Apoio de Costa a Vieira abre polémica. Rui Rio é um dos críticos
Rui Rio, presidente do PSD, disse que "não faz sentido" que o primeiro-ministro António Costa e o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, façam parte da Comissão de Honra da candidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica.
"Sempre achei mal a mistura entre a política e o futebol profissional. No passado combati isso e afastei-me. Hoje até há problemas de ordem judicial metidos nisso", afirmou o líder social-democrata, em conferência de imprensa, após a primeira reunião do Conselho Consultivo do Conselho Estratégico Nacional do PSD, em Coimbra.
"O futebol é sobretudo emoção e a política tem uma componente de emoção, porque somos todos homens e mulheres, mas acima de tudo tem de ter racionalidade e não deve ditada por motivos de ordem emocional ou por motivo de simpatia clubística. Nada disto faz sentido. O ideal é que, quando estamos em cargos políticos no Governo, nos abstenhamos", acrescentou Rui Rio que, durante o mandato como presidente da Câmara Municipal do Porto, manteve o distanciamento com os clubes da cidade, nomeadamente o FC Porto.
Em comunicado, André Silva, líder do PAN, recordou os vários casos recentes de ligações de políticos no exercício de funções ao futebol e lembrou que elas "não são admissíveis do ponto de vista ético, porque abrem a porta a que o amor ao clube se possa sobrepor ao compromisso para com o interesse público, que deverá sempre nortear qualquer titular de um cargo político no exercício do cargo".
André Silva apelou ao primeiro-ministro que "volte atrás nesta sua decisão que descredibiliza a política e afasta os cidadãos, a bem da transparência e da salvaguarda do interesse público". O líder do PAN considera que "com este gesto público de apoio inequívoco, está a dar um certificado de honra, de credibilidade e de probidade a alguém que já deu várias provas de que não é merecedor de tal certificado".
E nesse contexto avisa que António Costa "não pode ser incoerente ao ponto de, na mesma semana que publica a estratégia nacional de combate à corrupção, se colocar ao lado de um figurão do mundo do futebol envolvido em casos judiciais tão graves".
João Paulo Batalha, presidente da Associação Cívica Integridade e Transparência, afirmou que "não faz sentido" o apoio do primeiro-ministro e do presidente da Câmara de Lisboa a Luís Filipe Vieira, assumindo mesmo tratar-se de "uma bizarria".
"Já estou habituado a ver promiscuidades entre futebol e política, mas até eu estou perplexo com este caso. Isto é mau a três ou quatro níveis", assumiu, em entrevista à SIC Notícias, passando a explicar o seu ponto de vista. "António Costa e Fernando Medina são sócios do Benfica, tudo bem, têm o direito de votar, mas deviam abster-se de se envolverem na vida interna de um clube, ainda para mais numa eleição", começou por dizer.
"Há relações institucionais entre os cargos que ocupam e o clube em questão. Vieira convida pessoas para uma Comissão de Honra em função das funções que ocupam, da importância pública que têm. Vieira pediu emprestada a honra da Câmara Municipal de Lisboa e do Governo português para a sua candidatura. E eles aceitaram emprestar", justificou o presidente da Associação Cívica Integridade e Transparência.
João Paulo Batalha foi mesmo mais longe na sua apreciação lembrando os casos judiciais que envolvem Luís Filipe Vieira. "António Costa não devia participar num processo eleitoral de um clube e muito menos na defesa deste candidato, lamento muito. Luís Filipe Vieira não foi condenado por coisa alguma ainda - acho que o será, apenas, quando deixar de ser presidente do Benfica, é essa a tradição - mas, quando o primeiro-ministro vem dizer que é preciso apurar o que aconteceu no Novo Banco. Luís Filipe Vieira é um dos responsáveis pelo buraco de centenas de milhões de euros. E isso não impede o primeiro-ministro de integrar uma Comissão de Honra? Isto é bizarro. A não ser que Luís Filipe Vieira mande mais no país do que aquilo que nós julgamos", sublinhou.
A notícia do Expresso sobre este a presença de Costa e Medina na Comissão de Honra de Vieira foi também comentada por outros dois candidatos à presidência do Benfica, que se mostraram bastante críticos.
O candidato João Noronha Lopes utilizou o Twitter para garantir que "nenhuma comissão de honra, lista ou órgão consultivo" que seja apresentado pela sua lista incluirá políticos em funções executivas. "Cada um tirará as suas conclusões acerca da presença do primeiro-ministro na comissão de honra de Luís Filipe Vieira, mas aproveitamos a oportunidade para assegurar que esta candidatura será sempre pela separação escrupulosa entre a política e o futebol", frisou.
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Por sua vez, Rui Gomes da Silva escreveu um comunicado no Facebook no qual não critica diretamente António Costa e opta por dirigir-se ao seu eleitorado. "O Benfica que pretendemos a partir de outubro é um clube eclético, vitorioso e cumpridor dos seus compromissos desportivos, financeiros e sociais. A grandeza do Sport Lisboa e Benfica exige-nos a todos um compromisso extra, com a ética", referiu.
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Bruno Costa Carvalho também utilizou o Facebook para dizer que é "completamente incompreensível que um primeiro-ministro e um presidente da Câmara se metam nas eleições do Benfica", justificando que apesar de o fazerem enquanto cidadãos, "ocupam esses cargos e sabem bem que nunca conseguirão despir essa pele".
"Posso dizer que votei no PS e em António Costa, mas nunca mais o farei na minha vida. Tenho vergonha do meu voto. Tenho vergonha do meu país", frisou apelando ao regresso de um antigo primeiro-ministro: "Portugal precisa, urgentemente, do regresso de Passos Coelho à política ativa. Com ele não havia estas poucas vergonhas."
E, a terminar, rematou: "Não nos esqueçamos que Luís Filipe Vieira é arguido num caso de corrupção de um juiz desembargador que até já foi expulso das suas funções pelos seus pares. Quero ver a posição em que ficará António Costa se for deduzida uma acusação contra Luís Filipe Vieira. Este país está num caminho impensável."
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