Ataque em Kherson com olhos postos em Enerhodar
Os ucranianos há muito anunciaram este momento: começou a contraofensiva com o objetivo de retomar a região de Kherson, no Sul do país. Um conjunto de ataques, iniciado nas primeiras horas de segunda-feira, atingiu alvos militares russos, mas também infraestruturas, como pontes ou a central elétrica de Nova Kakhovka - localidade que recebeu ordens de retirada -, deixando partes de Kherson sem eletricidade. Mais tarde foi confirmado que as tropas ucranianas estavam a avançar em três frentes, numa iniciativa que, a ser bem-sucedida, deixará mais de 20 mil soldados russos cercados na margem norte do rio Dniepre.
A cerca de 150 quilómetros, a central nuclear de Zaporíjia, em Enerhodar, bem como a zona residencial, continua a ser alvo de ataques, numa altura em que chega a Kiev a equipa da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).
Mikhaylo Podolyak, o conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky que mais vezes usa as redes sociais num tom sarcástico, confirmou o início das operações. "Atualmente, a única opção possível para as negociações com a Rússia está a ser conduzida por uma delegação especial ucraniana no sul e noutras direções da linha da frente. As "negociações" estão a correr bem. Esperamos novos "compromissos" sob a forma de "gestos de boa vontade"", escreveu.
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Na semana passada, Podolyak disse que a ofensiva estava dependente da chegada de reforços de armamento e munições, mas que estaria para breve.
A porta-voz do comando militar da região sul confirmou o início de "ações ofensivas em várias direções", incluindo Kherson, mas não adiantou mais pormenores. "Qualquer operação militar precisa de silêncio", disse Natalia Homeniuk.
Silêncio é algo que rareia na região de Kherson, a avaliar pelos relatos e notícias e por vídeos publicados nas redes sociais. A ponte Antonovsky, que liga a cidade de Kherson ao sul, uma ponte militar ao seu lado e, inclusive, as barcaças que ligam as duas margens do Dniepre foram alvo da artilharia ucraniana. O mesmo noutras ligações da região, com o objetivo de cortar o acesso dos russos à margem norte do rio e, desta forma, deixar os militares invasores (estimativas apontam para um número entre 20 mil e 25 mil) sem saída.
Também em Kherson, Aleksey Kovalev, um ex-deputado do partido de Zelensky que em abril passou para o lado russo, onde era responsável pela agricultura (os ucranianos acusaram-no de pilhagem de cereais), foi morto a tiro.
Enquanto o Ministério da Defesa russo desvalorizava as últimas de Kherson, ao afirmar que a operação ucraniana "falhou miseravelmente"e alegando ter morto mais de 500 soldados ucranianos, as tropas russas que ocupam a central nuclear de Zaporíjia, em Enerhodar, relataram que um ataque de artilharia à central destruiu o telhado de um edifício utilizado para armazenar tanques de combustível de reatores.
Ainda assim, dizem, a situação no local está "sob controlo". Já a empresa ucraniana Energoatom, responsável pela central, acusou os russos de terem disparado para a zona residencial e também para as instalações nucleares, tendo ferido 10 pessoas.
A equipa da AIEA, chefiada pelo diretor da agência, Rafael Grossi, e constituída sobretudo por peritos de países neutros, deverá chegar ao local nas próximas horas. Tem como missão avaliar os danos infligidos, verificar os sistemas de segurança, avaliar as condições do pessoal e "realizar atividades de salvaguarda urgentes", como informou a agência com sede em Viena.
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