Arte urbana para recuperar imagem da Quinta do Mocho

<i>Graffiti</i> de grandes dimensões começam a marcar a nova imagem da Quinta do Mocho. O início da segunda edição do festival O Bairro I O Mundo pretende marcar o arranque de uma requalificação de um dos bairros sensíveis de Loures, que quer mostrar uma imagem diferente daquela que é conhecido.
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As pinturas começaram há pouco tempo, mas algumas já obrigam a qualquer um que passe a parar e a apreciar, mesmo que ainda não estejam terminadas. É o caso do doberman com o Woodstock, o fiel amigo do Snoopy, no focinho. Ricardo Romero (33 anos) é o autor, e pendurado num escadote vai continuando enquanto alguns curiosos sentam-se à sombra e assistem a cada movimento do artista.

Ricardo Romero gosta deste tipo de iniciativa e recorda que participou numa idêntica na Bela Vista. "É sempre diferente [participar nestas iniciativas]. As pessoas são mais honestas. Se gostam, gostam, se não gostam, não gostam" salientou ao DN. Para já o "seu" doberman parece estar a ser muito bem aceite pela população da Quinta do Mocho. "Está a ter uma boa receptividade", disse. Explicou ainda que ao participar em iniciativas como a do bairro de Loures não altera muito o que já lá está: "O próprio prédio tem uma história. Eu não o descaracterizo."

Entretanto é interrompido. Um jovem aproxima-se para elogiar a pintura, mas aponta uma possível falha. "Estou à espera do material próprio para arranjar", responde Ricardo Romero, tranquilizando o jovem. Mas porquê o doberman com o Woodstock? "Faço parte do projeto Matilha que pretende, em primeiro lugar, sensibilizar as pessoas para os maus tratos aos animais. O doberman é vista como uma raça perigosa, muito utilizada em lutas de cães. O Woodstock representa o lado bom que estes cães também têm", explicou. Acrescentou que os animais que pinta são sempre animais que foram mal tratados.

Mas muitas mais pinturas vão nascer nas paredes dos prédios da Quinta do Mocho, que claramente pediam uma intervenção. Apesar do festival durar até domingo com concertos, teatro, dança, fotografia, stand up comedy, workshops, exposições, jogos e programação infantil, a arte urbana vai continuar até novembro, pois com mais de 30 artistas prontos a entrar em ação (e muitos mais pediram para participar, mas não há paredes suficientes para satisfazer a vontade de todos) era preciso mais tempo. Odeith é um dos grandes nomes que deverá começar a sua pintura durante o festival. Há ainda uma grande expectativa para ver Vhils, um dos grandes nomes da arte urbana portuguesa, em ação.

A vereadora da Coesão Social e Educação da Câmara Municipal de Loures, Maria Eugénia Coelho, referiu ao DN que "esta ideia surgiu com a necessidade de passar uma imagem real deste bairro". O objetivo passa por acabar com alguns estigmas. "Este bairro precisa de uma imagem positiva. Aqui há pessoas trabalhadoras, boas e criativas", realçou.

O festival O Bairro I O Mundo "marca o início de uma intervenção mais profunda", segundo a vereadora, que será feita "em conjunto com os moradores". Pequenas obras e recuperação de espaços exteriores estão entre as ideias a concretizar. Entre os objetivos do festival está ainda a divulgação do projeto C4I - que significa comunicação para a integração e está a ser desenvolvido pelo Conselho da Europa - que envolve dez cidades e que "visa acabar com rumores, preconceitos e má imagem da população imigrante". "Faz todo o sentido que seja neste festival que se inicie esta intervenção."

O festival tornou-se realidade com a colaboração da Associação Teatro IBISCO (Inter Bairros para a Inclusão Social e Cultura do Optimismo), que junta jovens de vários bairros considerados sensíveis de Loures. "As pessoas receberam muito bem esta iniciativa", garantiu a responsável Eunice Rocha. "Houve um grande espírito de iniciativa. Apareceu a oportunidade e as pessoas não a deixaram fugir", salientou, referindo-se à forma ativa como a população do bairro participou na construção do festival e quer continuar a fazê-lo na recuperação dos espaços que vão realizar-se nos próximos tempos. E salientou: "É uma das premissas deste festival que seja com a população e não para a população."

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