Até agora, a decisão do Reino Unido para sair da União Europeia foi o acontecimento político global mais cataclísmico do ano. Durante os próximos 12 meses, poderemos assistir a uma ou mais das seguintes ocorrências: uma vitória de Donald Trump nos EUA; uma derrota do governo italiano no referendo sobre as reformas constitucionais; uma vitória de Marine Le Pen nas eleições presidenciais francesas; um partido de direita, anti-imigração e antieuro, tornar-se o maior partido de oposição da Alemanha. Nem todas estas calamidades vão acontecer. Mas uma ou duas podem tornar-se verdadeiras. E a esta lista pode adicionar-se alguns infortúnios menores, tais como o fracasso dos acordos comerciais bilaterais entre a UE e os EUA ou o Canadá..O caminho que levou ao brexit oferece quatro lições importantes para aqueles que, pertencendo à classe dirigente, vão lutar pela eleição nas próximas campanhas. Essas lições são importantes porque alguns dos erros cometidos pelo campo pró-UE no Reino Unido estão a ser repetidos em outros lugares e com o mesmo entusiasmo..A primeira é: não confiar em sondagens ou noutras formas de adivinhação do género bola de cristal. A rudeza da campanha pró-brexit galvanizou milhões de eleitores que não tinham votado em eleições anteriores. Foi-me dito que as técnicas de sondagem nos EUA são tecnicamente superiores às do Reino Unido. Talvez. Mas se o fator decisivo numas eleições é o comparecimento nas mesas de voto, então não se pode confiar nem mesmo nas melhores sondagens. O mesmo é válido para os mercados de apostas. Se existe uma incerteza genuína, os mecanismos de mercado não produzem qualquer informação. Significa apenas que mais pessoas estão a fazer uma avaliação errada..A segunda lição é: não arriscar. Está em curso uma espécie de insurreição contra a globalização financeira e as suas instituições. Os rendimentos reais dos eleitores estagnaram nos EUA e no Reino Unido, e também nalguns países da zona euro. As pessoas podem estar a associar erradamente a queda nos seus rendimentos com um aumento da imigração ou com a liberalização do comércio. Se se quiser desmontar estas ideias, é necessário fazer mais do que puxar de estudos elaborados por grupos de reflexão económicos liberais. É preciso apresentar políticas credíveis para combater o declínio dos rendimentos reais. A ausência de tal promessa foi uma grande falha da campanha pró-UE no Reino Unido..Isso leva-nos a uma terceira lição: não insultar ou provocar os eleitores. Após o referendo sobre o brexit, o lado derrotado continuou a salientar que os apoiantes do brexit eram mais velhos e, em média, menos escolarizados. A atuação indigna de Hillary Clinton ao classificar metade dos apoiantes do senhor Trump como deplorável encaixa-se na mesma categoria. Quanto mais se insulta o outro lado, mais probabilidades existem de levar os indecisos para lá..Também é preciso ter cuidado com as provocações. Na Europa, onde os eleitores estão a rebelar-se contra uma maior integração na UE, é preciso garantir que os ex--presidentes da Comissão Europeia não oferecem os seus serviços de lobistas a grandes bancos de investimento dos EUA, como acaba de acontecer com José Manuel Durão Barroso e o Goldman Sachs. As instituições europeias devem deixar bem claro a ambas as partes que estes acordos apenas lhes trarão desvantagens..E, finalmente, não assustar os eleitores. O Projeto Medo foi um desastre no Reino Unido. Se o rendimento do eleitor médio estagnou durante mais de uma década, ele não se vai assustar com a ameaça de uma recessão. Porque haveria um trabalhador com baixo rendimento no Reino Unido de temer que a City de Londres perdesse o seu passaporte financeiro? O argumento é politicamente ignorante e economicamente duvidoso..Quando vi um estudo a afirmar que as políticas comerciais do senhor Trump poderiam causar uma recessão nos Estados Unidos, a minha reação imediata foi: oh não, outra vez não. O problema com as histórias assustadoras não é só o de já não funcionarem com eleitorados imprevisíveis. A maior parte das vezes elas também não são verdadeiras ou são muito exageradas..Embora o efeito do brexit a longo prazo permaneça incerto, a economia do Reino Unido, até agora, desafiou as previsões de uma recessão profunda. Suspeito que o mesmo seria verdade no caso de uma vitória de Trump, ou um triunfo do populista Movimento Cinco Estrelas em Itália. Os mercados podem entrar em pânico no dia seguinte, mas as consequências económicas dependerão em grande parte das políticas subsequentes..Estas histórias assustadoras têm contribuído para uma perda de confiança generalizada na profissão de economista e na sua reputação de isenção de análise. Com essa perda vai também o respeito pelas instituições internacionais, como a OCDE e o Fundo Monetário Internacional, todos participantes determinados no Projeto Medo anti-brexit..Como resultado de um excesso de zelo coletivo, a profissão perdeu influência no atual e importante debate sobre a forma que o brexit deve tomar. Este é agora um debate entre advogados e políticos dentro do Partido Conservador..O brexit é um bom exemplo sobre como funciona a dinâmica das insurreições eleitorais nas democracias do Atlântico Norte. Ele mostrou-nos como as posições estabelecidas firmemente arraigadas podem desmoronar rapidamente e como o improvável se torna no inevitável. A classe política dirigente do mundo ocidental precisa de agir de forma mais inteligente.