ARCOlisboa: uma feira de arte à escala humana
Será desta que Lisboa vai ter uma verdadeira feira de arte contemporânea? Esta parece ser a pergunta do milhão de dólares à qual ninguém se atreve a responder. Na véspera da abertura das portas ao público, e quando já circulavam pelo espaço da Cordoaria Nacional algumas caras bem conhecidas, como Teixeira dos Santos ou os artistas Julião Sarmento e Joana Vasconcelos, os galeristas ouvidos pelo DN davam conta da expectativa com que encaram os próximos quatro dias, admitindo ser uma grande incógnita esta aposta na primeira edição da ARCOlisboa.
Logo à entrada, as galerias portuguesas Filomena Soares e Quadrado Azul mostram o domínio nacional (19 das 45 presentes) e a atenção fica suspensa no lado esquerdo, no chapéu de chuva, no garrafão, na pedra e na caixa, presos entre si por cordas, que formam a instalação de Francisco Tropa Aparelho Que Viaja à Mesma Velocidade da Corrente Submarina (2014). E continua depois por três fotografias de grande dimensão de Paulo Nozolino. Gustavo Carneiro, da Quadrado Azul, explica a opção por estes dois artistas portugueses, ao mesmo tempo que dirige o olhar para trabalhos de Gonçalo Sena e Ana Santos, do outro lado da parede em diagonal que divide os 70 metros que ocupa na feira.
"A ideia foi estabelecer um diálogo entre dois artistas com nome já firmado e outros que estão em crescimento." Presença habitual na ARCOmadrid há cerca de vinte anos, Gustavo Carneiro decidiu aceitar este desafio quando a organização da feira madrilena, que neste ano celebrou os 35 anos, anunciou Lisboa como destino da sua primeira aposta fora de Espanha. Apesar da confiança na organização e da anunciada presença de cerca de uma centena de colecionadores e profissionais de arte contemporânea, quando se pergunta por perspetivas de vendas encolhe os ombros e afirma: "Ainda não sei."
No mesmo sentido vai a opinião de Juana de Aizpuru, da galeria madrilena com o mesmo nome. Mas, na opinião desta pioneira da ARCOmadrid, a mãe e primeira diretora da feira espanhola, esse é o aspeto menos relevante. "Não se pretende, com esta feira, fazer o mesmo que em Madrid. Esta é completamente diferente, mais seletiva, com grandes galerias e peças muito boas", refere a galerista que integra o comité organizador da ARCOlisboa. "As feiras não têm de ser colossais e com uma agitada agenda social. Esta é uma feira à escala humana, que os colecionadores podem ver com calma, numa cidade acolhedora e amistosa", defende. Veterana nestas lides, Juana de Aizpuru não hesita em dizer que "está tudo fenomenal", deixando, no entanto, uma nota negativa: "O espaço podia estar mais limpo", refere, apontando para o chão e as paredes da Cordoaria.
O ambiente criativo e a qualidade de vida de Lisboa a par das relações de proximidade com a América do Sul são aspetos apontados como mais-valias pela galerista espanhola Maria Baró, há 20 anos radicada no Brasil, pelo francês Pietro Sparta (que apesar de habitualmente não participar na ARCOmadrid apostou em Lisboa) e pelo italiano Giorgio Persano. Confessam que não sabem o que esperar em termos de vendas, mas destacam a imagem positiva que Portugal e Lisboa em particular têm atualmente.
Sempre avessos a falarem de preços das obras com jornalistas, o mais que se soube foi que as peças mais caras estão nas galerias espanholas Leandro Navarro e José de la Mano.