Bloco de comboio e na feira com os olhos postos nas eleições
Cheiram já a pré-campanha as jornadas parlamentares que levam os deputados do Bloco de Esquerda a Aveiro e a outras localidades do distrito nas próximas segunda e terça-feira.
Logo a abrir a iniciativa, manhã cedo, os deputados embarcam no comboio da Linha do Vouga, conhecido por Vouguinha, para chegarem a Espinho, onde visitarão a feira semanal, num clássico tantas vezes repetido e ensaiado em campanhas eleitorais.
No jantar de segunda-feira contam com a presença de Marisa Matias, a deputada única do partido ao Parlamento Europeu, depois de na última semana ter surgido o mote para a campanha de maio da cabeça-de-lista bloquista - "Esperança 2019" - e que militantes e dirigentes bloquistas se apressaram a partilhar nas redes sociais.
O líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, falando ontem na Assembleia da República, na antecipação das jornadas, matizou este contexto, defendendo que "o contacto com a população é algo corrente", embora tenha reconhecido que já fizeram estes contactos "de forma diferente" no passado.
Sobre o jantar com a eurodeputada bloquista - que contará ainda com as intervenções políticas do deputado eleito por Aveiro, Moisés Ferreira, e da líder do partido, Catarina Martins - Pedro Filipe Soares sublinhou que "não é a primeira vez" que Marisa Matias participa nas jornadas parlamentares do BE, lamentando que não possam contar mais vezes com a sua presença. "Não é habitual haver jornadas parlamentares conjuntas muito por causa da dificuldade da agenda do Parlamento Europeu", explicou. Para logo depois notar que vão "discutir matérias importantes, como o investimento público, que estão diretamente relacionadas com fundos comunitários", pelo que "faz todo o sentido" que Marisa Matias possa estar com os deputados à Assembleia da República.
Num encontro que terá o seu debate centrado na "resposta nacional às alterações climáticas e o necessário investimento público para preparar o nosso país para essas alterações climáticas", Pedro Filipe Soares deixou uma certeza sobre o rumo do partido nestes meses que faltam até às eleições europeias, regionais da Madeira e legislativas.
Para Pedro Filipe Soares, o que não se alterará, neste ano de três atos eleitorais, é a atitude do Bloco de Esquerda perante o executivo socialista, apoiado no Parlamento pelas bancadas da esquerda.
"Tivemos sempre uma posição bastante exigente para com este governo", argumentou o presidente do grupo parlamentar do BE. "Fizemo-lo quando negociámos inicialmente acordos naquilo que foi possível, com efeitos positivos na vida das pessoas que de outra forma não teria acontecido" - e o aumento do salário mínimo nacional foi o exemplo que Pedro Filipe Soares logo apresentou aos jornalistas.
Com mais ou menos tensão com os socialistas (que é mais evidente nos debates quinzenais, no Parlamento, entre o primeiro-ministro, António Costa, e Catarina Martins), o líder da bancada bloquista traçou a linha que, garantiu, sempre norteou o grupo parlamentar.
"Nunca demos um cheque em branco a este governo e nunca deixámos de ser exigentes para com a governação. Fizemo-lo em primeiro lugar com o acordo que fizemos em 2015 com o PS", afirmou, referindo-se à posição conjunta assinada pelos dois partidos, que viabilizaria o executivo de António Costa (juntamente com dois documentos idênticos do PCP e PEV).
A atuação do BE continuará a ser marcada pela sua "identidade" pelas e "ideias próprias", assegurou o deputado eleito pelo círculo de Lisboa. "Ao longo desta legislatura, sempre que essas ideias próprias não eram convergentes com as do governo, [isso] levou-nos a lutar por elas." E de novo um exemplo à mão. "Quando o governo negociou uma descida da TSU [taxa social única] para as entidades patronais e nós dissemos não, conseguimos na Assembleia da República rejeitar essa intenção."
Tudo somado, "não há nenhuma nova fase no relacionamento do BE com o PS, como não há uma desresponsabilização do governo na sua atuação. Seremos críticos, exigentes mas sempre de forma construtiva", atirou. E na segunda-feira embarcam no Vouguinha para o provar.
Mobilidade. A ferrovia é um dos exemplos com que os deputados do BE querem ilustrar a necessidade de preparar o país para as alterações climáticas, que têm quer ver também com mobilidade. "E não há sistema mais sustentável do que a ferrovia", argumentam.
Fogos de 2017. Deputados vão visitar as minas do Pejão, onde há um foco de combustão subterrâneo que, desde os incêndios de outubro de 2017, continua a subsistir "com claro prejuízo para a saúde pública e ambiental".
Leis laborais. As questões laborais não escapam à agenda das jornadas do BE, também porque vão marcar a intervenção pública do partido durante os últimos meses da legislatura.
Marisa Matias é de novo a aposta dos bloquistas para as eleições ao Parlamento Europeu, que se realizam em maio. Em 2014, o BE foi ultrapassado em votos e deputados pelo epifenómeno MPT (então de Marinho Pinto), que elegeria dois deputados. A candidatura bloquista ficou-se pelos 4,56% (149 628 votos), que elegeram apenas Marisa Matias.
"Esperança 2019" é agora o mote da recandidatura de Marisa, que também participará nas jornadas parlamentares dos bloquistas. A líder do BE, Catarina Martins (à dir.) antecipará as linhas com que se cose o partido nestes meses finais da legislatura.