Bloco. Está lançado o ano eleitoral… e a luta com o PS

Bloco sai da sua XI Convenção de olhos postos no próximo governo. "Estamos preparados", repetiu-se entre os bloquistas.
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"Alcançaremos a força para ser parte de um governo quando o povo quiser." Catarina Martins fechou ontem, com estas palavras, a XI Convenção dos bloquistas, a última antes do ciclo eleitoral do próximo ano, e que durante dois dias fez mira aos socialistas, enquanto do púlpito se repetiam as proclamações de que o partido está preparado para assumir responsabilidades governativas.

Num e noutro ponto, a líder bloquista - que arrebatou uma larguíssima maioria (70 lugares em 80) na Mesa Nacional do partido, o órgão máximo entre convenções - suavizou o tom que dominou a convenção. E, se não deixou o PS e o governo sem reparos, fê-lo com alguma "cordialidade".

A convenção do Bloco deixou já evidente o que será a linha do partido no combate eleitoral do próximo ano - lembrar o que eram as propostas de Mário Centeno e dos socialistas antes das eleições e mostrar como a geringonça fez diferente, ou seja, como os partidos da esquerda obrigaram o PS a mudar o rumo.

O congelamento das pensões é um exemplo que promete ser repetido muitas vezes. E este será o mote para uma das grandes frentes de batalha dos bloquistas no próximo ano: contrariar o cenário de uma maioria absoluta do PS, um objetivo que corre a par com o do crescimento eleitoral do BE, que Catarina Martins já disse ser determinante para integrar um futuro governo. A meta dos bloquistas, que sai clara da convenção, já não é uma geringonça: é uma presença de corpo inteiro.

Se o Bloco quer sair das próximas legislativas com força para impor a sua agenda a um governo minoritário do PS, isso transforma os socialistas no alvo privilegiado do BE. Neste domingo, Catarina Martins, no discurso de encerramento da convenção, lembrava a líder do Bloco que António Costa, no congresso do PS que decorreu em maio, não teve uma palavra para os partidos que sustentam o executivo, quando este governo "só vive por causa dos acordos à esquerda". Porque prefere "a cordialidade", a coordenadora bloquista saudou todos os que participam nesta convergência governativa - "não nos arrependemos de nada".

Uma versão suavizada das críticas que se foram ouvindo, ao longo dos dois dias de convenção, ao PS. Na noite de sábado, José Gusmão, dirigente do partido, questionava se a geringonça foi "uma espécie de parêntesis incómodo" para o PS chegar ao poder e a que porá fim na primeira oportunidade. José Soeiro fez mira aos socialistas nas leis laborais, acusando-os de travar alterações significativas ao Código do Trabalho. Já Mariana Mortágua falou em "cedências" do PS que resultaram no desmantelamento do setor bancário nacional: "O governo desprotegeu o país porque não teve a determinação de fazer aquilo que tinha de ser feito."

E o líder parlamentar bloquista tratou de afastar qualquer carta-branca aos socialistas. "Se estamos no bolso do PS, por que é que se irrita tanto António Costa com o Bloco?", questionou. "O nosso povo sabe que o Bloco é a voz mais crítica no Parlamento."

As cinco reformas estruturantes do BE

No discurso final à convenção, Catarina Martins - que arrebatou uma larguíssima maioria na Mesa Nacional do partido, o órgão máximo entre convenções - fez questão de deixar o caderno de encargos dos bloquistas para o futuro. Chamou-lhe reformas estruturantes e apontou cinco.

A saúde, com uma nova lei de bases, "que deve ser aprovada em 2019", e o fim das parcerias público-privadas, um combate de sempre do BE: "Não é possível ter um Serviço Nacional de Saúde decente se continuarmos a entregar quatro em cada dez euros a grupos privados." Depois, vem a demografia, um problema que só se resolve criando melhores condições de vida aos portugueses - melhores salários, salário igual para as mulheres, mais abono de família, livros gratuitos, transportes gratuitos, universalidade do Estado social.

A terceira reforma estruturante passa pela resposta às alterações climáticas, o que passa necessariamente pelo fim da prospeção de petróleo em Portugal.

O Bloco quer o "controlo público" dos setores da banca e da energia - é a quarta grande medida dos bloquistas. E, por último, surge a transparência e o combate à corrupção: o BE quer ver aprovada, até ao final da legislatura, a proposta do partido que está no Parlamento, e que propõe a criação de uma Entidade da Transparência.

A incompatibilidade com o Tratado Orçamental

Já a deputada no Parlamento Europeu, Marisa Matias (que Catarina Martins vai propor como cabeça-de-lista às eleições europeias de 2019), avisou no sábado que o programa que os bloquistas defendem "é incompatível com o Tratado Orçamental".

Segundo Marisa Matias, "o Bloco parte para um novo ciclo político com um programa para a soberania que assenta em cinco eixos estratégicos", que passam pela recuperação dos direitos do trabalho, pela refundação dos serviços públicos, pela estratégia de reconversão e descarbonização da economia, pela elevação dos níveis de investimento público para os de valores anteriores à crise financeira e pelo crescimento da soberania alimentar.

"Este programa para a soberania", atirou a eurodeputada, "é incompatível com o Tratado Orçamental". Mas Catarina Martins defendeu no final que, em vez de se rasgarem tratados, "mudem-se os tratados".

O Bloco está transformado num partido de negociação. Catarina Martins até deixou um desabafo: "Negociar com tantos ministros e secretários de Estado é tarefa para ganhar o céu."

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