Bolsonaro testou mesmo negativo para Covid-19
Os resultados dos três exames de Jair Bolsonaro ao coronavírus deram negativo, soube-se nesta quarta-feira, após o Supremo Tribunal Federal (STF), na sequência de uma longa batalha jurídica e muitas especulações, dar publicidade aos laudos dos testes.
Bolsonaro usou nomes de código por razões de segurança ao ser testado mas os outros dados pessoais, como data de nascimento, número de contribuinte e demais registos, estão corretos. "Para a realização dos exames foram utilizados no cadastro junto ao laboratório conveniado Sabin os nomes fictícios Airton Guedes e Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz, sendo preservados todos os dados pessoais de registo civil junto aos órgãos oficiais", afirma o ofício do Comandante Logístico do Hospital das Forças Armadas, Rui Yutaka Matsuda.
O caso demorou dois meses a chegar ao fim.
Em visita oficial aos Estados Unidos, em março, 25 membros da comitiva de Bolsonaro contraíram o vírus - incluindo o seu secretário de comunicação Fábio Wajngarten e dois ministros, Augusto Heleno, principal conselheiro do presidente no Gabinete de Segurança Institucional, e Bento Albuquerque, titular da pasta das minas e da energia.
De então para cá, também o motorista do presidente foi internado com Covid-19 e o seu porta-voz testou positivo.
Bolsonaro fez o teste na ocasião e especulou-se sobre o resultado positivo depois de a emissora norte-americana Fox News o ter garantido, com base numa confirmação telefónica de Eduardo Bolsonaro.
O correspondente da estação na Casa Branca, John Roberts, escreveu que "o filho de Bolsonaro disse à Fox News que o teste preliminar para coronavírus ao seu pai deu positivo. Eles aguardam resultados de um segundo teste".
Afinal, momentos depois, o deputado federal e terceiro filho do presidente desdisse-se.
E logo a seguir Bolsonaro mostrou nas redes sociais uma fotografia onde fazia um manguito (banana no português local) sob a palavra "negativo".
Perante a dúvida, a Câmara dos Deputados deu 30 dias para o Planalto divulgar informações sobre os dois exames aos quais o mandatário foi submetido - o prazo terminava neste fim de semana.
Também o jornal O Estado de S. Paulo requereu aos tribunais a apresentação dos laudos do teste, alegando interesse público.
A publicação conseguiu o direito a ter acesso aos laudos mas a Advocacia Geral da União (AGU), instituição pública que defende o governo na justiça, apresentou apenas relatórios médicos.
O juízo de primeira instância entendeu que os relatórios não atendiam à ordem judicial "de forma integral" e deu mais 48 horas para que a determinação fosse cumprida.
Na tentativa de não apresentar os resultado dos exames, o governo recorreu então à segunda instância, onde o desembargador André Nabarrete manteve a decisão inicial.
Com a segunda derrota em mãos, a AGU foi ao Supremo Tribunal de Justiça, terceira instância, para obter finalmente sucesso graças ao juiz Otávio de Noronha, para quem "há flagrante ilegitimidade" na ordem dada pelas instâncias inferiores.
É nesse contexto que o STF, a mais alta corte do país, foi chamada a intervir a pedido mais uma vez de "O Estado de S. Paulo". O juiz Ricardo Lewandowski deu ordem para ser publicitado o resultado.
O esclarecimento do tema era considerado fundamental porque Bolsonaro poderia ser acusado de ter imposto risco à saúde a pessoas em seu redor - desde a realização dos exames participou em manifestações e aglomerações, tossiu em público e cumprimentou dezenas de apoiantes - e de um eventual crime de responsabilidade que, em última análise, poderia levar à abertura de processo de impeachment no Congresso Nacional.
Bolsonaro referiu-se ao tema a 26 de março. "Já pensou que prato feito para a imprensa se eu tivesse infetado? Não estou. É a minha palavra. A minha palavra vale mais do que um pedaço de papel".
Na ocasião, o vice-presidente da República Hamilton Mourão pediu que se confiasse na palavra do presidente: "Seria o pior dos mundos o presidente chegar e declarar que testou e deu negativo e depois aparecer que deu positivo".
Mais tarde, em entrevista à rádio Guaíba, o chefe de estado disse que "talvez" tenha contraído o vírus. "Eu talvez já tenha pegado esse vírus no passado. Talvez, talvez. E nem senti".