BE quer pesca e banhos proibidos no rio Ave

BE defende proibição enquanto não se esclarecer a origem de bactérias multirresistentes
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O Bloco de Esquerda (BE) quer que sejam proibidas práticas no rio Ave como a pesca ou os banhos enquanto não se esclarecer a origem de bactérias multirresistentes e vai pedir ao Governo que altere a legislação sobre análises.

"É natural que este tipo de bactérias não tenham sido detetadas antes porque a legislação não prevê análises sobre este tipo de bactérias. São precisas medidas. Não podemos continuar a pensar que esta é uma situação que pode ser deixada passar", disse esta manhã, em Vila Nova de Famalicão junto ao rio Ave, o deputado bloquista Pedro Soares.

Em causa está o facto de terem sido identificadas quatro estirpes de bactérias que foram isoladas na água do rio Ave, todas 'Escherichia coli', com grande capacidade de resistência aos antibióticos, incluindo aqueles que se usam exclusivamente nos hospitais para tratamento de infeções graves (carbapenemos), conforme relatou em abril, à agência Lusa, o cientista Paulo Martins.

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O cientista, que é um dos membros da investigação desenvolvida em parceria entre o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e a Universidade de Friburgo na Suíça, afirmou que os genes responsáveis pelas resistências das bactérias descobertas são idênticos aos identificados em bactérias isoladas em hospitais, como, por exemplo, a 'Klebsiella pneumoniae', no Hospital de Gaia.

Segundo Pedro Soares, este caso já é chamado no meio científico como "o mistério do rio Ave" e os investigadores mostraram-se "perplexos" com a descoberta destas bactérias que acreditam ter "repercussões e consequências muito complicadas".

Esta manhã, os bloquistas deslocaram-se ao local onde temem que a qualidade da água esteja pior, o lugar de Azenha Velha, em Riba D' Ave, Famalicão.

Antes, o rio Ave passa pelo concelho de Guimarães, onde, na praia fluvial da Rola, começam a "subir" os índices de distribuição de bactérias, como mostram os gráficos apresentados pelo BE que Pedro Soares afirmou terem como base as informações recolhidas junto dos investigadores.

Assim, o BE exige que sejam proibidas algumas práticas junto ao Ave: "É inconcebível que se continue a permitir a pesca. É inconcebível que não se avise a população que deve evitar tomar banho no rio. É inconcebível que na estação de captação de águas da Vimágua, que abastece Guimarães e Vizela, aparentemente não tenha sido tomada qualquer medida sobre esta questão. É inconcebível que relativamente às explorações agrícolas, não tenha sido tomada nenhuma medida sobre a utilização desta água para rega", disse o deputado.

Quanto à legislação, o BE reiterou que vai propor que a lei seja alterada para que "permita a deteção de situações idênticas a esta", ou seja "sejam feitas análises a mais rios".

Os bloquistas querem que ver as autarquias locais, bem como outras entidades, nomeadamente os ministérios da Saúde e do Ambiente e a Agência Portuguesa do Ambiente, a ter uma "intervenção forte" sobre este assunto e na quarta-feira a Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação da Assembleia da República, que é presidida por Pedro Soares, vai reunir para discutir este tema.

"Até hoje não se ouviu ainda nenhuma entidade pública tomar posição pública sobre esta questão, nem mesmo das autarquias envolvidas, muito menos das empresas ligadas ao saneamento", apontou o deputado, acrescentando que o objetivo da audição de quarta-feira é "procurar estabelecer compromissos sobre medidas para diminuir a poluição no Ave, aumentar a qualidade da água, e controlo das bactérias multirresistentes".

No dia 04 de maio, depois de a meio de abril se ter escusado a comentar o caso, o ministro do Ambiente garantiu que está a acompanhar o caso, mas frisou que não há motivos para alarmismos de saúde pública.

"Estamos a acompanhar, a perceber o que de facto está a acontecer e quais são as origens dessas mesmas bactérias", disse João Matos Fernandes, à margem de uma visita que realizou à Fundação de Serralves, no Porto.

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