Autoridades chinesas confirmam segunda mulher grávida com bebé geneticamente modificado

Polícia investiga He Jiankui por ter alterado o ADN de bebés gémeas depois de receber queixa no ano passado
Publicado a
Atualizado a

Uma segunda mulher ficou grávida durante uma experiência para criar os primeiros bebés geneticamente modificados, confirmaram as autoridades chinesas, numa altura em que o cientista responsável por promover os testes enfrenta uma investigação policial.

No final do ano passado, He Jiankui, cientista da Southern University of Science and Technology (SUSTech), da China, anunciou a primeira "edição" genética de seres humanos levada a cabo com sucesso. Em causa estavam duas gémeas cujo ADN terá sido manipulado de forma a que estas tivessem resistência inata à infeção pelo vírus HIV, uma mutação genética que se estima ocorrer naturalmente em menos de 1% da população mundial.

Depois de Jiankui ter afirmado num fórum da especialidade em Hong Kong que havia "outra potencial gravidez" envolvendo um segundo casal, uma investigação de um governo providencial confirmou a existência de uma segunda mãe e que essa mulher ainda se encontra grávida. A outra mulher, grávida de gémeas, estão sob observação médica.

Muitos dos principais especialistas presentes nessa conferência de Hong Kong apelidaram a conduta do He Jiankui de antiética e dizem que há sérias perguntas não respondidas sobre a segurança da manipulação de embriões e a necessidade de garantir que essas experiências sejam monitorizadas, para que a tecnologia não seja mal utilizada. Um dos que se mostrou mais crítico foi o norte-americano David Baltimore, vencedor do Prémio Nobel da Medicina em 1975, que disse: "Não me parece que tenha sido um processo transparente. Nós só descobrimos o que aconteceu depois de as crianças terem nascido. Pessoalmente, não considero que isto seja medicamente necessário." Na verdade, a manipulação de ADN é proibida em vários países, incluindo na China, e a investigação não foi acompanhada nem verificada por qualquer entidade oficial.

Depois de ter ouvido todas as críticas dos seus pares, He Jiankui dirigiu-se à audiência para explicar que apesar de não ter informado a Southern University of Science and Technology, a universidade chinesa onde trabalha, das suas pesquisas, também não se esforçou por mantê-las secretas, tendo apresentado relatórios preliminares em várias conferências e debatido os resultados com outros cientistas. Garantiu ainda que os pais das crianças gémeas e os outros casais que participaram na investigação tinham toda a informação necessária e conheciam os riscos envolvidos, tendo perfeita noção do que estava a ser feito aos embriões. "Os pais foram informados de todas as implicações disto", disse He. "Lembrámo-los da opção de abandonar a experiência sem fazer a implementação. Mas eles optaram por continuar."

O cientista mostrou algumas imagens destes três anos de investigação, que envolveu ratos, macacos e embriões humanos e explicou que usou a técnica Crispr-Cas9 para desativar um gene, CCR5, que cria a proteína que torna possível o desenvolvimento do VIH. Segundo o cientista, os pais, sobretudo o pai, que é VIH positivo, viram o procedimento como uma forma de recuperar o sentido da vida. "Sinto-me orgulhos, porque eles tinham perdido a esperança", disse o dr. He. "Mas com esta proteção, o pai enviou-me uma mensagem dizendo que vai trabalhar muito para ganhar dinheiro e tomar conta das duas filhas e da mulher."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt