Atraso com vacina da Johnson não altera metas de plano português
O anúncio foi feito esta terça-feira e teve o efeito de um balde de água fria. Mais um contratempo para o processo de vacinação na União Europeia (UE). A entrega da vacina da Jonhson & Jonhson, a única que chegará ao mercado em dose única e da qual Portugal esperava receber até esta quarta-feira mais de 30 mil doses, vai ser atrasada para a Europa.
Por agora, não se sabe quanto tempo mais, apenas que este tempo está associado a mais estudos e investigação sobre a formação de coágulos notificados em seis mulheres jovens que receberam a vacina nos Estados Unidos da América. A vacina está suspensa, mas já foram administradas 6,8 milhões de doses.
Depois deste anúncio, o DN contactou a task-force para saber de que forma é que a situação iria afetar o Plano Nacional de Vacinação contra a covid-19 e se estariam a ser preparadas alternativas para atenuar o seu impacto. E a resposta veio no sentido de que as metas definidas anteriormente se mantêm, ou seja, este atraso não deverá mexer com o plano definido, que agora assenta no critério da idade por ordem decrescente.
"O Plano de Vacinação é constantemente adaptado ao fornecimento de vacinas, mas mantemos a meta inicial de ter 70% da população vacinada até ao final de verão." Ou seja, o atraso na entrega da quarta vacina a chegar ao mercado europeu e nacional, pelos vistos, não irá interferir nas metas a atingir. Isto apesar do facto de 1,25 milhões das 2,8 milhões de doses previstas para aplicação na segunda fase de vacinação, a qual já começou em muitos concelhos, deverem ser da Jonhson & Jonhson e chegar até ao final de julho. Até ao final do ano de 2021, são esperadas um total de 4,5 milhões de doses desta vacina.
A ministra da Saúde, questionada sobre o assunto à saída da reunião com os peritos, no Infarmed, considerou ser cedo para comentar a recomendação emitida ontem pelas autoridades de saúde norte-americanas, no sentido de se fazer uma pausa na administração da vacina da Janssen. "Recebemos essa notícia enquanto decorria a reunião. Neste momento é prematuro falar. Essa vacina não foi ainda iniciada na UE, estamos a receber as primeiras doses esta semana. Os efeitos adversos estão descritos, mas no balanço risco-benefício continuamos a saber que a vacina é a nossa melhor arma para sairmos desta doença", afirmou.
O atraso na entrega à Europa está dependente dos resultados dos estudos e da avaliação que serão feitos pelo Centro de Controlo de Doenças dos EUA e da FDA (Food Drugs e Administration), organismo regulador do medicamento daquele país, sobre os casos de formação de coágulos detetados em pessoas que foram vacinadas com o produto da Johnson & Johnson.
Estes dois organismos anunciaram ontem estarem a investigar este tipo de efeito adverso notificado em seis mulheres nos dias a seguir a terem sido vacinadas, em combinação com contagens de plaquetas reduzidas. Um anúncio conjunto que levou o próprio laboratório, Jassen, a decidir que só entregaria vacinas em outros países após os resultados dos estudos que vão ser feitos por estes organismos.
Entretanto, a Agência Europeia do Medicamento (EMA), que aprovou esta vacina a 11 de março, também já anunciou estar em contacto com as autoridades americanas e a "investigar" os eventos tromboembolismo notificados após a administração desta vacina. "No contexto desta revisão, o comité de segurança da EMA (PRAC) está a investigar todos os casos relatados e decidirá se será necessária ou não uma ação regulatória", apontaram os peritos do Comité de Segurança da EMA, sublinhando que atualmente não está claro haver uma associação causal entre a vacinação e a manifestação de tais fenómenos.
Contactado pelo DN, o porta-voz da Agência afirma que os peritos "estão a par de que o uso da vacina da Janssen para Covid-19 foi interrompido nos EUA", durante a realização de novas avaliações pelas autoridades americanas dos "dados de seis casos relatados nos EUA de um tipo raro e grave de coágulo sanguíneo em indivíduos que receberam a vacina".
O porta-voz referiu ainda que "a EMA está em contacto com o FDA dos EUA e outros reguladores internacionais sobre o assunto [e] comunicará posteriormente após a conclusão da avaliação" , esperando que "os pareceres científicos da Agência forneçam aos Estados-Membros as informações de que necessitam para tomarem decisões sobre a utilização de vacinas nas suas campanhas nacionais de vacinação".
Há uma semana a Europa estava a braços com o mesmo problema relativamente à vacina da AstraZeneca. A EMA suspendeu a sua administração para avaliar os casos de formação de coágulos detetados em pessoas de vários países, nomeadamente no Reino Unido, nas duas semanas seguintes à toma desta vacina. O comité de segurança considerou haver uma possível ligação entre a tomada da vacina e este efeito adverso e os países decidiram rever a sua administração. Portugal impõe a sua aplicação a maiores de 60 anos.
Com João Francisco Guerreiro, em Bruxelas