Arroios aposta em mobiliário urbano inovador para reutilizar água da chuva

Junta de Freguesia pretende gastar este ano cerca de 100 mil euros no programa Arroios Verde. A grande novidade é a instalação de dez bancos e dois cogumelos com capacidade de recolher 3900 litros de água da chuva, que será depois usada para regar jardins ou lavar ruas.
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A Junta de Freguesia de Arroios instalou esta quarta-feira doze peças de mobiliário urbano hídrico em vários pontos do bairro que irão permitir recolher cerca de quatro mil litros de água da chuva, que depois serão armazenado e usados em tempos de seca para regar espaços verdes. Estes bancos e cogumelos, únicos no país, fazem parte do programa Arroios Verde, que arrancou este mês e que representa um investimento de cerca de 100 mil euros até ao final do ano.

"Quando este novo executivo tomou posse, identificámos que Arroios era uma freguesia muito cinzenta. Mas estamos no coração da cidade de Lisboa, sentimos que havia falta de espaços verdes e que existiam algumas lacunas nos espaços públicos. Por isso surgiu a possibilidade de termos este projeto hídrico inovador, que vai contribuir para a sustentabilidade do ambiente", disse Madalena Natividade, presidente da Junta de Freguesia de Arroios, ao DN, mostrando-se esperançada em que este "não seja só um modelo para a freguesia de Arroios, mas também um modelo para Lisboa e para o país".

A ideia deste mobiliário urbano hídrico partiu de Rui Vilela, o vogal responsável pelo espaço público e engenheiro de formação, e ganhou vida com a ajuda da empresa portuguesa Polinnovate, que tem a patente de um sistema, também ele inovador, de utilização de resíduos de plástico reciclado.

"Estamos a falar de dois tipos de equipamento, bancos de três lugares e os cogumelos, carinhosamente chamados assim pela sua forma", começa por dizer Rui Vilela, explicando que "a imagem dos bancos é de um paralelepípedo com uma ranhura fininha no tampo, por onde se infiltra a água, e o próprio banco é o reservatório de água". "Essa água pode ser vazada através de um equipamento próprio para um reservatório de transição e depois para os dois reservatórios que temos, de 21 mil litros cada, onde será feita a armazenagem final da água da chuva, que poderemos usar no verão, em períodos de seca ou por qualquer outra necessidade", acrescenta, detalhando ainda que a água poderá também ser utilizada "para rega ou para lavagem de ruas", revelando que cada um dos bancos tem uma capacidade de armazenagem de água que ronda os 250 litros.

Tanto os bancos, como os cogumelos, funcionarão também como outdoors, apresentando mensagens que apelam às boas práticas de poupança de água, e terão um QR Code que dará acesso a uma página onde os fregueses poderão seguir a evolução do programa Arroios Verde.

"Os cogumelos são um cilindro com cerca de 2,60 metros de altura e têm uma espécie de chapéu de chuva invertido com a inclinação certa para recolher a água da chuva, que é canalizada para o interior do cilindro. Temos aqui uma capacidade de armazenagem de cerca de 650 litros cada. Creio que, no total, conseguimos recolher 3900 litros, 2500 litros dos dez bancos e 1400 dos cogumelos", explica o vogal responsável pelos espaços públicos em Arroios. Além de darem sombra e recolherem água, os cogumelos têm uma floreira na parte superior, que se rega a si própria, e na base há um conjunto de oito floreiras que vão subindo em espiral, o que torna este mobiliário também decorativo.

Estes equipamentos vão ser inaugurados oficialmente no próximo dia 16, mas foram colocados já ontem - um dos cogumelos fica no Jardim Constantino e o outro no Jardim Henrique Lopes de Mendonça, em frente ao Liceu Camões. Quanto aos bancos, um está em frente ao Mercado 31 de Janeiro, dois no Campo dos Mártires da Pátria, dois no Jardim Henrique Lopes de Mendonça, dois do Largo do Intendente, um no Jardim Constantino e dois no Largo do Leão.

O arranque do plano Arroios Verde, que o executivo liderado por Madalena Natividade pretende levar a cabo até ao final do mandato e que este ano tem uma dotação que ronda os 100 mil euros, foi dado no início deste mês de fevereiro com a intervenção no Jardim António Feijó, junto à Igreja dos Anjos, onde estão a ser plantadas buganvílias e outras espécies de flores. Está ainda a ser feito um reforço das gramíneas, tendo em vista substituir a relva lá existente, que consome mais água. Entre a segunda quinzena de fevereiro e o início de março, serão instalados dez jardins verticais em vários pontos da freguesia, nomeadamente onde existem paredes despidas, muros de contenção ou desníveis entre ruas. "Vão ser feitas também plantações no Jardim Maria de Lurdes Pintassilgo, no Campo Mártires da Pátria, na Rua de Santa Bárbara, no Jardim Henrique Lopes de Mendonça e no Monte Agudo", adianta Rui Vilela.

A intervenção no Monte Agudo, um miradouro ocultado pela Escola Secundária Dona Luísa de Gusmão, terá início no segundo semestre do ano e irá além da plantação de novas espécies. "É uma zona de empena muito acentuada que tem sofrido muita erosão, até por causa incêndios, por isso é necessário replantar toda aquela zona. Além da requalificação verde, o projeto passará também por outras infraestruturas, como um parque canino, uma zona de prática de desporto e uma esplanada", revelou.

Do programa Arroios Verde para este ano fazem ainda parte a instalação de coberturas verdes em alguns edifícios, o lançamento de projetos-piloto de implantação de gramíneas para substituir prados exclusivamente relvados, de forma a economizar água, e a plantação de árvores nas zonas ajardinadas da freguesia, sendo que a junta já adquiriu para plantação este ano 90 árvores, o maior investimento feito nesta área, nomeadamente em termos de espécies, todas elas autóctones. "Temos um outro projeto que são 52 árvores itinerantes, já com um porte significativo, que estarão em canteiros e que poderão ser colocadas em esquinas, cruzamentos, passeios, por forma a darem sombra, com a vantagem de serem amovíveis", revela ainda o vogal da Junta de Freguesia de Arroios.

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