Enquanto ex-polícia do Rio de Janeiro, primeiro, e ex-membro de milícias (máfias) cariocas, depois, Ronnie Lessa, 50 anos, distinguia-se pela pose de invencível ao caminhar armado pelas ruas da cidade. Na Penitenciária Federal de Campo Grande, no estado do Mato Grosso do Sul, para onde foi transferido no dia 9, pelo contrário, anda cabisbaixo, temeroso e angustiado, confidenciam agentes carcerários..Segundo o colunista do portal UOL especialista em crime, Josmar Josino, o acusado de ter disparado 13 vezes contra o carro onde seguiam a vereadora Marielle Franco, do esquerdista PSOL, o motorista Anderson Gomes e a assessora de Marielle, a jornalista Fernanda Chaves, na noite de 14 de março de 2018, matando os dois primeiros, "tem medo de ser executado na prisão". "O temor não o atormenta por acaso. O presídio reúne integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) acusados de matar polícias militares em São Paulo; psicopatas do Comando Vermelho (CV) do Rio, e até terroristas do Estado Islâmico", afirma a coluna..Segundo agentes da polícia que acompanham o dia-a-dia da prisão, os companheiros de cadeia de Lessa juraram-no de morte. Matar um polícia é considerado um troféu, para os criminosos - mas matar um polícia envolvido num crime mediático é considerado um título capaz de gerar respeito eterno naquele submundo..Por isso, o polícia reformado em 1991, depois de anos nos letais Batalhão de Choque e BOPE (Batalhão de Operações Especiais), transformado em elemento chave de grupos de extermínio após a reforma, como também Élcio Queiroz, o parceiro que guiava o automóvel de onde saíram os tiros que mataram Marielle, vive sob o temor de ser morto enquanto dorme. Ou no caminho da cela para o banho de sol. Ou noutra ocasião qualquer..Também por isso, os seus advogados consideram "um atentado à dignidade humana" a presença dele numa das cinco prisões federais do Brasil, onde estão os criminosos mais perigosos, e defendem a sua deslocação para um Batalhão Especial Prisional no Rio de Janeiro "antes de ser julgado pelos homicídios dos quais é acusado". O advogado Bruno Castro disse que vai pedir "ajuda internacional" nesse sentido. A decisão de transferir Lessa foi para o separar de Queiroz, seu parceiro no crime..Criminoso Elias Maluco encontrado morto na prisão. Suicídio ou homicídio?.Elias Pereira da Silva, conhecido por Elias Maluco, autor de crimes como a tortura e assassinato de um jornalista da TV Globo que fazia reportagem na favela carioca sob seu controlo, terá cometido suicídio na cela, no último dia 22 de setembro, por não aguentar a pressão das prisões federais, nomeadamente a de Catanduvas, no Paraná, onde se encontrava. O batalhão de 42 advogados de que dispunha também havia pedido a sua transferência..Por Campo Grande, onde está Lessa, e Catanduvas, onde se matou Maluco, passou também Marcos Paulo da Silva, o Lúcifer, considerado o terror dos outros presos: ele e a sua organização, a Cerol Fininho, já arrancaram as vísceras e deceparam as cabeças de 48 detidos. Psicólogos de Catanduvas atestaram que Lúcifer tem transtorno de personalidade e psicose..Neste momento, a preocupação de Lessa não é Lúcifer mas os membros do PCC e do CV que, segundo Josino, o chamam de "verme", "lixo", "coisa", "filho da puta" e "troféu" quando se cruzam com ele nos corredores. E membros do Estado Islâmico também, como Fernando Pinheiro Cabral, 26 anos, integrante de uma célula terrorista do Daesh no Brasil intercetada pela polícia quando planeava um atentado durante os Jogos Olímpicos do Rio em 2016..Lúcifer, o maior terror das prisões brasileiras.Lessa e Queiroz foram presos a 12 de março de 2019, dois dias antes da morte de Marielle completar um ano. O primeiro era vizinho de condomínio do presidente Jair Bolsonaro e o segundo seu apoiante declarado, o que gerou repercussão na imprensa..Simone Sibílio e Letícia Emile, as promotoras do ministério público que cuidam do caso após três substituições de delegados, sublinham a contrainformação recorde no processo - "houve três casos de obstrução a justiça", disse Sibílio à revista brasileira Exame - e acreditam chegar à motivação e ao mandante do crime - "trabalhamos incessantemente na busca por outros envolvidos".