Bife só para homens e cruzes que atravessam fronteiras no Alto Minho

Um "bife" só para homens, uma troca transfronteiriça de cruzes e um mordomo que dá de comer a quase toda a freguesia são algumas das tradições pascais que o Alto Minho vai reviver este fim de semana.
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Sábado, centenas de homens sentam-se à mesa, em Cardielos e Santa Marta de Portuzelo, Viana do Castelo, para comer o "Bife da Páscoa", cumprindo um ritual iniciado há meio século e onde as mulheres não são admitidas.

"Aqui, mulher só entra para cozinhar ou servir à mesa", referiu fonte da organização.

"Na brincadeira, dizemos que é para tirar a barriga de misérias após um longo jejum quaresmal, mas a verdade é que este é, apenas, um pretexto para um divertido convívio de amigos, em tempo de Páscoa", acrescentou.

Este ano, o "Bife" de Santa Marta associou-se à campanha "Um dia pela vida", da Liga Portuguesa contra o Cancro, sendo os comensais convidados a colaborar com pelo menos um euro para aquela causa.

Segunda feira, os párocos de Cristelo Côvo, Valença, e de Sobrado, Tui, Galiza, cruzam o Minho, de barco, para dar a beijar a cruz pascal na outra margem do rio, cumprindo uma tradição demonstrativa do bom relacionamento transfronteiriço.

Esta cerimónia é conhecida por "Lanço da Cruz", pois, enquanto dura o "intercâmbio" de cruzes, os pescadores de Cristelo Côvo lançam as redes ao rio, previamente benzidas, e todo o peixe recolhido irá para o pároco da localidade portuguesa.

Em Fontão, Ponte de Lima, o mordomo da Cruz oferece, no domingo, o almoço a quase toda a freguesia, cumprindo uma tradição pascal da freguesia que significa um grande "rombo" na sua conta bancária.

A escolha do mordomo do ano seguinte é sempre o momento mais hilariante e mais temido da refeição.

A mulher do anfitrião, de raminho de laranjeira na mão, percorre as diversas mesas, simulando deixá-lo aqui e ali e pregando vários sustos aos convivas, até o depositar definitivamente nas mãos do eleito.

Segunda feira, os compassos pascais das freguesias de Vila de Punhe, Barroselas e Mujães, no concelho de Viana do Castelo, encontram-se na Mesa dos Três Abades, situada no Largo das Neves, cumprindo uma tradição também muito antiga.

Os párocos sentam-se nos três bancos da Mesa dos Abades, mas cada um é "obrigado" a ocupar o que está situado no território da freguesia que representa.

A Mesa dos Três Abades terá sido construída no início do século XVII, numa iniciativa dos párocos de Vila de Punhe, Mujães e Barroselas, para assinalar o fim das discórdias em relação aos limites das freguesias.

Na freguesia de Vitorino das Donas, Ponte de Lima, o "compasso" é acompanhado de um grupo de tocadores de violino e é conduzido por homens que, para se protegerem do sol, usam lenços à cabeça e toalhas de linho a tiracolo.

Sábado, em várias localidades, como Monserrate, Viana do Castelo, encena-se a Queima do Judas, uma tradição pascal que assinala não só o fim do inverno e consequente chegada da primavera, mas também a Ressurreição de Jesus Cristo.

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