Área ardida em Arouca e São Pedro do Sul é quase um terço do total do país

Grande fogo de Arouca foi finalmente controlado, mas o rasto de destruição que deixou levou o primeiro-ministro a reunir com autarcas afetados
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Quase um terço da área total que ardeu em Portugal este ano foi destruída nos fogos de Arouca e São Pedro do Sul. Desde janeiro arderam 101 mil hectares de floresta no nosso país, 97 346 apenas nas primeiras duas semanas de agosto (dados do Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais), boa parte nos concelhos de Arouca (cerca de 17 mil hectares) e São Pedro do Sul (12 mil hectares). Os números dão a dimensão dos incêndios da última semana e agora o governo vai investigar o que pode ter corrido mal no combate aos fogos na zona de Viseu.

Numa altura em que o pior parece já ter passado - ontem ao final da manhã foi controlado o incêndio mais grave dos últimos dias, em São Pedro do Sul - é hora de avaliar o que aconteceu. Foi neste concelho que, já no fim de uma semana intensa, o dispositivo de combate parece ter falhado. "Estivemos aqui quatro dias sozinhos", lamenta o presidente da Câmara Municipal local, Vítor Figueiredo. E não foi por falta de pedidos de ajuda: "Tanto eu como os bombeiros de São Pedro do Sul fizemos vários pedidos de reforço de meios e durante quatro dias ficámos aqui sozinhos. Só nos diziam que não havia meios." Eram apenas 30 homens ("durante a noite podiam chegar a 50, mas durante o dia não eram mais de 30") que não conseguiram evitar que as chamas isolassem aldeias e destruíssem casas.

[destaque:Em Arouca, floresta ardida causou prejuízos na ordem dos 120 milhões de euros]

Vítor Figueiredo repetiu ontem a crítica - "não foi uma queixa", sublinha - ao primeiro-ministro, António Costa, e aos ministros da Agricultura, Capoulas Santos, e da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa. "Houve coisas que correram mal. As minhas palavras foram um grito de revolta perante a devastação que o concelho estava a ter e que sei que se fosse atacado a tempo e horas tínhamos evitado as perdas dos particulares e do próprio Estado."

Os membros do governo ouviram e no fim do encontro António Costa disse, aos jornalistas, que ia investigar o que se passou. "O presidente da Câmara de São Pedro do Sul colocou uma questão que felizmente não tinha sido levantada ainda até agora e a ministra da Administração Interna abriu um inquérito, tendo em vista o esclarecimento do que ocorreu com o início do combate ao incêndio em São Pedro do Sul."

Uma análise que para Vítor Figueiredo servirá apenas para "evitar que a situação se repita noutros locais". No seu concelho - que tem um terço da área ardida - o prejuízo vai agora começar a ser contabilizado. "Temos de pensar como o marquês de Pombal. Já enterrámos os mortos, estamos a tratar os feridos e depois é olhar para o futuro, o que pode ser feito de reconstrução." Em Arouca, cujo autarca esteve também na reunião com os membros do governo, os prejuízos já estão estimados em mais de 120 milhões. Só 117 milhões dizem respeito aos prejuízos das árvores ardidas e os custos da reflorestação.

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Os dois concelhos estavam a trabalhar num plano de valorização da área verde que partilhavam. "Somos a capital do termalismo e tínhamos um projeto para trazer esses turistas para a serra como um complemento, mas claro que esse plano agora irá ficar afetado", reconhece o autarca de São Pedro do Sul. Agora aguarda a ajuda que o Estado possa vir a dar na revitalização da zona. O encontro de ontem no quartel dos Bombeiros de Arouca com os governantes foi "uma reunião simpática", mas onde não foram avançadas muitas medidas concretas. "Agora o governo ficou de pensar no sentido de ver quais os apoios que podem ser lançados para ajudar nesta calamidade. O ministro da Agricultura disse que ia lançar alguns apoios e vamos estar atentos quando eles forem anunciados para ver se podemos concorrer", referiu Vítor Figueiredo.

O primeiro-ministro - que esteve ontem em várias zonas afetadas do Norte e Centro do país - sublinhou depois do encontro com os autarcas mais afetados pelo incêndio que começou em Arouca, no início da semana passada, que o país viveu uma "situação extraordinária" ao longo da última semana, "com grande concentração de incêndios" e "uma grande simultaneidade em pontos diversos do país", o que implicou "levar o dispositivo ao limite dos limites da sua capacidade de resposta".

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