As nuvens de Trump segundo os relatórios de James Comey

Revelação de documentos do ex-diretor do FBI confirmam que presidente o abordou várias vezes sobre a "nuvem" chamada Rússia
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James Comey continua a ensombrar a Casa Branca. Do homem que foi demitido da direção do FBI por Donald Trump foram agora revelados relatórios sobre as suas conversas com o presidente, bem como com o então chefe de gabinete, Reince Priebus. Delas ressaltam as ideias fixas de Trump em obter a "lealdade" de Comey, em negar qualquer envolvimento com a Rússia, bem como a alegada festa com a presença de prostitutas - uma "nuvem" em cima do presidente, como várias vezes terá referido a Comey. E como tal queria que o FBI fizesse um desmentido em como não estava a ser investigado.

Após a publicação do livro A Higher Loyalty, na qual James Comey ajusta contas com Trump, o Departamento de Justiça entregou ao Congresso cópias dos documentos de James Comey. Esses documentos - ou parte deles - acabaram nas mãos dos media.

As notas não trazem muitas novidades, mas acrescentam pormenores. Por exemplo, na conversa recorrente que Trump trazia a lume sobre as prostitutas - alegando que a mulher não podia ter dúvidas sobre algo que não tinha acontecido -, o presidente divulgou um comentário que Vladimir Putin teria feito ("Temos algumas das mais bonitas prostitutas do mundo"), mas não explicou em que contexto.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, desmentiu tal conversa. "O presidente Putin não poderia dizer tais coisas e não as disse ao presidente Trump." A propósito deste tema, em janeiro do ano passado, Putin disse em conferência de imprensa que as "jovens de baixa responsabilidade social" são "as melhores do mundo", mas que não acreditava que Trump tivesse recorrido aos seus serviços.

As fugas de informação eram outra preocupação de Trump - e como Comey respondeu que é muito difícil apanhar o responsável, o presidente sugeriu perseguir os jornalistas, tendo dado como exemplo a prisão de uma jornalista, Judith Miller (foi condenada por recusar divulgar a fonte).

Entretanto, o Partido Democrata apresentou num tribunal federal um processo contra a campanha de Trump (inclui o filho Trump Jr., o genro Jared Kushner, o diretor da campanha Paul Manafort e o estratega Roger Stone), o fundador da WikiLeaks Julian Assange e a Rússia por conspirarem na campanha eleitoral. Um "ato de traição inimaginável", acusam os democratas. O processo não deve ter grande sucesso porque está a decorrer a investigação do procurador especial, além da dificuldade legal em processar um governo estrangeiro.

Giuliani na equipa de advogados de Trump

O antigo mayor de Nova Iorque aceitou integrar a equipa de advogados do presidente norte-americano. O objetivo é dar aconselhamento jurídico relativo à investigação levada a cabo por Robert Mueller sobre a alegada conspiração de Donald Trump com os russos nas eleições presidenciais de 2016. "Espero que possamos negociar um fim para isto pelo bem do país e porque tenho elevada consideração pelo presidente e por Bob Mueller", justificou Giuliani ao Washington Post.

Antes de entrar na política, no final dos anos 80, Giuliani fez uma carreira de duas décadas em vários cargos como procurador e estava até agora a trabalhar para a Greenberg Taurig. A empresa de advocacia comunicou que Giuliani tirou uma licença para "tratar de assuntos não relacionados com a empresa ou os seus clientes".

Segundo os media norte-americanos, Donald Trump tem sentido dificuldades em conseguir reforçar a equipa jurídica. Um dos advogados, John Dowd, demitiu-se no mês passado. Giuliani apoiou a candidatura do milionário e chegou a ser dado como secretário de Estado, o que não aconteceu.

"Rudy é fantástico. É meu amigo há muito e quer resolver isto o mais rápido possível para o bem do país", disse Trump em comunicado.

Além de Giuliani, foram contratados Jane Serene Raskin e Marty Raskin, um casal de advogados.

Baixas

Além de Trump, três nomes referidos nos memorandos de Comey. Todos acabaram demitidos

Michael Flynn: o conselheiro de segurança nacional

O general Michael Flynn ficou na história por ter sido quem ocupou o posto de conselheiro de segurança nacional por menos tempo, 24 dias. Foi demitido por ter mentido ao vice-presidente Mike Pence sobre a natureza das conversas que teve com o embaixador russo nos EUA - ao diplomata terá prometido que as sanções iriam acabar. A Comey, Trump terá dito que Flynn "não fez nada de mal", mas que não podia manter uma pessoa que mentira. Noutra ocasião, afirmou que Flynn tinha "sérios problemas de juízo". E deu como exemplo o facto de só ter agendado para seis dias depois a retribuição de um telefonema de um líder de um importante país.

Andrew McCabe, o vice do FBI

A menos de 48 horas de poder reformar-se com todos os direitos o número dois do FBI - interinamente à frente da polícia de investigação federal - foi demitido pelo procurador-geral Jeff Sessions. McCabe tinha sido alvo de Trump na campanha eleitoral e, segundo as notas de Comey, Trump temia que tentasse vingar-se. "Fui muito duro com ele e com a sua mulher durante a campanha", terá reconhecido. McCabe poderá vir a responder em tribunal por ter permitido uma fuga de informação ao Wall Street Journal. McCabe diz ter sido autorizado por Comey, que o desmente.

Reince Priebus, o chefe de gabinete de Trump

A Administração Trump coleciona recordes: Reince Priebus é o chefe de gabinete de menor permanência na Casa Branca, seis meses. Está citado nas notas de Comey porque num encontro no gabinete de Priebus, tendo este perguntado se a conversa era "privada", perguntou se Michael Flynn estava a ser investigado com base num mandado do Foreign Intelligence Surveillance Court (tribunal federal que avalia pedidos de vigilância a espiões estrangeiros que atuam nos Estados Unidos). Uma pergunta feita nos canais errados.

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