Banksy 'destruído' já tem "valor incalculável"

Licitadora anónima, que decidiu manter a compra por 1,2 milhões de euros de obra cortada em tiras, ficou com uma peça cuja história lhe multiplicou muitas vezes o valor, diz especialista ao DN
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Os cerca de 1,2 milhões de euros pelos quais foi arrematada - e logo "destruída" por uma trituradora escondida na tela - a obra Girl with Baloon, de Banksy, poderão ter sido o melhor negócio da vida da licitadora anónima europeia que a adquiriu. A Sotheby's já atribuiu um novo nome à obra - Love is in the Bin (ou o amor está no caixote de lixo) -, descrevendo agora a inesperada intervenção do artista plástico britânico como "história de arte instantânea". E a verdade é que, para quem está familiarizado com os leilões de obras e artistas icónicos, não restam dúvidas de que o desenho, agora maioritariamente reduzido a tiras, passou a ter "um valor incalculável".

"A licitadora decidiu ficar com a obra. Não foi burra nenhuma. Eu teria feito o mesmo. O que chamamos de destruição foi, na realidade, uma continuação da obra do artista, fazendo daquela obra uma coisa única, ainda por cima com um evento associado e a projeção mediática que teve", diz ao DN Sebastião Pinto Ribeiro, CFO da casa de leilões Palácio do Correio Velho e presidente da Associação Portuguesa de Leiloeiros de Arte. "Só saberemos exatamente quanto é que ela vale se um dia for posta à venda e houver uma licitação. Dez vezes, cem vezes, mil vezes o valor original? Só se vai descobrir quando se puser a obra à venda outra vez".

"Aficionados iriam comprar mais a história do que a obra em si"

Do que o especialista não tem dúvida é que "obviamente" a obra saltou para um patamar completamente distinto a partir do instante em que começou a ser feita em tiras perante o olhar incrédulo do público e dos funcionários da Sotheby's que tinham acabado de anunciar a venda. "Já tem um valor histórico, que ainda não conseguimos quantificar", reforça. "Sabemos que foi vendida por pouco mais de um milhão de euros na fase anterior em que estava. Aconteceu aquilo. Não é uma destruição, porque faz parte da obra e da sua história", insiste. "Pode valorizar muitíssimo. Os aficionados, um dia em que esta obra voltasse a estar em leilão, iriam mais comprar a história do que a obra em si. Neste momento, tem um valor incalculável".

Desafiado a apontar uma base de licitação para a obra, caso fosse chamado a levá-la a leilão, Sebastião Pinto Ribeiro explica que esse valor "seria indiferente, porque o próprio mercado é que ia falar sobre a situação. Podia pôr três milhões e, de repente, no leilão fazia 30 milhões", admite. Ainda assim, finaliza, "duvido que a compradora esteja interessada em vendê-lo nesta fase".

Banksy divulgou um vídeo no Youtube onde descreve todo o processo associado a esta intervenção, desde os ensaios até ao momento em que, em plena Sotheby's, aciona o comando remoto que põe em funcionamento a trituradora escondida na moldura do quadro.

No vídeo é também revelado que a intenção do artista plástico, de resto como sucedeu nos vários ensaios, era destruir todo o desenho e não apenas cerca de dois terços do mesmo, como acabou por acontecer. Se esse pormenor aumentou ou não ainda mais o valor potencial da obra é outra coisa que só o tempo dirá.

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