Bloqueio a refinarias deixa 1500 bombas sem combustível
Das oito refinarias de França, seis estão paradas e duas funcionam a meio gás devido ao protesto contra a nova lei do trabalho. O resultado é bem visível nos mapas do país disponibilizados ontem nos sites de vários media franceses e que mostravam uma multidão de pontinhos laranja simbolizando as estações de serviço onde falta combustível. Os problemas começaram no Norte do país, num desafio claro ao governo do socialista Manuel Valls, mas ontem tinham alastrado também ao sul, com as filas de automobilistas desesperados a crescer.
Com as refinarias e depósitos de combustível bloqueados pelos manifestantes, a Total garantia ontem que só dos seus postos de abastecimento 188 estavam em rutura total e 513 em rutura parcial. Já segundo o secretário de Estado dos Transportes, Alain Vidalies, dos 12 mil postos de abastecimento de França, cerca de 1500 "estão fechados ou em grande dificuldade".
E nos próximos dias, a situação promete complicar-se ainda mais. Primeiro porque para amanhã está convocada a quinta jornada de mobilização contra a nova lei do trabalho (ver caixa), que visa flexibilizar os despedimentos, criar um teto máximo para as indemnizações e alargar as exceções às 35 horas de trabalho semanal. E porque os funcionários dos terminais petrolíferos do porto do Havre, que garantem 40% das importações francesas, votou a adesão à greve a partir da tarde de ontem.
Os últimos meses foram marcados em França por greves e manifestações, depois de no dia 31 de março terem vindo para a rua mais de 1,2 milhões de pessoas contra as reformas laborais. Hoje e amanhã são dias de perturbações nos comboios, os portos continuam a meio gás e as refinarias são as últimas afetadas pelos protestos.
"Consumidores reféns"
Apesar da pressão das ruas, o governo francês mantém-se firme, garantindo que não tenciona recuar na nova lei do trabalho, aprovada na Assembleia depois de o executivo ter recorrido ao artigo 49.3 da Constituição, que permite adotar leis sem necessidade de votação. O primeiro-ministro, Manuel Valls, afirmou na rádio Europe 1 que os protestos foram convocados por um sindicato - a CGT (Confederação Geral do Trabalho) - que se encontra "num impasse" e decidiu "tornar reféns os consumidores e a economia do país".
Já o presidente François Hollande denunciou na France Culture "um bloqueio" decidido por "uma minoria". A chamada lei El Khomri - do nome da ministra do Trabalho, Myriam El Khomri - tem sido muito mal recebida por setores da sociedade francesas tradicionalmente fiéis aos socialistas. E dentro do próprio partido de Hollande, as reformas propostas têm causado dúvidas e críticas.
Os restantes membros do governo também não pouparam os grevistas, com o ministro da Economia, Emmanuel Macron, a pedir-lhes para "deixarem a França avançar", enquanto Michel Sapin, responsável pelas Finanças, se referia a bloqueios "ilegítimos".
Pneus a arder e canhões de água
Ontem, o corpo de intervenção da polícia francesa foi chamado a intervir na refinaria de Fos-sur-Mer, perto de Marselha, onde foram recebidos pelos manifestantes com pedras e pneus a arder. A resposta das autoridades surgiu na forma de canhões de água e granadas de gás lacrimogéneo. O balanço, feito pela prefeitura à AFP, dava conta de sete feridos ligeiros entre os agentes e "alguns feridos" do lado dos manifestantes, de acordo com a CGT. A confederação sindical denunciou um "uso inaceitável da violência" por parte das autoridades.
Mas por volta das 6:00 (menos uma hora em Lisboa), os bloqueios acabaram por ser levantados, com os camiões-cisterna a voltarem a entrar e sair das instalações. A CGT apressou-se a prometer "outras formas de protesto", enquanto Manuel Valls garantia que "outros locais serão libertados".
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