Banca vai perder negócio para as fintech e quer regras iguais
Os presidentes dos cinco maiores bancos portugueses reconhecem que vão perder negócio para as novas entidades que vão entrar no mercado, como as fintech. E pedem uma resposta forte da banca para enfrentar este desafio e a atenção dos reguladores para assegurarem o equilíbrio.
"Os bancos têm de reagir fortemente", considerou Paulo Macedo na Banking Summit, conferência organizada pela Associação Portuguesa de Bancos (APB) e pela SIBS. O presidente da Caixa Geral de Depósitos defendeu que a banca vê os seus proveitos "ameaçados" ao mesmo tempo que ficam com os "custos" das atividades que as novas entidades financeiras não querem, como os depósitos, que exigem capital, e o crédito de médio e longo prazo.
A União Europeia (UE) criou uma diretiva de serviços de pagamento (PSD2) que permitirá a entrada de entidades que não bancos para gerir a informação financeira dos clientes, fazer pagamentos e transferências em todo o espaço europeu. Permitirá a entidades de todo o mundo entrarem neste mercado. Em Portugal, segundo Mário Centeno, está a ser ultimada a proposta de lei para transpor a diretiva.
Nuno Amado diz que "não é razoável competir com concorrentes cujas regras não são as mesmas. Mas damos-lhes uma passadeira vermelha para poderem intervir". O presidente do BCP lançou uma série de questões que considera ainda não terem tido resposta. "Quem vai pagar os custos da supervisão e da regulação? Quem vai financiar a economia portuguesa se houver uma mudança para outras regiões? Quem é que vai cuidar disto?" E concluiu que "todo este equilíbrio tem de ser pensado por quem tem de pensar isto".
Em janeiro, o vice-presidente da Comissão Europeia para os serviços financeiros, Valdis Dombrovskis, tinha dito que esta "legislação é outro passo em direção ao mercado único digital na UE". Defendia que "iria promover o desenvolvimento de soluções inovadoras de pagamentos online e móveis". E estimava que isso poderia poupar aos consumidores europeus 550 milhões de euros por ano.
A posição dos banqueiros é praticamente unânime. "Vamos perder negócio e gostaríamos que [as novas entidades] fossem concorrentes dentro das mesmas regras", considerou António Vieira Monteiro, presidente do Santander Totta.
O ministro das Finanças, Mário Centeno, reconheceu que a entrada da PSD2 e de outras diretivas é um "desafio para os bancos". Mas acredita que "no fim todos sairão a ganhar". O presidente do Eurogrupo explicou que é um "esforço para prosseguir com a união bancária" e que "Portugal investe forte nesse compromisso".
Oportunidade para cortar custos?
Apesar da ameaça, os CEO dos maiores bancos concordam que se a regulação for neutral, poderão sair todos a ganhar. Na terça-feira, também na Banking Summit, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, tinha defendido que a entrada destas novas entidades "é um desafio mas também uma oportunidade". Pablo Forero, presidente executivo do BPI, concorda, desde que a regulação "seja neutral. Com requerimentos iguais, os bancos vão saber utilizar essas novas tecnologias em benefício dos clientes".
António Ramalho, presidente do Novo Banco, considera que o maior desafio que se coloca é "cultural". E explica que o setor está num "período transitório" com "exigências de distribuição caras". Ainda assim, Vieira Monteiro acredita que a digitalização pode ajudar à rentabilidade e permitir reduzir custos. Carlos Costa já tinha levantado esse véu ao referir que "começa-se a questionar até quando será necessária uma tão vasta rede de balcões como aquela que ainda caracteriza os sistemas bancários de vários países europeus". Por outras palavras, vão fechar mais balcões.