Banqueiros a uma só voz: Portugal tem de respeitar compromissos
O presidente executivo do Millennium BCP, Nuno Amado, afirmou esta quarta-feira estar "bem confiante" de que "um futuro novo governo" irá dar atenção à necessidade de estabilidade para manter a confiança e o investimento.
À saída de uma audiência, de cerca de 40 minutos, com o Presidente da República, Nuno Amado disse ter defendido junto de Cavaco Silva "que o essencial é cumprir os compromissos mais importantes que o país tem ao nível europeu".
Nuno Amado, que recusou responder a perguntas e fez apenas uma declaração aos jornalistas, considerou que para a manutenção dos compromissos assumidos "o papel do Orçamento [do Estado] é de charneira".
O presidente do Millenium BCP defendeu a necessidade de "manter uma certa estabilidade de enquadramento e de regimes fiscais em Portugal para que a confiança e o investimento possam continuar". "Estou bem confiante que [estes aspetos] vão ser objeto de atenção por parte de um futuro novo governo", acrescentou.
"O Presidente da República sabe bem os prazos que tem"
Já o presidente do conselho de administração do Novo Banco, Stock da Cunha, defendeu que Portugal deve manter a trajetória de "consolidação das finanças públicas" e de "melhoria da posição externa".
"Na nossa opinião, Portugal vai ter que continuar a garantir junto dos mercados internacionais que honra os seus compromissos, que é uma pessoa de bem, e que a trajetória que temos vindo a ter de consolidação de finanças públicas e de melhoria da nossa posição externa se mantém e não é interrompida", afirmou.
Recebido depois do presidente do BCP, Eduardo Stock da Cunha falava aos jornalistas após ser recebido pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, no Palácio de Belém. Questionado sobre os efeitos de uma eventual demora na resolução da atual situação política na venda do Novo Banco, Stock da Cunha afirmou "aceitar e respeitar" as opções que o Presidente da República tem.
"O Presidente da República sabe bem os prazos que tem. Compete-nos aceitar e respeitar as opções que tem relativamente a essa matéria e assumir isso com a maior das tranquilidades", afirmou.
António Costa manterá rigor se for primeiro-ministro, diz Ulrich
"Se porventura o doutor António Costa for indigitado para ser o próximo primeiro-ministro eu pessoalmente confio no doutor António Costa e no Partido Socialista de que terão o sentido de responsabilidade necessário para manter o país num caminho de rigor e de garantia de estabilidade no sistema financeiro", afirmaria depois Fernando Ulrich, no final da terceira audiência com o Presidente da República, Cavaco Silva.
O presidente do BPI, que não quis responder a perguntas, sustentou que "só com rigor nas finanças públicas e estabilidade no sistema financeiro será possível continuar a melhorar de forma gradual e sustentável as condições de vida dos portugueses".
Ulrich elogiou o primeiro-ministro demissionário, considerando que "fez um excelente trabalho" e que, se hoje o país está melhor, isso se deve "ao esforço enorme" que os portugueses fizeram nos últimos quatro anos num caminho "liderado pelo governo do doutor Pedro Passos Coelho".
"Penso que fez um excelente trabalho e portanto a minha primeira palavra era para lhe agradecer e felicitar pelo trabalho realizado", disse, considerando que "o país está numa situação que é exigente mas que é muito melhor do que aquela que existia" quando iniciou o anterior mandato.
"Governo forte e estável"
"Portugal necessita de ter um governo forte e estável e que cumpra as suas obrigações internacionais. Com isto, poderá continuar toda a política de reformas e poderá vir a ter cada vez mais investimento estrangeiro que tão necessário é ao país", afirmou por sua vez o presidente da comissão executiva do Santander Totta, Vieira Monteiro, no final da audiência com Cavaco Silva.
As audiências do Presidente da República com estes banqueiros insere-se num conjunto de reuniões que Cavaco Silva está a promover sobre a situação política, no Palácio de Belém. Ao longo do dia de hoje serão recebidos responsáveis do BCP, Novo Banco, BPI, Santander Totta, CGD, Montepio Geral e, por fim, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos.
A moção de rejeição do PS ao Programa do XX Governo Constitucional foi aprovada a 11 de novembro com 123 votos favoráveis de socialistas, BE, PCP, PEV e PAN, o que, de acordo com a Constituição, implica a demissão do XX Governo Constitucional, suportado por PSD e CDS-PP, e liderado por Pedro Passos Coelho.
[atualizada às 14.00, com as declarações de Stock da Cunha, Fernando Ulrich e Vieira Monteiro.]