Austrália gasta mais em Defesa para enfrentar Pequim no Sudeste Asiático
A Austrália vai aumentar a proporção da despesa militar em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) para fazer face àquilo que considera ser a deterioração das condições de segurança e a multiplicação das ameaças regionais. Em causa, está principalmente a atuação do regime de Pequim na zona do Mar da China do Sul, onde prossegue uma ativa estratégia de ocupação de ilhas e de reivindicações territoriais.
A estratégia australiana consta do recentemente divulgado Livro Branco da Defesa em que se sustenta necessidade do aumento da despesa militar, pelo menos para o equivalente a 2% do PIB, independentemente "de mudanças que venham a ocorrer nas estimativas de crescimento" daquele indicador. Ou seja, o nível da despesa militar não será condicionado pelo desempenho da economia australiana. E irá crescendo na próxima década, passando de 32 mil milhões de dólares australianos (23,7 mil milhões de USD ou 21,5 mil milhões de euros), no ano fiscal que se inicia no próximo 1 de julho, para 58,7 mil milhões de dólares australianos (39 mil milhões de euros) daqui a uma década.
A Austrália torna-se assim o mais recente país a juntar-se à corrida aos armamentos e ao aumento das despesas no setor da Defesa que se vive em toda a região. A quase totalidade dos países do Sudeste Asiático em particular, mas também a Coreia do Sul, o Japão e a Índia têm vindo a gastar mais nas forças armadas em proporção ao PIB. Por exemplo, o Vietname aumentou 314% a despesa na Defesa entre 2005 e 2014.
O primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, explicou no final de fevereiro que um maior investimento na Defesa era resultado direto dos "desafios regionais", do terrorismo e das "mudanças climáticas". Turnbull deu como exemplo a situação de "nas próximas duas décadas, metade dos submarinos em atividade no mundo e também, pelo menos, metade dos mais sofisticados aviões de combate estarão a operar na região do Indo-Pacífico, que é a região onde nos situamos, o que torna mais complexo o planeamento da nossa estratégia de segurança". Um cenário que tem como centro o Mar da China do Sul mas, notou o governante de Camberra, abrange também a península coreana e regiões "mais distantes".
Para responder à nova conjuntura regional, o número de efetivos vai passar de cerca 58 mil para 63 400, é antecipada a construção de 12 novos submarinos, nove fragatas e 12 navios-patrulha - o que revela bem que o principal risco para Camberra é a conjuntura no Mar da China do Sul - e vão ser reforçados os meios de combate aéreo.
Mais aviões de transporte
O Livro Branco australiano refere ainda a necessidade de ser adquirido até 2020-21 diferente equipamento militar, de aviões não tripulados (drones) a veículos blindados, além da criação de um novo centro de treino para helicópteros de combate de última geração a serem comprados. Irão ser adquiridos mais dois Boeing C-17A Globemaster III, dotados de grande capacidade de transporte de homens e material para "reforçar a atual frota de seis" aparelhos. Está ainda previsto o aumento de vencimentos nas forças armadas.
No plano geoestratégico, Camberra reafirma a relação privilegiada com os Estados Unidos, que tem vindo a reforçar a presença naval na área do Mar da China do Sul em patrulhas designadas "operações de garantia de liberdade de navegação". A mais recente das quais sucedeu a 30 de janeiro, originando protestos de Pequim.
Patrulhas no Mar da China do Sul
O investimento na Defesa foi justificado pelo responsável da força aérea australiana, marechal Leo Davies, numa recente entrevista ao Sydney Morning Herald (SMH), com um significativo exemplo: "Quase todos os voos de patrulha no Mar da China do Sul" são advertidos via rádio pelos chineses para abandonarem as áreas onde Pequim ocupa algumas ilhas e rochedos e tem procedido aqui a operações para ganhar espaço ao mar e à construção de estruturas permanentes, como portos e pistas de aterragem.
O chefe militar australiano reconheceu que o número de patrulhas aéreas e navais no Mar da China do Sul aumentou em paralelo com o recrudescimento de atividade das forças armadas chinesas no arquipélago das Spratly. A intenção é mostrar a Pequim que não passa despercebida a sua presença nas Spratly e que há limites a não ultrapassar na forma como se comportam na região, referiu fonte diplomática ao SMH, na edição em que foi entrevistado o comandante da força aérea australiana.
Estas ilhas e rochedos são reivindicadas pela China, Vietname, Taiwan, Filipinas e Malásia, ocupando todos eles alguns territórios.
O militar australiano explicou na referida entrevista que a multiplicação das comunicações via rádio pelos chineses se deve a uma maior presença na área das Spratly.
Entretanto, foi ontem anunciado o orçamento da Defesa chinês, que apresenta um valor equivalente a 150 mil milhões de USD, sensivelmente um quarto do anunciado pelos EUA no ano em curso: 573 mil milhões de USD. Um porta-voz da Assembleia Nacional Popular afirmou às agências que aquele valor representa um aumento de 7-8% face ao ano anterior. Os EUA afirmam que o montante das despesas militares da China é substancialmente mais elevado que é anunciado publicamente.