Benfica volta às contas positivas à boleia de Enzo Fernández e vira-se para o mercado americano

Contas 2022/23 Venda do argentino resultou em mais-valias de cerca de 60 milhões de euros e contribuiu para um resultado líquido de 4,2 M€. Gastos com pessoal aumentaram, mas custos com plantel desceram cerca de 11 milhões. Clube recebeu 74,2 milhões da UEFA.
Publicado a
Atualizado a

Após dois anos de resultados negativos, o Benfica volta a apresentar um resultado líquido positivo, de 4,2 milhões de euros, retomando assim a sequência positiva iniciada em 2013-14, apenas interrompida nas duas épocas de pandemia, com prejuízos de 35 milhões em 2021-22 e de 13,3 milhões em 2020-21.

Segundo o Relatório e Contas do exercício iniciado a 1 de julho de 2022 e findo a 30 de junho de 2023, enviado à CMVM, os Rendimentos da Benfica SAD mantêm-se acima do valor de Endividamento. Assim o Rendimento Operacional foi de 284,7 milhões de euros, muito graças às transações de jogadores como, por exemplo, Enzo Fernández para o Chelsea, no mercado de janeiro, por 121 milhões. A mais valia desse negócio cifrou-se numa verba entre os 50 e os 60 milhões e ajudou o clube a amealhar 88,9 milhões com venda de passes de jogadores.

O bom desempenho desportivo na Liga dos Campeões também ajudou e de que maneira. A equipa de Roger Schmidt chegou aos quartos de final da prova rainha da UEFA e averbou mais de 74,2 milhões em prémios. A SAD benfiquista registou ainda um aumento de receitas da TV (48,8ME) e na bilhética. Na época passada o Benfica teve em média mais de 57 mil adeptos no estádio por jogo, amealhando mais de 33 milhões de euros com a venda de bilhetes, lugares anuais (mais de 45 mil red pass vendidos) e camarotes - o Estádio da Luz tem 125 camarotes e uma considerável lista de espera.

Segundo o documento financeiro, 60,1% do rendimento registado é de origem internacional, exemplo dos prémios da UEFA ou o contrato de patrocínio com a Emirates, que termina no final da presente época e não consta das previsões futuras, assim como o naming do Estádio da Luz que continua em leilão e sem data para estar fechado apesar das "várias propostas".

Os gastos do Grupo Benfica aumentaram 1,3%, passando para 245,8 milhões. Também os gastos com pessoal continuam a subir e a culpa é do bom desempenho desportivo que obrigou a um "considerável" incremento dos prémios pagos pela conquista do campeonato e a chegada aos quartos de final da Champions, tendo aumentado ligeiramente, dos 112,5 para os 114,6 milhões. Isto apesar dos custos com o plantel terem baixado significativamente dos 50,1 para os 39,4 milhões. Se este valor refletir apenas os encargos salariais então a meta de baixar 16% decretada por Rui Costa foi superada, já que a redução foi de cerca de 11 milhões e o número de jogadores na folha de pagamentos de 80 para 62.

O passivo do grupo Benfica é agora de 444, 6 milhões de euros, sendo que a dívida líquida baixou para os 140 milhões (há dez anos era de mais de 250 milhões). O capital próprio é agora de 113,2 ME.

No ranking de clubes da UEFA a dez anos, as águias estão em 15.º lugar, o que significa que só por entrar na fase de grupos da Champions este ano averbarão mais de 38 milhões. Para a época 2023/24 os objetivos desportivo-financeiros do Benfica passam pela conquista de "todas as competições" em que está envolvido e pela aposta na formação e na transição de talentos para a equipa A.

A SAD encarnada prepara-se para apostar no mercado norte-americano. Uma aposta estratégica de promoção da marca Benfica - com parcerias ao nível de escolas e academias e cedência de know-how na área da formação - uma vez que os EUA são um país com forte emigração portuguesa, onde o soccer (futebol) ganha nova vida com a chegada recente de Lionel Messi ao Inter Miami. Mais do que captar talento ou possíveis investidores para a SAD, a administração quer abrir as portas ao potencial norte-americano e captar mais valias ao nível do futebol feminino.

Ainda segundo o Relatório e Contas, a auditoria forense à gestão de Luis Filipe Vieira já foi entregue à atual direção. O então dirigente está acusado de receber, de forma indevida, mais de dez milhões de euros, num total de 55 transferências do clube, entre 2012 e 2020.

Gonçalo Ramos foi emprestado ao PSG, com uma cláusula de compra obrigatória de 65 milhões de euros, mais 15 ME em objetivos. Os valores do negócio ainda não entraram no exercício findo a 30 de junho deste ano, até porque o jogador foi cedido e a verba só será contabilizada quando a opção for acionada. E, segundo o Benfica, a cláusula é dupla. Sem explicar como, o clube encarnado revelou que pode acionar a cláusula de opção obrigatória ainda durante esta época e num prazo específico.

Ainda segundo a explicação do emblema encarnado a cedência por empréstimo aos parisienses nada teve a ver com o fairplay financeiro da UEFA, que esta época fez reset e entra numa nova contagem.

isaura.almeida@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt