Ausência de chuva afeta a safra da lampreia
"Ainda não temos os dados compilados mas, no primeiro mês de safra, notámos uma diminuição das capturas, isso é verdade. O menor caudal do rio pode estar na origem, mas é cedo para termos conclusões", afirma o comandante da Capitania de Caminha, Mamede Alves.
A faina da lampreia no rio Minho arrancou no início de janeiro e prolonga-se até abril, movimentando cerca de 450 pequenas embarcações de pesca, portuguesas e galegas, mas só algumas com mais de um tripulante.
A Capitania de Caminha é responsável pela fiscalização da atividade ao longo do rio Minho, até Melgaço, com Mamede Alves a admitir ser "notória" a diminuição do caudal daquele curso de água internacional.
"Isso pode influenciar a pesca da lampreia por haver menos água doce a ser descarregada no mar, diminuindo assim o efeito de chamamento da espécie na foz. Assim, poderemos ter menos lampreia a subir o rio, para desovar", explicou.
Em Monção, a cerca de 50 quilómetros da foz, o cenário observado por José Certal, pescador de lampreia desde os quinze anos, confirma a teoria.
"Em 50 anos de vida nunca passei por uma semana sem ter uma única lampreia, como agora", afirma, deixando mesmo a garantia: "Por este caminho será um dos piores anos de sempre, não tenho dúvidas. A lampreia não consegue subir o rio".
Em Monção, a safra inicia-se mais tarde, o que este ano aconteceu apenas a 20 de fevereiro, e habitualmente recorrendo a pesqueiras (estruturas em que a lampreia entra e fica aprisionada), colocadas ao longo do rio.
"Tenho cinco pesqueiras. Duas ainda estão fora de água e outra enche, mas fica no limite. Parece incrível, mas ainda não tirei uma única lampreia e, há dez anos, só numa noite, foram 40", recorda.
Longe também vão os tempos em que uma única lampreia podia valer "facilmente" mais de 35 euros, na venda aos restaurantes da terra. "Se hoje apanhar uma, mesmo com tão pouca lampreia no mercado, já era bom se a vendesse por 25 euros", admite.
Apesar deste cenário, vivido ao longo de todo o curso de água que, em alguns locais, chega a ter cerca de meio metro de profundidade, Monção cumpre no domingo mais um "rali" dedicado a este ciclóstomo.
Trata-se de uma prova de perícia automóvel que se realiza há 35 anos no centro histórico da localidade, com vinte restaurantes do concelho, em simultâneo, a juntarem-se à iniciativa, servindo todo o tipo de pratos típicos à base da lampreia.
Segundo a organização, um único cozinheiro da vila deverá confecionar, para participantes, sobretudo galegos, cerca de 70 lampreias, só durante o dia de domingo.