Banho de cultura chinesa com um cheirinho de fado e de folclore
Lourenço, Lucas e Lucas pequeno comem uma taça de massa. Acabaram de desfilar pela Almirante Reis até ao Martim Moniz, ontem no primeiro dia das comemorações em Lisboa do novo ano chinês, o Ano do Galo. Vestem as cores da bandeira chinesa, vermelho e amarelo, como a maioria dos participantes. São os meninos do Centro de Línguas e Cultura Shumin e vão dançar. À pergunta "em que ano andam?, respondem: "Na escola portuguesa ou chinesa?" Têm por apelido Wang, Zhou e Whu e voltam hoje a atuar, o fim da festa.
A escola portuguesa fica no bairro onde moram, já a chinesa em Arroios, onde há dois estabelecimentos destinados à comunidade. Vila do Conde têm também duas escolas e está prevista abrir uma em breve no Algarve. Os rapazes querem frequentar as duas até "saberem tudo da China". E a portuguesa até "terminar o curso".Querem "viver aqui para todo o sempre".
Lourenço Wang acabou de fazer 9 anos e anda no 3º ano do ensino português, tal como o Lucas Whu, de 8. Lucas Zhou, de 10 anos, frequenta o 5 º. Na escola chinesa, os Lucas partilham o mesmo ano, o 4.º, o Lourenço está no 2. º. Gostam muito das duas escolas e dos colegas, no que diz respeito à comida preferem a cantina portuguesa. "Tem mais coisas diferentes, a outra é sempre arroz, como em casa". E em coro: "Arroz, arroz, as vezes pão e massa, arroz, arroz, arroz!"
Filhos de imigrantes, nasceram em Portugal e com quotidianos muito marcados pela cultura portuguesa, sem esquecer a tradição dos pais. Vê-se pelos artistas que desfilaram durante a tarde de ontem no Martim Moniz. E Lourenço Wang e Lucas Whu passam as férias em Wenzhou, na província de Zhejiang, perto de Xangai.
Culturas que vieram de Zheijiang
Tem origem em Zheijiang grande parte da comunidade chinesa em Portugal e, muitos deles, irão voltar à terra no próximo sábado, o dia do Ano Novo chinês e da Primavera e que tem a ver com a sua religião, o confucionismo. Por isso, anteciparam em uma semana as comemorações. "É a festa mais importante da China, é um acontecimento íntimo, em família, como com os portugueses no Natal", justifica Shu Jianping, o conselheiro cultural da Embaixada da República Popular da China, quem promove as festas. Conta o apoio das câmaras de Lisboa, do Porto e de Portimão, sendo que as duas últimas festejaram esta quinta-feira, e produção das associações chinesas aqui radicadas
Shu Jianping é o mentor das comemorações do Ano Novo chinês, iniciadas há quatro anos. Vive em Portugal há sete. "O objetivo é contribuir para a integração dos chineses, a comunidade está bem integrada mas queremos que seja ainda melhor, queremos que haja um conhecimento mútuo e, este ano pela primeira vez, convidámos grupos portugueses". Ontem atuaram o Rancho das Cantarinhas de Buarcos, a fadista Cristina Nóbrega e o coro infantil de Lisboa Cantat. O Grupo Etnográfico Danças e Cantares do Minho, que se formou em Benfica, também desfilou.
Da Zheijiang veio a companhia de Ópera Wu, com atuações no Porto e ontem no Martim Moniz, ópera. dança e acrobacias. A Dança do Dragão arrancou muitas palmas, tal como as artes marciais. E, de Macau, chegou o grupo de dança Escola Secundária Pui Ching . "Adoro, adoro tudo. São mesmo bons". Não se cansa de repetir, enquanto bate palmas, Maria Arlete de Sousa, 67 anos, reformada. Mora nos Anjos e não perdeu um Ano Novo chinês. "Muita cor, os dragões, as fitas, lindo!"
Integração e acolhimento foi a palavra de ordem das individualidades presentes, nomeadamente Jorge Lacão, vice-presidente da AR, e Fernando Medina, presidente da câmara lisboeta. "Lisboa é uma cidade grande porque é aberta, cosmopolita e acolhe a diversidade. É assim que continuaremos a ser", disse, convidando os chineses para virem para esta "casa".
Quatro anos de experiência, mais apoios financeiros fizerem com que as comemorações de 2017 fossem maiores e mais organizadas. Muitos chineses presentes, mas talvez fossem mais os portugueses, também estrangeiros e de outras comunidades. Com os chineses mais velhos a demonstrar a grande dificuldade em falar português. Acaba esta semana o Ano do Macaco, para entrar no Ano do Galo, significa "harmonia e trabalho", explica Shu Jianping. O horóscopo diz : "O galo tende a ser muito confidente e é determinado nos planos", também perde facilmente energia. "Não inicie nenhum esquema rápido ou rico este ano".