Arménio Carlos: "Trabalhadores chegam a um limite e vinculam-se a projetos extremistas"
Arménio Carlos, em final de mandato na Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) após oito anos na liderança da Intersindical, diz que sai "feliz, por ter trabalhado num projeto único em Portugal, da maior organização sindical do país". "Não conseguimos tudo, mas se não lutássemos não teríamos ganhado nado. Se a CGTP e os trabalhadores não tivessem lutado, não teríamos conquistado muitas coisas", afirmou esta quinta-feira, em conversa com a TSF.
Durante a entrevista, o ainda líder sindical disse que "a maior ameaça ao sindicalismo é a desregulação das condições de trabalho, da flexibilidade que existe nos contratos de trabalho, do bloqueio à contratação coletiva e da precariedade", o que, em casos limite, entende que pode levar os trabalhadores a associarem-se a projetos extremistas. "Há trabalhadores que chegam a um limite e vinculam-se a projetos extremistas. Que se acabe esta violação da lei, deixem os sindicatos entrar nas empresas. Somos pessoas de bem, queremos é defender os trabalhadores. A democracia não pode ficar à porta da empresa. Vou sair mas continuarei empenhado a defender a CGTP. Como dizia Nélson Mandela: tudo é impossível até ser feito", vincou.
Sobre o seu futuro, Arménio Carlos, 64 anos, vai voltar à Carris, onde desempenhou as funções de eletricista. "Vou voltar à Carris, isso é inquestionável. Não na segunda-feira, mas dentro de alguns dias vou voltar ao meu posto de trabalho. Ficaram agradados com o meu regresso. Transmiti-lhes algumas ideias: quando entrei para a vida sindical, eu tinha a categoria de operário-chefe, e é assim que vou voltar. Nestes dez anos, não houve qualquer atualização salarial aos trabalhadores, por isso não quero nenhum tipo de privilégio. Mas pela minha experiência e visão, vou estar nas oficinas. Não irei desempenhar nenhum cargo político e em breve irei aposentar-me, mas também não se vão ver livres de mim", revelou.
Em jeito de balanço do período em que esteve à frente da CGTP, Arménio Carlos reiterou que "todos os resultados vitoriosos, envolvendo um, 10 mil ou um milhão de trabalhadores, são um sinal de satisfação". "Quem entra na CGTP entra para servir e não para se servir. Onde estão os trabalhadores com problemas está a CGTP. Se cada trabalhador acreditar na força que tem e juntar essa força de todos os outros, isso leva-nos a uma situação em que somos imparáveis. A CGTP nunca deixou de apresentar propostas e alternativas e nunca desistiu no período da troika. Não havia uma semana em que não houvesse uma luta", recordou.
No entender do ainda líder sindicial, "hoje há condições para viver melhor e há muitas pessoas a viver mal". "Há uma degradação dos serviços públicos, que só não colapsaram no período da troika devido ao trabalho dos funcionários da administração pública", afirmou, acusando o governo de assumir "uma postura tática, com alianças com as forças mais à direita", e apelando à intervenção dos trabahadores: "Hoje, mais do que nunca, a intervenção dos trabalhadores é decisiva para a sustentabilidade da democracia, a começar pelos locais de trabalho. Esse é um tendão de Aquiles, é preciso elevar essa participação."