Bolsonaro participa em manifestação contra o isolamento e a favor de intervenção militar

Perante dezenas de simpatizantes, que se aglomeravam em frente a um quartel em Brasília, o presidente da República disse que "acabou a patifaria", supostamente em referência ao poder legislativo. Outras manifestações contra o confinamento decorrem em São Paulo, Salvador e Manaus
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Jair Bolsonaro discursou neste domingo para dezenas de manifestantes que se aglomeraram - contrariando as recomendações da Organização Mundial de Saúde, do Ministério da Saúde do Brasil e da maioria dos governos estaduais do país - a pedir, entre outras coisas, uma intervenção militar - o que é proibido por lei.

"Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil", disse o presidente da República naquela que foi a maior aglomeração das muitas que gerou desde o início da pandemia.

"Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro. Todos nós juramos um dia dar a vida pela pátria. E vamos fazer o que for possível para mudar o destino do Brasil. Chega da velha política", prosseguiu.

Para concluir: "Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder".

A manifestação tinha uma agenda difusa: por um lado, protestar contra a ação do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado), o poder legislativo, e do Supremo Tribunal Federal (STF), o poder judicial.

Bolsonaro chegou a editar um projeto para concentrar em si o poder de aplicar medidas de restrição durante a pandemia, vetado pelo STF que decidiu que os estados também têm poder para aplicar regras de isolamento.

E criticou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a quem acusou de estar a conduzir "o Brasil para o caos" por causa de divergências a respeoto da votação de medidas económicas.

Dessa forma, os manifestantes carregavam faixas a pedir "intervenção militar já" com Bolsonaro e "novo AI5", numa alusão ao ato institucional número cinco que determinou, em 1968, durante a ditadura militar a perde de mandato dos deputados e na institucionalização da tortura e da censura.

Um dos cartazes pedia até a permissão para "explodir a cabeça de um petista", como são conhecidos os apoiantes do PT, partido de Lula da Silva, Dilma Rousseff ou Fernando Haddad.

Por outro lado, outra das pautas da protesto foi a exigência do fim do isolamento social, determinada por governadores de estado, e a consequente reabertura do comércio e volta às aulas. Nesse caso, o maior visado foi Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, local da manifestação, que vem apoiando medidas restritivas à circulação de pessoas.

Essas reivindivações foram comuns noutras manifestações noutros pontos do Brasil, como Manaus, Salvador ou em São Paulo. Na maior cidade brasileira pediu-se impeachment do governador João Doria, um dos governadores que tem enfretado Bolsonaro na questão do confinamento, por entre os tradicionais cãnticos e cartazes com o mote "Globo lixo", numa rerefência ao principal grupo de comunicação do país.

Além do embate com os outros poderes federais da nação e com os governadores estaduais, o líder do executivo manteve braço-de-ferro ao longo das últimas semanas com o seu ministro da saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta, que não recuou, apesar da pressão presidencial, da decisão de recomendar isolamento, e dessa forma subiou a pique nas sondagens. Para o seu lugar foi nomeado o também médico Nelson Teich.

Boslonaro tem defendido que o país deve prestar sobretudo atenção à crise económica que o Covid-19 vai gerar, além da crise sanitária. Recomendou o uso da não testada cloroquina para o combate à doença, que começou por chamar de "gripezinha".

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