Apoio a Juppé e rejeição a Sarkozy andam de mãos dadas nas ruas de Paris
Mais do que apoiar Alain Juppé, os parisienses do 15.º bairro, onde fica a sede d"Os Republicanos (antiga UMP) e um dos mais fortes bastiões da direita na capital francesa, parecem é não querer mesmo o regresso de Nicolas Sarkozy, que consideram já ter tido "a sua oportunidade" e ser uma figura "demasiado impulsiva" na política nacional. A decisão sobre votar ou não nas primárias, cuja primeira volta se realiza já no dia 20 deste mês, parece ainda não estar tomada, mas há uma certeza: quem ganhar esta etapa à direita, vai chegar à segunda volta das presidenciais.
Se não fosse pelo topo da Torre Eiffel que vai espreitando, ao fundo, entre os edifícios mais baixos do bairro, o 15.º arrondissement nem parece bem Paris. Ao sábado de manhã não há turistas. Há, sim, parisienses a fazer as compras da semana, a passear em família ou à espera de amigos para um café matinal. Aqui vivem quase 240 mil pessoas, a idade média é de 40 anos, o m2 custa 8200 euros e os rendimentos anuais rondam os 37 mil euros - menos do que a média parisiense, que noutros bairros chega a ser de 82 mil euros -, segundo os dados do mais recente censos da população.
Em 2012, o 15.º arrondissement representou a fronteira sudoeste da divisão política entre os parisienses, com Sarkozy a ganhar com 54,5% dos votos contra François Hollande (este acabaria por vencer a capital com um total de 55,6%). Mas não é só nas eleições nacionais que as preferências recaem à direita. Desde a reorganização administrativa da cidade de Paris, em 1982, a gestão foi sempre de direita.
"Penso que é Juppé quem vai ganhar e é nele que vou votar", diz de forma entusiasta Remy Catalan, 28 anos, que trabalha em publicidade e vive numa das ruas paralelas à sede d"Os Republicanos na Rua de Vaugirard. "É um candidato com a experiência que falta aos outros à direita. Sarkozy já teve a sua oportunidade", afirma, uma opinião partilhada por outros moradores do 15.º.
Idade, experiência e centrismo
Jean Magnier tem 79 anos, é reformado e o seu voto nestas primárias vai para Juppé, considerando que, para além da impulsividade, o ex-presidente Sarkozy "não apresenta uma visão global e estratégica da situação atual". Mesmo quem ainda não tem uma preferência definida para estas primárias, como o casal Benoît e Florence Arnaune, 46 anos e moradores neste bairro, rejeita definitivamente o voto em Sarkozy. "Somos de direita e talvez estejamos um pouco inclinados para Juppé, mas de certeza não votaremos no Sarkozy", dizem em uníssono com alguns risos à mistura.
Para além do seu programa, a idade de Juppé, 71 anos, dá garantias aos franceses de que não haverá um segundo mandato. "Do que eu mais gosto em Juppé é que, devido à sua idade, não fará um segundo mandato. E, assim, não está a pensar na reeleição. Será mais independente", argumenta Remy. Este é também um forte argumento para Arlette, funcionária pública de 62 anos. "Com ele tenho a certeza de que só se vai candidatar a um mandato e gosto do facto de ser muito aberto ao centro, porque eu própria me considero mais ao centro", refere. Para esta parisiense, Juppé é mesmo o candidato que chegará à segunda volta das presidenciais.
Mas nem a idade nem a experiência - foi primeiro-ministro de Jacques Chirac entre 1995 e 1997 e é desde 2006 presidente da Câmara de Bordéus - convencem Colette Regis, assistente social de 61 anos. "Eu conheço bem Juppé, porque venho da mesma região que ele. Sei como ele maquilha as situações. Ele não mudou, só quer passar a impressão de ser uma pessoa mais aberta", afirma a eleitora socialista, que pinta um quadro negro das primárias à direita. "Estou aterrorizada. Todos os candidatos põem em risco os avanços sociais que conquistámos em matéria de segurança social, garantias sociais ou economia. Vai aumentar o fosso entre os ricos e os pobres", considera.
Unir ou fragmentar a direita?
Atualmente, é Alain Juppé que lidera as sondagens entre os sete candidatos às primárias à direita e ao centro (ver info), depois de dois debates televisivos agitados pelas lutas fratricidas n"Os Republicanos. Para além de Sarkozy e Juppé, são ainda candidatos republicanos François Fillon, ex-primeiro-ministro de Sarkozy, Bruno Le Maire, ex-ministro da Agricultura sob a liderança de Fillon, Jean-François Copé, antigo líder do UMP, e Nathalie Kosciusko-Morizet, deputada e ex-ministra do Ambiente. É esta fragmentação e o crescimento dos conflitos no partido que faz que Arlette questione o processo. "Se olharmos só para o princípio das primárias, acho bem. Mas tenho receio do clima que se pode gerar depois do resultado. É importante que depois de todo este processo não haja consequências negativas para a unidade da direita", conclui.
Mas nem só de republicanos é feito este combate, já que as primárias à direita eram abertas a candidatos de outros partidos e a necessidade de apoios internos só era requisito para os candidatos do maior partido à direita. O único candidato externo ao partido que se apresentou foi Jean-Frédéric Poisson, presidente do Partido Democrata-Cristão, que no programa inclui a oposição ao casamento homossexual e o registo das raízes cristãs de França na Constituição. É esta a escolha de Sauvanne Barbis, profissional da comunicação de 39 anos. "Sei que é um candidato que não terá muitos votos, mas é importante mostrar que há pessoas que defendem os valores da família e que estão de acordo com o seu programa", considera a parisiense. Quanto a ir votar no dia 20, o marido vai de certeza, mas ela ainda não decidiu.
Para votar nas primárias basta estar inscrito nos cadernos eleitorais, assinar uma declaração de honra em que se afirma partilhar e promover os valores republicanos da direita e do centro e pagar um valor simbólico de dois euros. Haverá mais de dez mil mesas de voto espalhadas por França e a possibilidade de os franceses fora do país votarem pela internet. O próximo e último debate entre os sete candidatos acontece a 17 deste mês.
Em Paris
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