Autárquicas. "Ao CDS falta um Abecasis, mas vai entender-se com o PSD"

O combate autárquico será a prioridade eleitoral do PSD e também do CDS. Os dois partidos, já com 19 coligações autárquicas, deram sinais que querem reforçar o combate à onda rosa que alastrou no país em 2017. O politólogo José Adelino Maltez acredita que vão andar de braço dado: "Ao CDS falta um Abecasis, mas vai entender-se com o PSD."
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Do congresso do PSD deste fim de semana, em Viana do Castelo, que consagrou Rui Rio como líder reeleito do partido, saíram sinais claros de que há o desejo e a necessidade política de estreitar relações com o CDS para a frente das eleições autárquicas de 2021. Eleições consideradas "vitais" e que obteve a imediata luz verde do novo presidente do CDS.

Presente no encerramento do congresso, Francisco Rodrigues dos Santos ouviu Rui Rio dirigir palavras especiais ao habitual parceiro de coligação e manifestou-se imediatamente disponível para encetar negociações com os sociais-democratas com vista à "construção de uma maioria alternativa não socialista em Portugal". Leia-se legislativas mas também autárquicas.

"É importante que haja uma aliança alargada, a pensar já nas próximas eleições autárquicas, de modo a que PSD e CDS consigam ganhar a maioria do número de câmaras ao PS", afirmou o líder centrista. "O CDS tem no PSD o seu parceiro tradicional, a história assim o dita, queiramos em conjunto construir esta relação com base numa cooperação institucional, baseada num diálogo construtivo, estruturado, leal e de confiança recíproca. Creio que através do discurso do que pretende Rui Rio e até dos reptos que foram sendo lançados pelo CDS, após o nosso último congresso, estão criadas as condições para que seja criada esta plataforma de entendimento", frisou Francisco Rodrigues dos Santos.

"Falta ao CDS um Krus Abecasis, mas vão entender-se", afirma José Adelino Maltez, lembrando o antigo presidente centrista da Câmara Municipal de Lisboa. A referência histórica justifica-se tanto mais quando o CDS ficou à frente do PSD nas últimas eleições autárquicas. Assunção Cristas, a ex-líder do CDS, encabeçou a lista do partido à autarquia e conseguiu passar à frente de Teresa Leal Coelho, a candidata do PSD escolhida por Pedro Passos Coelho, com 20,7% dos votos, contra 11,22%.

O que poderá fazer com que, se existir um acordo mais vasto entre os dois partidos para as autárquicas, e tal como tem sido sempre tradição, caiba ao CDS a liderança da lista em Lisboa onde teve melhor resultado do que o PSD. Algo que António Carlos Monteiro, vice-presidente do CDS, não quer comentar neste momento ao DN. O dirigente do CDS prefere lembrar que "há uma tradição de entendimento entre o PSD e o CDS nas eleições autárquicas e que o CDS se manifesta inteiramente disponível para conversar" com o partido de Rui Rio nesse sentido. "Era importante para estas eleições identificar os municípios em que faz sentido alargar o entendimento", assegura.

Mesmo ainda sem uma figura da envergadura de Abecasis, o politólogo acredita que os dois partidos "vão fazer um acordo de baixo para cima e ao nível das duas lideranças e pôr em marcha muitas coligações no país". Muito além das 18 que já têm. Em Aveiro, Estarreja, Amares, Braga, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão, Torre de Moncorvo, Faro, Guarda, Cascais, Amarante, Maia, Penafiel, Trofa, Rio Maior, Ourém, Castro Daire e Tabuaço.

António Costa Pinto também considera "natural" este entendimento. Até porque "a maximização dos resultados eleitorais autárquicos é fundamental para os dois partidos". Para o PSD representam a hipótese de "crescimento" e para o CDS "uma dinâmica de sobrevivência", após o resultado desastroso nas eleições legislativas de outubro, que deram ao partido 4,25% dos votos.

Quanto à possibilidade de os dois partidos coligados virem a conseguir cantar "vitória" nas eleições de 2021, José Adelino Maltez lembra que é possível potenciar muito os resultados na Madeira e nos Açores, duas regiões que na altura em que os dois partidos formaram a AD, com o PPM, não subscreveram o acordo. "Agora existe uma coligação já no governo regional", diz, o que é um passo importante para estender às autarquias madeirenses. O mesmo nas açorianas.

O politólogo remete também para o discurso de Rui Rio quando avisou o partido de que iria escolher os melhores e rejeitar os amiguismos. "A escolha de um autarca não é a escolha de um amigo nem a de um líder de uma qualquer fação partidária local. Ela tem de ser ditada com base em critérios de competência, de dedicação e credibilidade", afirmou o líder do PSD na abertura do congresso.

"Os dois, Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos, vão tentar sacar os independentes em muitas autarquias, o que pode fazer muita diferença em termos de coligação e no combate ao PS", frisa José Adelino Maltez. E admite até que tentem negociar, por exemplo, em Oeiras com Isaltino Morais, que se candidatou como independente.

Isto porque "Rui Rio sabe que um dos maiores problemas é ter perdido o voto urbano, em Lisboa, Loures, Odivelas, Porto, e tem de encontrar uma maneira de o recuperar".

António Costa Pinto admite que será mais fácil recuperar parte do eleitorado perdido em 2013 e 2017. "Já não existe uma dinâmica de voto de protesto contra a austeridade e é mais fácil capitalizar uma recuperação eleitoral nas autarquias", diz. Recorda que boa parte do sucesso eleitoral do PS em 2017 foi conseguido à custa do PCP.

Acresce que neste caso das eleições autárquicas, à direita do PSD e do CDS estão dois partidos - o Iniciativa Liberal e o Chega - que terão grande dificuldade de implantação local.

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