de Portugal. Mas pior para o Brasil é perder influência, ao mesmo tempo que se vê levado mais para um campo chinês reforçado, quando a sua vocação é ocidental ou, no mínimo, sem hostilizar os Estados Unidos.
Diretor adjunto do Diário de Notícias