"Até ao último momento houve esperança", diz Marcelo, que anuncia decisão até quinta
"Uma parte dos partidos são favoráveis à dissolução, outros preferem outras soluções mas aceitam a dissolução, e depois há graus de aceitação e de reserva. Mas isso permitiu-me avançar para o Conselho de Estado para o ouvir sobre a dissolução e só a dissolução", afirmou este domingo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em Vila Real, à margem da entrega do prémio literário Júlio Dinis. Quanto à data das eleições legislativas, informou existir "uma quase totalidade ou mesmo totalidade nos partidos no sentido de janeiro, com uma data dominante que é 16 de janeiro." Há também, adiantou, os que preferem 9 e os que se inclinam para uma data mais tardia, 30.
Nestas primeiras declarações após receber os partidos em Belém na sequência da votação que recusou o Orçamento de Estado elaborado pelo governo de António Costa para 2022, o PR anunciou que conta falar ao país, para dar conhecimento da sua decisão e eventualmente anunciar a data das eleições, o mais tardar na quinta-feira, já que a reunião do Conselho de Estado, marcada para quarta-feira, pode prolongar-se até à noite.
"Tem sido tudo muito rápido neste processo, houve a preocupação de ser muito rápido", assegurou o Chefe de Estado, que lembrou ter havido já em democracia "sete dissoluções, com todos os presidentes."
Em reação a uma pergunta sobre o momento de instabilidade na vida de alguns partidos - referindo sobretudo os casos do PSD e CDS/PP, nos quais há disputa interna para a liderança - o PR disse que "ninguém esperava o processo. A votação ocorreu como decorreu - e teve o epílogo que teve. O facto de coincidir ou não com o que estava marcado ou a decorrer na vida interna dos partidos é uma coincidência. Penso que os deputados quando votaram na Assembleia da República não estavam a pensar nisso. O que importa é o interesse nacional. O PR tem de olhar é para o interesse nacional. O que se pensa é no país, não nas suscetibilidades, mal estaria eu."
Frisando considerar muito grave "o chumbo de um orçamento pela primeira vez numa democracia portuguesa num momento de crise, à saída de uma pandemia e no início de um processo de recuperação económica e social", e repetindo que "até ao último momento houve esperança", Marcelo Rebelo de Sousa admitiu existirem outras alternativas além da dissolução, mas que não são tão "positivas".
"Tudo é uma hipótese até ser tomada a decisão. Mas tive ocasião de dizer que as outras alternativas não pareciam tão positivas como essa [a dissolução]. Porque essa no fundo é devolver ao povo a decisão. Com uma preocupação que é não deixar haver um distanciamento entre o povo e os seus representantes. Isso é muito importante."
Foi ainda reconhecida pelo Presidente a necessidade de existir ainda tempo para o parlamento aprovar alguns diplomas: "A Assembleia pretende votar uma série de leis antes da formalização da dissolução - se for caso disso. Há uma série de normas internacionais europeias, diretivas, que têm prazos limitados, sob pena de incumprimento, para serem aprovadas, e algumas leis que o governo considera fundamental serem aprovadas."